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É economista-chefe da Findes e gerente executiva do Observatório Findes

Vento contrário, sol no horizonte: os desafios da economia do ES no 1° trimestre

A expectativa para 2025 é de que a economia capixaba registre um leve recuo, refletindo os efeitos combinados dos juros elevados, da inflação persistente e da desaceleração do comércio global. Mas nem tudo são nuvens no horizonte

  • Marília Silva É economista-chefe da Findes e gerente executiva do Observatório Findes
Publicado em 08/07/2025 às 13h21

Nem sempre o vento sopra a favor. Depois de um 2024 marcado por crescimento, a economia capixaba começou 2025 em ritmo mais lento. No primeiro trimestre, apresentou retração de 1,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Indicador de Atividade Econômica (IAE-Findes), calculado pelo Observatório Findes.

O desempenho contrasta com a alta de 2,9% do PIB nacional no mesmo intervalo de tempo, sugerindo que a economia capixaba tem reagido de forma mais intensa às mudanças no cenário conjuntural.

A indústria e a agropecuária foram os setores que mais sentiram os ventos contrários neste início de ano. O setor industrial registrou queda de 6,8%, influenciada principalmente pela menor produção de minério, petróleo e gás natural. Na agropecuária, a colheita também enfrentou desafios, impactada pela bienalidade negativa do café arábica e pela redução nas safras de banana, pimenta-do-reino e tomate.

Apesar do crescimento de 3,2% na pecuária, impulsionada pela produção de suínos e aves, esse resultado não foi suficiente para assegurar a expansão do setor agropecuário que recuou 3,7% nos três primeiros meses do ano.

Nesse cenário, os serviços seguiram navegando, ainda que em ritmo mais cauteloso. Com um avanço tímido de 0,9%, o setor foi impulsionado por atividades menos sensíveis aos juros elevados, como as atividades imobiliárias e a administração pública, além do turismo e do comércio de itens essenciais, sustentados pela relativa solidez do mercado de trabalho.

Ainda que tenha apresentado crescimento, o desempenho do setor de serviços capixaba ficou abaixo da média nacional, de 2,1%, indicando que a atividade no Espírito Santo continua enfrentando marés não muito favoráveis.

Além do desempenho mais fraco das atividades internas, o setor externo também contribuiu para a perda de ritmo da economia capixaba. A corrente de comércio exterior do Espírito Santo, que corresponde à soma das exportações e importações, recuou 9,6%, refletindo a queda em ambas as frentes. A menor demanda por minério, petróleo e café, somada a um cenário global marcado por incertezas e tensões geopolíticas, enfraqueceu o desempenho dos setores voltados ao comércio internacional.

Ademais, a conjuntura internacional tem se mostrado uma peça-chave em um tabuleiro econômico complexo e volátil em 2025, no qual choques geopolíticos e disputas comerciais redesenham continuamente as oportunidades e os riscos para economias abertas como a capixaba. Nesse contexto, o desempenho das exportações torna-se ainda mais sensível a fatores externos, exigindo atenção às dinâmicas do comércio internacional e às decisões adotadas por parceiros estratégicos.

Data: 05/03/2020 - Atividade portuária, transporte de contêineres, exportação e importação
Atividade portuária. Crédito: Pixabay

Quanto ao mercado de trabalho, o Espírito Santo segue demonstrando resiliência, com uma taxa de desocupação consideravelmente abaixo da média nacional: 4% no Estado, frente a 7% no país. Ainda assim, tanto a economia nacional quanto a capixaba enfrentam ventos contrários. Em sua última reunião, o Copom elevou a taxa Selic para 15% ao ano, em uma resposta firme ao avanço da inflação, que continua pressionando especialmente os preços de alimentos, habitação e serviços. Na Grande Vitória, o IPCA acumulado em 12 meses subiu de 4,24% em janeiro para 5,15% em maio, afetando a confiança de consumidores e empresários.

A expectativa para 2025 é de que a economia capixaba registre um leve recuo, refletindo os efeitos combinados dos juros elevados, da inflação persistente e da desaceleração do comércio global. Mas nem tudo são nuvens no horizonte: a ampliação da produção da FPSO Maria Quitéria promete impulsionar a extração de petróleo e gás no Estado, e o retorno das operações da Samarco contribui para um cenário mais favorável ao setor extrativo.

Já o mercado de trabalho, que tem se mostrado resiliente, continua exercendo um papel relevante ao sustentar o consumo das famílias e, consequentemente, a demanda interna por bens e serviços. O cenário, no entanto, segue dinâmico e sujeito a mudanças, a cada movimento, uma nova rota poderá ser traçada.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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