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É professor de Filosofia da Ufes

Tragédias climáticas e eleições 2026: o papel de governadores e deputados estaduais

Os municípios precisam de suporte dos governos estaduais e de ações integradas e planejadas, que poderiam contar com a atuação dos deputados estaduais

  • Maurício Abdalla É professor de Filosofia da Ufes
Publicado em 21/11/2025 às 15h40

Após a COP30, uma questão permanecerá: enquanto não se criam medidas de médio e longo prazos para reverter a crise climática, o que podemos fazer para conviver com seus efeitos de maneira menos catastrófica e evitar danos à vida humana?

A época das chuvas se aproxima e, com ela, os eventos extremos que testemunhamos nos últimos anos. De novo, os efeitos do desequilíbrio climático deixarão suas marcas, só não se sabe exatamente onde.

E, mais uma vez, veremos prefeitos, governadores, vereadores e deputados em todo o país atribuindo a culpa à natureza e até a Deus, como se não tivessem nenhuma responsabilidade e como se a política não se relacionasse com as causas e consequências dos problemas ambientais.

Porto Alegre ainda tem várias regiões inundadas após cheia do rio Guaíba
Porto Alegre inundada em 2024. Crédito: Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil

Chuvas, enchentes e inundações são fenômenos naturais. Mas as tragédias humanas que eles provocam são problemas de ordem socioeconômica e política.

O que faz piorar os efeitos das chuvas é o desmatamento da mata ciliar, o assoreamento e construções às margens de rios, que reduzem a capacidade dos leitos pluviais de suportar o aumento da quantidade de água resultante do novo regime de chuvas. Não sendo contida nos rios, as águas buscam outro lugar.

Por outro lado, a falta de planejamento urbano, a gestão malfeita dos municípios e a ausência total de integração planejada e estratégica entre os municípios coordenada pelos governos estaduais tiveram como resultado cidades totalmente despreparadas para o escoamento e drenagem desse novo volume eventual de água.

O empacotamento de rios em galerias e manilhas subterrâneas não suportam mais o fluxo de água das chuvas mais intensas. E tem cidade que ainda continua empacotando rios para criação de espaço na superfície, sem estudo ou legislação que regulamente essa intervenção com vistas a um futuro com novos desafios decorrentes da crise climática.

Os danos causados pelas chuvas atingem sempre as casas mal construídas e os locais inadequados de moradia, onde vivem as pessoas mais pobres. No entanto, não há uma política estruturada, nem nos níveis municipais, nem estaduais, que vise à redefinição da ocupação urbana para fins de habitação.

O resultado é tragédia todo ano e a desculpa repetida de que a causa foi a “chuva inesperada”. Não há mais chuva inesperada! Toda cidade deve se preparar para os efeitos da tragédia climática, e os poderes estaduais devem assumir um papel coordenador dessa preparação.

A solução não está apenas nas mãos dos poderes executivos. As câmaras de vereadores e assembleias legislativas também têm importância crucial, porque são elas que podem debater soluções com a população e os governos, transformar em leis as políticas públicas necessárias, fiscalizar sua execução e obrigar os governantes a agir.

Os municípios precisam de suporte dos governos estaduais e de ações integradas e planejadas, que poderiam contar com a atuação dos deputados estaduais. Emendas parlamentares jogadas como panfletos eleitorais, sem planejamento e de forma fragmentada não resolvem nada e só desperdiçam dinheiro público. São uma espécie de complemento do fundo eleitoral, disponível apenas para quem já tem mandato.

Isso só vai mudar quando a gente entender, na hora de votar, que a função dos deputados estaduais não é de fazer vídeos para redes sociais, perseguir professores e padres, ou criar falsos problemas morais para criar pânico em seus seguidores, mas sim pensar com seriedade os problemas estruturais da sociedade e buscar soluções consistentes e efetivas para eles.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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