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É diretor do Centro Educacional Leonardo da Vinci

Para ter mais mulheres na ciência, trabalho começa na educação básica

A atenção aos aspectos socioemocionais que a escola vem dispensando aos seus alunos também pode ser relevante para que as meninas tenham cada vez mais autoconfiança, proatividade e liderança em projetos científicos

  • Mário Broetto É diretor do Centro Educacional Leonardo da Vinci
Publicado em 16/02/2022 às 14h01
Professor na sala de aula
Professor na sala de aula: meninas devem ser incentivadas ao mundo da ciência. Crédito: Freepik

O fato de existir no mês de fevereiro, desde 2015, uma data destinada ao Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), nos faz refletir sobre a importância da maior participação feminina nas carreiras das áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, mas sobretudo avaliar o que tem sido feito na educação básica para que as meninas sonhem mais com o mundo das inovações de base científica.

Afinal de contas, é nesse berço estudantil, com início já na primeira infância, que são acalentados os desejos e as tentativas de responder à clássica pergunta “o que vou ser quando crescer?”, assim como desenvolvidas as competências e habilidades que capacitarão a geração em questão a chegar aos seus futuros ambientes de realizações profissionais.

Nesse sentido, penso que o primeiro desafio da escola é desmistificar o mundo dos cientistas. Eles não são seres superdotados, fora do comum, com coeficientes de inteligência raros e muito menos lunáticos vestidos de jalecos brancos que passam o dia inteiro com pipetas e tubos de ensaio nas mãos.

As imagens passadas em alguns livros e desenhos infantis podem até impressionar alguns, mas correm o risco de afastar outras crianças do fazer científico por criarem percepções distorcidas da realidade da pesquisa.

Além disso, em pleno século XXI ainda é preciso lançar mais luz sobre o entendimento de que existem áreas mais apropriadas para homens ou mulheres ou que meninos são mais hábeis com números e raciocínio lógico do que meninas. O que existe, de fato, são vocações pessoais, sendo que todas elas precisam ser motivadas e apoiadas desde a educação infantil e os ensinos fundamental e médio para se desenvolverem e criarem valores e soluções para a sociedade.

Dessa forma, seja para as meninas, seja para os meninos, os mais recentes métodos de ensino das escolas, muito baseados em metodologias ativas que colocam mais os alunos como protagonistas da própria aprendizagem, vêm para somar à medida que estimulam o espírito criativo e inovador, trazem mais atividades experimentais e investigativas, abrem espaço para o erro enquanto parte de um processo de criação do conhecimento e desenvolvem o olhar científico baseado no levantamento de hipóteses, na testagem e na busca de soluções para problemas reais da humanidade.

Enfatizo ainda que a atenção ao trabalho dos aspectos socioemocionais que a escola vem dispensando aos seus alunos também pode ser relevante para que as meninas tenham cada vez mais autoconfiança, proatividade e liderança em projetos científicos. Sem falar nos espaços de debates acerca até mesmo da cultura de cuidados com os filhos.

Afinal de contas, se a presença no Brasil de meninas e mulheres na educação básica, no ensino superior, na iniciação científica, no mestrado e no doutorado é até maior que a masculina, o que explica a estatística conhecida de que somente uma em cada quatro cientistas seniores com cargos de liderança é mulher? Não só aparentemente, pois são fortes os indícios, essa etapa da carreira, em geral, coincide com a maternidade, quando comprovadamente a produtividade das mulheres cientistas cai e a dos homens até aumenta.

Por fim, preciso lembrar da importância das referências, as reais como a da física Marie Curie, que descobriu a radioatividade; da biomédica brasileira Jaqueline Goes de Jesus, que fez o sequenciamento genético em tempo recorde do novo coronavírus; e das professoras cientistas que anonimamente dia a dia plantam as sementes do amor pela ciência em suas alunas; e até as do campo da imaginação, como a interessante criação de bonecas caracterizadas que homenageiam mulheres cientistas.

Quem sabe assim, com diversas e boas iniciativas, que começam com a escolha do brinquedo que os pais oferecem às filhas, passam pela participação mais ativa dos homens também no cuidado com os filhos e culminam com a criação de projetos e políticas de incentivo, não melhoramos a estatística de 14% de presença feminina na Academia Brasileira de Ciências e normalizamos o fato de meninas e mulheres doarem seus inúmeros talentos intelectuais também à ciência brasileira.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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