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Quem cuida de quem cuida? A realidade de cuidadores de idosos no Brasil

Estudo mostra que esse trabalho é realizado, em 80% dos casos, por familiares. E 78% deles não têm curso de cuidador e não são da área da saúde. A jornada de trabalho é diária para oito em cada dez familiares e muitos deles não têm com quem revezar

  • Gustavo Genelhu É médico geriatra
Publicado em 27/04/2022 às 02h00

O processo de envelhecimento é contínuo e inevitável e traz inúmeras conquistas para quem sonha e vive a longevidade. Contudo, é fato que limitações vão surgir. A maior propensão a algumas doenças e fragilidades leva, muitas vezes, à necessidade de cuidados especiais. É aí que entra o papel do cuidador de idosos, um agente de fundamental importância nesse processo, que envolve assistência, qualidade de vida e saúde.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL) chama a atenção para realidades importantes acerca desse universo dos cuidadores de idosos.

Segundo o estudo, esse trabalho é realizado, em 80% dos casos, por familiares. Destes, 78% não têm curso de cuidador e não são da área da saúde. A jornada de trabalho é diária para oito em cada dez familiares e muitos deles não têm com quem revezar.

O levantamento ainda revela que 59% dos cuidadores familiares têm 50 anos ou mais e 27% têm 60 anos ou mais.

Somando-se ao fato de que trata-se de uma grande responsabilidade associada, em boa parte dos casos, a uma jornada longa e exaustiva de trabalho, o que vemos são idosos cuidando de idosos.

Fatores importantes corroboram para uma realidade que mostra pessoas que cuidam de idosos sem experiência na área, com jornada longa e que, muitas vezes, nem mesmo recebem remuneração.

O fator econômico é um dos mais determinantes, principalmente quando levamos em conta a atual conjuntura do país, marcada por desemprego, baixa remuneração e endividamentos.

A união da família é indispensável para que se crie uma rede de possibilidades, que inclui divisão de trabalho, de custos e de tempo. Cada um desses elementos é valioso para cada todos nós, mas quando compartilhamos o que temos de mais precioso, alcançamos resultados positivos que incluem menos cansaço, menos gastos e mais qualidade de vida para todos.

Não existe fórmula mágica e nem soluções miraculosas. A família precisa conversar e se entender para que o cuidado ao idoso seja providenciado da melhor forma e dentro das condições de cada um. É fundamental que todos se envolvam, seja para cotizar as despesas, seja para participar de uma rotina que envolve trabalho, doação, renúncias, mas com a certeza de que todos vão dar o seu melhor. E todos saem ganhando e cumprindo o papel de cuidador, que vai além das tarefas diárias: envolve a doação do que não se pode comprar ou terceirizar. Porque o amor é intransferível.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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