A convivência entre gerações não é uma ideia nova, mas tem ganhado novos contornos diante do envelhecimento da população brasileira. Em vez de tratar o envelhecer como um processo de afastamento, há quem proponha o contrário: aproximar. A intergeracionalidade surge como uma resposta concreta ao desafio de viver mais tempo com qualidade, criando pontes entre quem já viveu muito e quem ainda está descobrindo o mundo.
O Brasil ultrapassou os 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos, segundo o IBGE. No Espírito Santo, esse grupo representa cerca de 14% da população. Em Vitória, iniciativas públicas e privadas têm apostado em espaços de convivência que favorecem o encontro entre diferentes idades. Quando isso acontece, não há apenas troca de experiências: há construção de pertencimento.
A ideia de que idosos devem ocupar espaços separados, com atividades específicas e rotinas isoladas, começa a perder força. Almoços em família, oficinas culturais, caminhadas em praças e cafés compartilhados são exemplos simples, mas eficazes, de como a convivência pode ser transformadora. A cidade, quando pensada para todos, deixa de ser cenário e vira protagonista.
A intergeracionalidade não é um projeto social, é uma prática cotidiana. Quando um jovem ensina tecnologia a um idoso, e este compartilha histórias que não estão nos livros, ambos ganham. O tempo vivido se torna recurso, não obstáculo. E a juventude, ao se aproximar da velhice, aprende que o futuro não é um lugar distante, mas uma construção diária.
O crítico literário Charles Saint-Beuve disse que “a velhice é a única forma de viver muito tempo”. A frase, provocadora, nos convida a pensar que envelhecer não é um problema a ser resolvido, mas uma realidade a ser acolhida. E essa acolhida se fortalece quando há vínculos entre gerações, quando o tempo não separa, mas conecta.
No Espírito Santo, centros de convivência e núcleos sociais têm mostrado que é possível criar ambientes onde idosos não são espectadores, mas protagonistas. Oficinas de artesanato, rodas de conversa, saraus e jantares temáticos são algumas das atividades que têm reunido famílias inteiras. O canal de Camburi é um exemplo de local que tem se tornado ponto de encontro para quem busca mais do que paisagem: busca presença.
A intergeracionalidade não depende de grandes estruturas. Ela começa com o convite para um café, com a escuta atenta, com o tempo compartilhado. É nesse gesto que o envelhecimento ganha sentido. E é nesse encontro que a sociedade se fortalece, porque aprende a cuidar de quem já cuidou.
No Dia Internacional do Idoso, neste 1º de outubro, a reflexão não precisa ser sobre o que falta, mas sobre o que pode ser feito com o que já existe. Quando gerações se encontram, o tempo muda de ritmo. E nesse novo compasso, todos ganham.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.