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É oncologista clínica e diretora da Associação Médica do ES

Prevenção do câncer de próstata: mulheres trans importam no Novembro Azul

Para mulheres trans que fazem terapia hormonal, o risco de câncer de próstata pode ser menor, já que a testosterona é reduzida. Mas menor não significa inexistente

  • Kitia Perciano É oncologista clínica e diretora da Associação Médica do ES
Publicado em 28/11/2025 às 16h25

Em novembro, quase todo mundo pensa nos exames de próstata e nas campanhas voltadas aos homens. Mas existe um grupo que raramente aparece nessas conversas e que, muitas vezes, enfrenta discriminação mesmo quando procura atendimento: as mulheres trans. Muitas delas ainda têm próstata e, por isso, também podem desenvolver câncer de próstata. Falar sobre isso é um gesto de respeito, cuidado e inclusão.

A prevenção não se resume ao famoso exame de toque ou ao PSA. Esses exames têm, sim, um papel importante para diagnosticar precocemente a doença, mas o cuidado vai muito além. Há fatores de risco que podem ser modificados e que têm enorme impacto na saúde.

Estudos mostram que obesidade, sedentarismo e estresse prolongado aumentam as chances de desenvolver vários tipos de câncer, inclusive o de próstata. Também já se sabe que pessoas que recebem um diagnóstico de câncer e passam a fazer exercícios, controlar o peso e melhorar a alimentação podem ter até quatro vezes mais chance de cura quando comparadas às que não adotam essas medidas. São dados que reforçam a importância de olhar a saúde como um conjunto, e não apenas como um exame isolado.

O processo por trás disso é complexo, mas fácil de entender na prática. Quando consumimos mais gordura e açúcar do que o corpo precisa, começamos a acumular gordura no subcutâneo e dentro do abdômen. Esse excesso altera o funcionamento da glicose e estimula a produção de insulina.

Só que, quando as células já estão cheias de energia, essa insulina passa a circular em níveis cada vez mais altos. Com o tempo, isso não só aumenta o risco de diabetes, mas também facilita a multiplicação de células, incluindo as cancerosas. É por isso que manter um estilo de vida saudável faz diferença real na prevenção.

Para mulheres trans que fazem terapia hormonal, o risco de câncer de próstata pode ser menor, já que a testosterona é reduzida. Mas menor não significa inexistente. O acompanhamento médico continua importante, sempre com respeito à identidade de gênero.

E esse é um ponto essencial: qualquer cuidado em saúde precisa ser oferecido com dignidade, acolhimento e sem constrangimentos. O medo de sofrer preconceito ainda afasta muitas mulheres trans dos consultórios, o que pode levar a diagnósticos tardios.

Prevenção é um cuidado que começa no dia a dia, com alimentação equilibrada, exercícios, controle do estresse e atenção às taxas de glicose, colesterol e triglicerídeos. E também passa por conversar com um profissional de confiança sobre a possibilidade de realizar os exames de rotina, incluindo o PSA, que é um simples exame de sangue capaz de indicar alterações importantes. O toque retal pode ser recomendado em alguns casos, mas isso deve sempre ser decidido com tranquilidade, informação clara e consentimento.

Novembro Azul
Novembro Azul. Crédito: Foto Divulgação

É importante lembrar que o câncer de próstata se comporta de maneiras muito diferentes em cada pessoa. Existem casos de crescimento lento e outros muito agressivos, o que reforça ainda mais a importância de acompanhamento individualizado. Os tratamentos evoluíram muito e hoje são mais efetivos e menos invasivos, mas a melhor estratégia continua sendo evitar que a doença avance silenciosamente.

Para as mulheres trans, este é um convite para olhar para a própria saúde com carinho. Autocuidado também é prevenção. Buscar informação, procurar atendimento em ambientes seguros e acolhedores e não ignorar sinais do corpo são atitudes que fazem diferença. E para a sociedade como um todo, fica um lembrete simples: inclusão salva vidas. Novembro Azul também é delas. Sempre foi. E lembrar isso é um ato de respeito e humanidade.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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