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É doutorando em Administração e professor da Universidade Vila Velha

Por que brasileiro não troca seu financiamento por outro mais barato?

No dia a dia do mercado de consumo, o brasileiro é conhecido como “pechincheiro”, mas não tem o hábito de negociar suas dívidas com os bancos

  • Fabrício Nunes Azevedo É doutorando em Administração e professor da Universidade Vila Velha
Publicado em 27/06/2021 às 14h00
Portabilidade dos financiamentos bancários é muito comum, mas pouco conhecida
Portabilidade dos financiamentos bancários é muito comum, mas pouco conhecida . Crédito: Rodnae Productions/ Pexels

No dia a dia do mercado de consumo, o brasileiro é conhecido como “pechincheiro”. O hábito de buscar preços mais baratos em produtos similares é cultural e um bom negócio traz satisfação pessoal. Entretanto, segundo Relatório de Economia Bancária (2020), publicado pelo Banco Central, o brasileiro não tem o hábito de “pechinchar” suas dívidas de médio e longo prazos com os bancos.

A pandemia trouxe diversos impactos negativos para nossa economia, mas a redução da taxa Selic (taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia para títulos federais) proporcionou uma redução nas taxas de juros de financiamentos bancários, estimulando o consumo na tentativa de evitar uma recessão econômica no país.

O ponto é: por que o brasileiro não trocou seu financiamento atual por outro mais barato? Por que não fez portabilidade?

Para o cliente, controlar tudo na ponta do lápis é necessário. Só valerá a pena ingressar na portabilidade se realmente os custos finais baixarem, caso contrário não há viabilidade para a operação desejada. Quando o indivíduo realiza todas as contas e chega a um denominador indesejado, generaliza que todas as propostas futuras de portabilidade não serão interessantes.

Apesar dessa constatação e ainda segundo o relatório apresentado pelo Banco Central, de janeiro a agosto de 2020 os serviços de portabilidade bancária cresceram 553,1%, em comparação ao mesmo período em 2019, sendo 10.502 registros no primeiro semestre de 2020 comparados aos 1.608 registros no primeiro semestre de 2019.

A portabilidade dos financiamentos bancários é muito comum, mas pouco conhecida pelo público de forma geral. Quando visitamos um banco, o gerente não nos oferece a possibilidade de trazer nossas dívidas para lá, assim nem se passa em nossas cabeças a possibilidade de reduzir o custo de nossos financiamentos. Outro fator importante é a divulgação das taxas de juros. Os bancos publicam suas taxas em seus sites, mas não nas mídias sociais, logo só terá a informação quem busca um novo financiamento.

O processo pode ser muito burocrático, moroso e trabalhoso. Para realizar a portabilidade deve-se iniciar o mesmo caminho que a abertura de um novo crédito. No caso dos financiamentos imobiliários, todos os contratos e vistorias são necessários, assim como o custo de registro no cartório. O tempo médio varia de 30 a 60 dias para se finalizar uma negociação completa. Dessa forma, muitos acreditam que o tempo investido não vale o ganho futuro.

Outro determinante é o relacionamento bancário. Realizar a portabilidade do financiamento significa abrir mão, na maioria das vezes, de todo o relacionamento realizado com a instituição financeira em que hoje me encontro para começar do início com outra instituição. É o telefone pessoal do gerente, o histórico de operações bancárias, os limites de crédito disponível, a localização da agência bancária e outras minúcias que só com o tempo se obtém. Para nós, o relacionamento é muito importante, ainda mais quando estamos tratando de recursos financeiros.

Custos de cartório e bancários, na prática, são muito elevados. Seguindo o exemplo do financiamento imobiliário, a vistoria de um imóvel chega a custar, aqui no Espírito Santo, R$ 5 mil, dependendo do imóvel, além das custas do cartório de registro que variam entre R$ 3 e 5 mil, desconsiderando o ITBI que não deve ser cobrado novamente.

Além dos custos, muitas instituições ainda praticam “venda casada”: atrelam às novas negociações outros produtos bancários, tais como seguros, cartões, previdência e portabilidade do salário. Vale lembrar que essa prática é proibida segundo Código de Defesa do Consumidor, considerada na relação de consumo como crime.

Agora, se você deseja pesquisar e realizar uma portabilidade de seu financiamento, a sugestão é pesquisar as melhores opções no mercado e consultar todas as exigências antes de ir para a agência bancária. Busque em seus relacionamentos quem já obteve experiências passadas. Trocar ideias ajuda muito, dicas e indicações podem ser cruciais. Faça sem pressa; você já está em um financiamento de longo prazo, o tempo agora não será seu inimigo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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