Na última semana, um caso ganhou repercussão nas redes sociais e expôs uma realidade difícil, enfrentada não apenas em Vila Velha, mas em cidades do mundo inteiro. Um homem em situação de rua, com comportamento agressivo e indícios de transtorno mental, precisou ser internado de forma involuntária, diante do risco que representava para si e para a população.
A internação seguiu critérios legais, técnicos e, acima de tudo, humanos - viabilizada por uma ação conjunta entre as Secretarias Municipais de Saúde e Assistência Social e o Governo do Estado, responsável pela liberação da vaga hospitalar.
Esse cidadão já era acompanhado pelas equipes das secretarias de Saúde e de Assistência Social desde 2021. Mesmo após duas internações, retornou às ruas. Esse é apenas um entre tantos desafios vividos por quem atua na ponta. Por mais que exista vontade de agir com rapidez, é preciso respeitar a lei, os direitos e a dignidade de cada pessoa. A internação involuntária é sempre a última alternativa, e só ocorre quando todas as outras se mostram esgotadas.
Casos como esse mostram a complexidade do tema. Estamos lidando com pessoas que, muitas vezes, perderam tudo: a moradia, os vínculos, a autonomia e a saúde. Em Vila Velha, escolhemos enfrentar esse desafio com seriedade, empatia e compromisso com a vida.
Desde o início da nossa administração, ampliamos e fortalecemos a rede de acolhimento. Reformamos o Abrigo João Calvino e o Albergue Bom Samaritano, que hoje funcionam 24 horas por dia. Modernizamos o Centro Pop, que se tornou um ponto diário de apoio, com alimentação, banho, escuta qualificada e encaminhamentos.
Também reforçamos a presença nas ruas, todos os dias, inclusive à noite, fins de semana e feriados, por meio do Serviço de Abordagem Social e do Consultório na Rua e dos Centro de atendimento psicossocial (Caps).
Essas ações, muitas vezes invisíveis para a maioria da população, já transformaram milhares de vidas. De 2021 a 2024, realizamos cerca de 15 mil atendimentos. Mais de 4 mil pessoas conseguiram sair das ruas com o apoio da prefeitura, retornando para suas cidades de origem, reencontrando suas famílias ou reconstruindo vínculos perdidos.
Outras 316 restabeleceram os laços familiares. E, só em 2024, aproximadamente 35% das pessoas em situação de rua encaminhadas ao Sine conseguiram trabalho formal — um índice muito acima dos 15% registrados no ano anterior e quase nove vezes maior que a média nacional, de 4%.
Outro avanço importante foi a aplicação da Lei Municipal nº 6.278/19, de minha autoria enquanto vereador. A norma garante que empresas vencedoras de licitações públicas reservem 3% de suas vagas para pessoas em situação de rua. Desde que foi considerada constitucional, 461 pessoas foram contratadas, recuperando autonomia e dignidade por meio do trabalho.

Hoje, cerca de 510 pessoas em situação de rua recebem acompanhamento direto da prefeitura. Sabemos que esse número varia constantemente, porque é uma população flutuante, com diferentes histórias e que nem sempre aceita o acolhimento. Algumas recusas ocorrem por uso abusivo de substâncias, por laços formados nas ruas ou simplesmente por medo e desconfiança nas instituições.
Apesar das dificuldades, nosso compromisso permanece o mesmo: oferecer cuidado, nunca julgamento. Não existe solução mágica para um problema tão complexo. Internações forçadas em massa, como alguns defendem, não resolvem. Ao contrário: violam direitos e fracassam se não estiverem integradas a uma rede sólida de acolhimento e reinserção.
Seguiremos firmes, com responsabilidade, humanidade e trabalho sério, buscando sempre o melhor para cada pessoa e para toda a sociedade. Cuidar de quem mais precisa, com ações reais e com o coração, é o que move a nossa administração.
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