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O que se sabe até agora sobre a relação entre obesidade e Covid-19

Há vários estudos que investigam se há maior risco de agravamento dos sintomas em pacientes que estão acima do peso, mas ainda não há dados definitivos

  • João Alípio Barcellos Noé
Publicado em 08/04/2020 às 17h44
Pesquisas investigam se obesidade é fator de risco
Pesquisas investigam se obesidade é fator de risco. Crédito: Pixabay

Covid-19 é uma novidade para todos nós, inclusive para a classe médica. Tudo ainda é muito recente, e o atendimento no dia a dia aos pacientes infectados é que está trazendo evidências sobre a doença. A partir da coleta desses dados, estão sendo publicados vários estudos em todo o mundo. Um deles, por exemplo, mostra maior risco de agravamento dos sintomas em pacientes que estão acima do peso.

Um estudo publicado com dados colhidos no serviço de saúde do Reino Unido demonstra que sete em cada dez pacientes admitidos nos centros de cuidados intensivos eram obesos ou estavam acima do peso. Também foi constatado que 40% deles tinham menos de 60 anos. Estão fora do grupo de risco pela idade, mas tem risco maior de apresentar complicações pelo quadro de saúde que apresentam.

Isso acontece porque a obesidade é uma doença crônica que envolve uma inflamação contínua do corpo e que traz com ela muitas outras doenças associadas, como hipertensão, diabetes, dislipidemia, apneia do sono e inúmeros tipos de câncer. Essa inflamação crônica tem uma influência direta sobre o sistema imunológico e a explicação está no desequilíbrio entre dois hormônios produzidos pelo adipócito, as células da gordura visceral. Há um aumento da leptina (hormônio inflamatório) e diminuição da adiponectina (hormônio anti-inflamatório).

Os dados das publicações internacionais corroboram com a forma como a doença vem se apresentando em nosso Estado. Cinco dos seis primeiros pacientes que foram a óbito pela Covid-19 no Espírito Santo estavam acima do peso, tinham menos de 60 anos e apresentavam algum tipo de comorbidade. Ainda não há dados definitivos para uma afirmação clara, mas é fato que jovens obesos têm apresentado uma resposta ruim quando contaminados.

Em contrapartida, não há ainda nenhum levantamento ou estudo que demonstre maior risco de infecção ou mortalidade por Covid-19 para pacientes submetidos a cirurgia bariátrica A princípio, os pacientes operados, com exames e revisões em dia, não estão no grupo de risco e devem seguir as orientações de prevenção como qualquer outra pessoa. Pacientes que passaram por cirurgia bariátrica e nunca procuraram fazer o acompanhamento com equipe interdisciplinar, conforme preconiza a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, devem procurar fazê-lo.

Ao ser submetido a cirurgia bariátrica, o paciente deixa de ser obeso e, na grande maioria dos casos, apresenta remissão das doenças associadas com a remissão da inflamação crônica causada pelo excesso de peso. E esse é o grande objetivo desse tipo de procedimento, melhorar a saúde do paciente, proporcionando mais qualidade de vida. Em se tratando de Covid-19, portanto, o paciente submetido a cirurgia bariátrica tem na verdade menos risco que o paciente obeso.

O autor é cirurgião bariátrico

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