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O que a ciência diz sobre o uso de máscaras no combate ao novo coronavírus

Estudos propõem a combinação do uso de algum tipo de máscara com a higiene instantânea das mãos para retardar a propagação exponencial do vírus, principalmente por quem não apresenta sintomas

  • Rodrigo Pratte
Publicado em 03/04/2020 às 16h21
Atualizado em 03/04/2020 às 16h21
Homem usa máscara de proteção enquanto realiza performance em um cruzamento de ruas   em Quito, no Equador  31/03/2020 - Foto: DOLORES OCHOA/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Homem usa máscara de proteção enquanto realiza performance em um cruzamento de ruas em Quito, no Equador . Crédito: DOLORES OCHOA/AP

Sabemos que o aumento de pacientes na pandemia de Covid-19 causado pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) pode sobrecarregar os sistemas de saúde de muitos países. A lavagem das mãos e o uso de máscaras podem retardar a propagação do vírus, mas geralmente a lavagem oportuna das mãos não é possível e o número de máscaras é limitado em muitos países.

Sabe-se que a Covid-19 é transmitida, principalmente, por gotículas de saliva contaminadas que acabam sendo levadas para mucosas do corpo, como boca e nariz. As máscaras parecem ter um efeito benéfico no controle da disseminação viral, impedindo que pessoas infectadas espalhem o vírus.

Com a boca e o nariz cobertos, a possibilidade de transmissão do vírus pelos fluídos dessas pessoas é reduzida. Esse fato justifica o aconselhamento de que pessoas com os sintomas da doença utilizem máscaras ao sair em público para evitar infectas as outras. No entanto, estudos científicos têm divulgado resultados demonstrando elevadas cargas virais em indivíduos com Covid-19 que não possuem os sintomas da doença, são os chamados assintomáticos.

Uma pesquisa publicada no renomado The New England Journal of Medicine relatou a transmissão do SARS-CoV-2 por indivíduos assintomáticos fora da Ásia, na qual um empresário alemão de 33 anos apresentou alto número de cópias genômicas do vírus no escarro. No entanto, para todos os casos, a infecciosidade do vírus detectado pelos testes moleculares precisa ser comprovada por meio de métodos de cultura.

Em termos de comparação, um outro estudo, desta vez publicado no Journal of Clinical Microbiology da Sociedade Americana de Microbiologia também mostrou quantidades elevadas do novo coronavírus em indivíduos sintomáticos com a Covid-19. Porém, a quantidade de SARS-CoV-2 no trato respiratório em amostras de aspirado e swab da nasofaringe, escarro e saliva foi menor do que as encontradas no empresário alemão sem os sintomas da doença. Nesse estudo também foram demonstradas quantidades elevadas do vírus nas fezes e no plasma sanguíneo dos pacientes.

Mediante os relatos mencionados e considerando a possibilidade de indivíduos assintomáticos passarem despercebidos pela vigilância epidemiológica e pela população, um outro estudo publicou um interessante relato da disseminação do novo coronavírus em transporte coletivo.

Pesquisadores publicaram um relato na revista "Influenza e Outros Vírus Respiratórios" no qual um indivíduo que não usava máscara facial entrou em um ônibus de sua cidade com sintomas de tosse, mas não sabia que estava com a Covid-19. Naquela ocasião, muitos passageiros não usavam máscaras e a duração do trajeto foi de 2 horas e 10 minutos. Dos 39 passageiros presentes, 5 foram infectados.

Ao chegar no primeiro destino, o indivíduo comprou uma máscara facial e pegou o segundo ônibus até seu destino final. A duração foi de 50 minutos e, desta vez, nenhum dos 14 passageiros presentes apresentou febre, tosse ou outras alterações da Covid-19 durante monitoramento médico de 14 dias.

Ainda justificando o uso da proteção facial, um estudo do Journal of Medical Virology mostrou que máscaras N95, máscaras cirúrgicas ou máscaras caseiras feitas com camadas de papel e tecido podem bloquear acima de 95% a quantidade dos vírus em aerossóis. Contudo, o uso de máscaras médicas, apoiado por muitas pesquisas, foi contestado por outros estudos, possivelmente devido a julgamentos errôneos ou outras condições não avaliadas.

Desta forma, os autores do referido estudo propõem a combinação do uso de algum tipo de máscara com a higiene instantânea das mãos para retardar a propagação exponencial do vírus, fato apoiado pelas experiências de sete países na luta contra a Covid-19.

O autor é biólogo e geneticista, professor da Faculdade PIO XII

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS USADAS PARA A REDAÇÃO:

  • Chan e colaboradores. 2020. Improved molecular diagnosis of COVID-19 by the novel, highly sensitive and specific 2 COVID-19-RdRp/Hel real-time reverse transcription-polymerase chain reaction assay validated 3 in vitro and with clinical specimens. Journal of Clinical Microbiology.
  • Liu e Zhang. 2020. COVID-19: Face Masks and Human-to-human Transmission. Influenza and Other Respiratory Viruses.
  • Qing-Xia e colaboradores. 2020. Potential utilities of mask wearing and instant hand hygiene for fighting SARS-CoV-2. Journal of Medical Virology.
  • Roche e colaboradores. 2020. Transmission of 2019-nCoV Infection from an Asymptomatic Contact in Germany. The New England Journal of Medicine.

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