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É oncologista clínica da Rede Meridional

Novos medicamentos podem ser revolução no tratamento do câncer

Recentes descobertas, reveladas na maior reunião sobre oncologia do mundo, a Asco, comprovam que há esperança de  desenvolver medicamentos com cada vez menos efeitos colaterais

  • Juliana Alvarenga É oncologista clínica da Rede Meridional
Publicado em 28/07/2022 às 13h44

Os avanços da medicina são o resultado mais concreto do potencial humano de interferir positivamente na sociedade e melhorar a vida das pessoas. Recentes descobertas, reveladas na maior reunião sobre oncologia do mundo, a Asco, comprovam que há lugar para esperança de que podemos desenvolver medicamentos com cada vez menos efeitos colaterais e maior efetividade contra diversos tipos de câncer.

No evento, realizado nos Estados Unidos, pesquisadores revelaram que uma droga já usada para tratamento de um tipo de câncer de mama pode ter atuação mais ampla.

O medicamento em questão é o Trastuzumab Deruxtecan, que já era conhecido dos médicos. Ele é utilizado no tratamento de um subtipo de câncer de mama chamado de HER2, nome da proteína existente na superfície desse tipo de tumor e que sofre o ataque do medicamento. Quanto maior a concentração dessa proteína, maior é o efeito do remédio, por isso, seu uso era restrito às pacientes com alta expressão de HER2.

O que se descobriu é que esse remédio também tem ação em cânceres com baixa expressão da proteína HER2, reduzindo em 50% a chance de progressão da doença e em 36% o risco de morte. Com a novidade, espera-se que o tratamento com o medicamento, que abrangia até 15% das pacientes com câncer de mama, possa ser aplicado em cerca de 60% dos casos.

No tratamento contra o câncer de reto, os resultados de outro medicamento, o Dostarlimab, também foram surpreendentes. O remédio já é aprovado no Brasil para tratar câncer de endométrio, e não tinha sido testado contra outros tipos de tumores até então.

Tratados por seis meses com o imunoterápico Dostarlimab, aplicado via venosa a cada três semanas, todos os participantes do estudo obtiveram resposta clínica completa, isto é, o tumor desapareceu totalmente e os resultados positivos se sustentaram por um ano.

Foram doze os pacientes envolvidos no estudo, número considerado pequeno. Porém, os dados foram suficientes para o trabalho ser reconhecido como um dos mais importantes do congresso. Durante o período avaliado, nenhum dos pacientes foi submetido à quimioterapia ou radioterapia e eles também não passaram por cirurgias para a retirada do tumor.

Esses resultados indicam um avanço sem precedentes no tratamento do câncer retal. Eles apontam para grandes avanços em comparação com o tratamento padrão, composto por quimioterapia, somada à radiação e seguida de cirurgia. O tratamento convencional é extenuante, e pode acarretar em disfunções intestinal, urinária e sexual. Muitos pacientes, ao final, ainda necessitam de bolsas de colostomia, portanto, a efetividade demonstrada até aqui pelo Dostarlimab é revolucionária.

As notícias vindas da Asco reforçam o que temos visto ao longo desta pandemia e o que a humanidade já compreende há séculos. Há um caminho para o incremento da qualidade de vida da humanidade e ele passa pelo respeito à ciência. Imunoterapia e terapias-alvo, modalidades de tratamento que pareciam distantes de nós há quinze anos, estão cada vez mais próximas. Devemos continuar no caminho da pesquisa e permanecer lutando pela valorização do saber científico como ferramenta para impactar positivamente a vida das pessoas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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