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Diretora-presidente do Ideias

Mulheres são as mais prejudicadas pelas mudanças climáticas

Tema deve voltar ao debate na edição anual da Conferência das Partes, a COP 27, que acontece neste mês

  • Tereza Romero Diretora-presidente do Ideias
Publicado em 04/11/2022 às 14h00

Durante a COP 26, ocorrida em outubro de 2021 em Glasgow, na Escócia, chamou a atenção o debate em que o presidente da Conferência, Alok Sharma, afirma que o impacto das mudanças climáticas afeta de forma desproporcional as mulheres “uma vez que elas correspondem a 80% dos deslocados por desastres e mudanças climáticas em todo o mundo".

A COP (Conferência das Partes) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) é um tratado internacional que tem como principal objetivo a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa (GEE). Resultou de acordos efetivados durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro. A primeira COP ocorreu em 1995, em Berlim, e este ano está na sua 27ª edição.

Foi durante a COP 26 que pudemos conhecer melhor os impactos das mudanças climáticas sobre as mulheres e de que forma elas podem contribuir na mitigação e adaptação desses impactos. Em 2022, o tema deve voltar ao debate.

Segundo o relatório divulgado pela Women in Finance Climate Action Group, “os impactos das mudanças climáticas muitas vezes intensificam as desigualdades, vulnerabilidades, pobreza e relações de poder desiguais existentes entre homens e mulheres. Como as mulheres constituem a maior parte dos pobres do mundo e já são estruturalmente marginalizadas, elas correm o risco de serem ainda mais prejudicadas pelos efeitos das mudanças climáticas, reforçando e ampliando a disparidade entre homens e mulheres”.

Dados do Observatório de Igualdade de Gênero da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) apontam que em 2019, para cada 100 homens vivendo em lares pobres da região da América Latina, havia 112,7 mulheres nesta mesma situação. Isso evidencia a falta de autonomia econômica das mulheres que, na ausência de demais rendimentos aportados por outros membros da família, são mais propensas a estarem em situação de pobreza, o que se aprofunda em lares com maior presença de crianças.

Não é só o fato da pobreza, mas também as atividades que culturalmente são exercidas pelas mulheres em suas famílias nas regiões menos desenvolvidas. São elas as responsáveis pela interação com os recursos naturais do seu entorno, ao realizarem tarefas como o abastecimento das casas com água potável, lavagem de roupas em córregos e rios, coleta de frutos e lenha, e outras atividades. 

Mulher, mudança climática e meio ambiente
Mulheres em todo o mundo estão colaborando na entrega de iniciativas que trazem melhorias transformadoras para todo o planeta. Crédito: Freepik

Se o ecossistema estiver susceptível às mudanças climáticas, isso ameaçará sua segurança e seus meios de subsistência. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e outras agências da ONU, elas são as primeiras a sentir os efeitos da mudança climática ao percorrer distâncias cada vez maiores para encontrar o que necessitam para alimentar suas famílias.

Logo, o que podemos esperar da COP 27 que deverá acontecer em novembro de 2022?

Sabemos que o financiamento para as remediações dos efeitos ocasionados pelos gases de efeito estufa e que já provocaram mudanças no clima estará na pauta principal. Na pauta estarão ainda a criação de estratégias para a adaptação de regiões já mapeadas que deverão sentir as consequências em um curto espaço de tempo, e como a colaboração de todos - governos, setores produtivos e sociedade - irá propiciar o avanço na busca do equilíbrio do clima no planeta.

E como as mulheres podem ter um papel ativo nesta agenda? O relatório da Women in Finance Climate Action Group propõe algumas medidas, tais como: melhorar a representação equilibrada de gênero nas principais funções de tomada de decisão sobre financiamento climático; integrar gênero na política climática pública e privada; introduzir medidas específicas para melhorar o equilíbrio de gênero no acesso aos financiamentos; apoiar a participação e liderança igualitária das mulheres nas negociações climáticas da ONU; entre outras.

Segundo Tanya Steele, CEO do World Wide Fund for Nature (WWF) do Reino Unido, “é imperativo que, ao nos unirmos para tomar medidas para lidar com as mudanças climáticas, todos apoiemos uma abordagem responsável pelo gênero na gestão e alocação de financiamento climático, para garantir que atinja os mais vulneráveis e utilize a amplitude de experiência que as mulheres têm a oferecer”.

O protagonismo feminino nesta temática já se constitui em realidade. Mulheres em todo o mundo estão colaborando na entrega de iniciativas que trazem melhorias transformadoras para as pessoas, para as suas comunidades e para todo o planeta. Mas é preciso ter mais voz e fazer eco.

Toda a humanidade sofrerá com as mudanças climáticas, principalmente os mais pobres, os marginalizados e as mulheres, e o mundo tem pressa nas medidas para amenizar e frear esses impactos. Os compromissos precisam avançar e os acordos serem mais inclusivos, alcançando principalmente aqueles em que os impactos das mudanças do clima já se constituem em uma trágica realidade.

Que a cúpula da COP 27 reforce a nossa fé e a esperança em um futuro sustentável para todos os povos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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