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Mulheres na mineração: pioneirismo de Emily Hahn é realidade crescente

Nos últimos anos, as mulheres vêm rompendo em ritmo acelerado a barreira da exclusão de gênero que sempre se impôs no trabalho em minas, ferrovias, usinas de pelotização e portos

  • Wagner Xavier
Publicado em 08/03/2020 às 15h00
Atualizado em 09/03/2020 às 13h37
Emily Hahn foi jornalista e escritora, considerada uma das primeiras feministas. Crédito: Arquivo
Emily Hahn foi jornalista e escritora, considerada uma das primeiras feministas. Crédito: Arquivo

Emily Hahn era uma estudante de artes da University of Wisconsin Madison quando ouviu de um professor que “a mente feminina é incapaz de lidar com os princípios da mecânica, da alta matemática ou com qualquer fundamento do ensino da mineração”. Ela decidiu provar que ele estava errado. Mudou de curso, matriculou-se em engenharia de minas e, alguns anos mais tarde, torna-se a primeira mulher no mundo a ingressar no setor de mineração.

Estávamos em 1926. Passado quase um século, o pioneirismo de Hahn é hoje uma realidade crescente nas empresas que atuam nas áreas de extração, transporte, beneficiamento e exportação de minério de ferro. Nos últimos anos, as mulheres vêm rompendo em ritmo acelerado a barreira da exclusão de gênero que sempre se impôs no trabalho em minas, ferrovias, usinas de pelotização e portos.

Os dados mais recentes referentes à ocupação de mulheres na Vale constam no Relatório de Sustentabilidade 2018. Nele, consta a informação de que a mão-de-obra feminina na empresa em todo o país já ocupa algo em torno de 12% entre os cerca de 96 mil trabalhadores diretos e indiretos da mineradora.

Não é pouca coisa. Estamos falando de aproximadamente 11,5 mil mulheres exercendo os mais diversos cargos: da complexa manobra dos monumentais caminhões Caterpillar 797, os maiores do planeta, à gestão (chefia e supervisão) de áreas cujo contingente de empregados é exclusivamente masculino.

Mas há muito a avançar. A Vale – e o setor de mineração, como um todo – ainda é uma empresa eminentemente machista, em que pesem os reconhecidos e elogiáveis esforços institucionais de inclusão de gênero. Esse gap na relação empregatícia homem e mulher no ambiente da Vale é perceptível, de forma emblemática, na cadeia de comando da empresa.

Entre os nove membros da diretoria-executiva, há apenas uma mulher. O número cresce entre os 26 representantes (13 titulares e 14 suplentes) do Conselho de Administração, com três conselheiras titulares e uma suplente.

MOVIMENTO SINDICAL

De uma certa forma o movimento sindical reproduz essa predominância masculina. Nos 13 sindicatos que atuam na empresa em todo o país o número de mulheres dirigentes sindicais ainda é reduzido. A preocupação com a questão de gênero no sindicalismo brasileiro é recente e remonta não mais do que duas ou três décadas. Esforços têm sido feitos. Sobretudo no âmbito do Sindicato dos Ferroviários do Espírito Santo e Minas Gerais (Sindfer ES/MG).

No Acordo Coletivo de Trabalho que negociamos anualmente com a Vale, temos acumulado importantes conquistas voltadas às trabalhadoras de nossa base territorial. Sobretudo às mães. Poderia destacar, entre essas conquistas, o reembolso de despesas com mamografia digital, a transferência provisória de ambientes insalubres da empregada gestante, os intervalos especiais para amamentação, licença-maternidade de seis meses após fim do período do INSS, o reembolso creche ou babá para filhos de até seis anos e combate ao assédio moral e sexual, entre outras.

Temos avançado. Mas é preciso ir além. Ainda há um longo caminho na luta por igualdade de gênero no mundo do trabalho. Tanto em cargos de liderança quanto no chamado chão-da-fábrica. A não-discriminação no ambiente de trabalho deve conduzir o conjunto de nossas ações, assim como a luta permanente pela igualdade de salários de acordo com o cargo, não pelo gênero, a disseminação da cultura de igualdade de gênero internamente, além da promoção da educação, capacitação, empoderamento e desenvolvimento profissional de mulheres.

Neste Dia Internacional da Mulher, entendo que a equidade de gêneros precisa estar na agenda tanto do capital quanto do trabalho. Empresas e sindicatos devem apostar na inclusão para que as mulheres sejam realmente valorizadas e tenham cada vez mais espaço. Isso porque é a diversidade que traz resultados no mundo corporativo e sindical. Afinal, lugar de mulher é onde ela quiser. Inclusive – e sobretudo - na mineração. Parabéns às trabalhadoras da Vale e a todo o universo de trabalhadoras do país.

O autor é presidente do Sindicato dos Ferroviários do Espírito Santo e Minas Gerais (Sindfer ES/MG)

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