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Mobilidade urbana no Espírito Santo: está difícil manter o otimismo

Enquanto cidades apostam em tarifa zero no transporte público e em aquaviários, Estado assiste a aumento no valor de passagem, projeto com apenas quatro píers para barcas e fim de linhas exclusivas para ônibus

  • Edézio Caldeira
Publicado em 13/03/2021 às 10h00
Imagens do projeto do novo aquaviário
Imagens do projeto do novo aquaviário. Crédito: Divulgação/Governo do Estado

O primeiro mês de 2021 começou no Espírito Santo com o anúncio do aumento da tarifa do Sistema Transcol e fechou com a decisão de acabar com a Linha Verde, nome dado aos corredores de transporte público da Capital. Mas os moradores da Região Metropolitana da Grande Vitória já receberam notícias mais auspiciosas por parte do governo do Estado.

A promessa de início das obras de ampliação das faixas de fluxo da Terceira Ponte, incluindo uma ciclovia segregada que deverá coibir as recorrentes tentativas de suicídio; a conclusão até o final do ano das obras do Portal do Príncipe no entorno da Rodoviária; e a volta da operação do Sistema Aquaviário, desativado desde os anos 1990, nos enchem de esperanças para esse ano que se inicia.

Recordo-me que o famoso projeto do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) foi estudado pela Prefeitura Municipal de Vitória e apresentado ao governo do Estado, que à época entendeu que se tratava de uma solução muito cara e que seria melhor investir o recurso financeiro nos também badalados BRTs, sigla em inglês que faz menção aos corredores exclusivos para ônibus metropolitanos.

Pois bem, o resultado foi o engavetamento definitivo do projeto do VLT de Vitória, que custou R$ 2,4 milhões aos cofres da prefeitura, para não falar do esforço perdido de tantos técnicos que viram frustrar a possibilidade de implantação de uma solução inovadora que já havia sido testada com sucesso em várias cidades do mundo.

O resultado dessa decisão do governo do Estado foi o descarte do projeto do BRT, que por sua vez também foi engavetado por falta de recursos, tendo em vista que, ainda que comparativamente fosse mais barato que o VLT, exigia pelas próprias características do modal uma quantidade ainda maior de desapropriações em áreas densas, de ocupação consolidada e de alto valor imobiliário, tais como a Reta da Penha, para viabilizar a sua implantação.

Ou seja, ficamos sem o VLT e sem o BRT. Enquanto mais de 100 cidades pelo mundo afora, incluindo a cidade de Maricá, no Rio de Janeiro, já começaram a adotar a tarifa zero no transporte público, visando a reduzir o uso do automóvel e a melhorar a qualidade de vida das pessoas, nós vamos nos acostumando a pagar tarifas cada vez mais caras, recebendo uma prestação de serviço cada vez pior.

Enquanto as cidades com potencial hidroviário aumentam a utilização desse modal, nós ficamos satisfeitos com um projeto que prevê uma quantidade pífia de quatro píers (estações), incluindo o aviso prévio de que a passagem será mais cara.

E enquanto o resto do mundo investe em soluções de mobilidade que reduzem a quantidade de automóveis circulando pelas ruas, a cidade de Vitória finca como primeira ação de mobilidade urbana da atual gestão o fim de uma solução viária que priorizava o transporte público em detrimento do transporte individual. Está difícil manter o otimismo para 2021.

O autor é conselheiro estadual do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES)

* Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta

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