A ameaça de tarifas de 50% feita por Donald Trump contra o Brasil ganhou contornos menos severos após a ordem executiva assinada em 30 de julho estabelecer diversas exceções aos produtos brasileiros mais estratégicos, incluindo suco de laranja, aeronaves da Embraer, petróleo, carvão, minerais, diversos químicos e castanha-do-pará. O café, no entanto, permanece sujeito à tarifa mais alta.
A medida foi motivada por razões abertamente políticas, com Trump citando o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e transformando uma questão comercial em ingerência nos assuntos internos do país. A resposta firme de Lula, ao afirmar que o Brasil é uma nação soberana com instituições independentes, teve tom político e diplomático, e pode fortalecer sua imagem internamente.
As exceções incluem produtos estratégicos como aviões, componentes aeronáuticos, minério de ferro, alumínio, gás natural, suco de laranja, fertilizantes, petróleo e madeira. A medida levou brasileiros a adotarem ironicamente o termo "TACO" (Trump Always Chickens Out) nas redes sociais para criticar o recuo americano.
A ordem de Trump aparenta ter mais ameaça do que substância, eximindo a maioria das exportações mais significativas do Brasil para os Estados Unidos. Setores como o aeronáutico, liderado pela Embraer, e o de suco de laranja - com os EUA sendo destino de 41,7% das exportações brasileiras - ficaram protegidos das novas tarifas.
Com as exceções, os impactos econômicos previstos inicialmente podem ser significativamente menores. Em 2024, o Brasil exportou US$ 40,4 bilhões para os EUA, representando 12% do total. As estimativas originais apontavam redução do PIB em até 0,6 ponto percentual em 2026, com perdas entre US$ 13 bilhões e US$ 23 bilhões.
Os setores mais atingidos agora se concentram em produtos não isentos, como café, algumas frutas e carnes. O setor cafeeiro, tradicionalmente forte na relação comercial bilateral, enfrentará pressão adicional com a manutenção da tarifa de 50%.
Juridicamente, o Brasil mantém mecanismos para reagir através da Lei da Reciprocidade Econômica, que permite suspender concessões comerciais e investimentos. O país também pode acionar a OMC, com base na violação do GATT de 1994 pelo uso abusivo do argumento de segurança nacional.
No campo diplomático, o Brasil tem adotado postura ativa, com empresas americanas como Amazon, Coca-Cola, GM e Caterpillar se manifestando a favor do país, pressionando internamente o governo norte-americano.
O grande desafio estratégico do governo brasileiro permanece equilibrar firmeza e pragmatismo. Trump já ameaçou dobrar a tarifa caso o Brasil retalie, mantendo o impasse e transformando a crise comercial em um teste à capacidade brasileira de defender sua soberania sem prejudicar sua economia.
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