Autor(a) Convidado(a)
Sátina é psicóloga, advogada e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Estácio (@satinapm.psi). Fabiana é jornalista, doutora em Comunicação, membro da Rede Felizólogos (@fabianacfranco)

Mamãe Falei: mulheres nunca podem ser desrespeitadas, na guerra menos ainda

Sem casa, sem proteção, sem “Estado”, essas mulheres ficam à mercê de violentadores sexuais, financeiros, morais e psicológicos, para proteger suas vidas e as vidas de seus filhos

  • Sátina Pimenta e Fabiana Franco Sátina é psicóloga, advogada e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Estácio (@satinapm.psi). Fabiana é jornalista, doutora em Comunicação, membro da Rede Felizólogos (@fabianacfranco)
Publicado em 05/03/2022 às 17h05
O deputado estadual Arthur do Val (Patriota), conhecido como Mamãe Falei
O deputado estadual Arthur do Val (Patriota), conhecido como Mamãe Falei. Crédito: Reprodução Alesp

Ucrânia e Rússia estão em guerra e as consequências deste momento vão além da morte e da destruição material.

Enquanto mísseis são jogados há uma população que sofre com as consequências desse processo. E dentro da população há aqueles ainda mais vulneráveis como crianças, idosos, doentes e mulheres.

Sobre as últimas que queremos falar hoje, porém desta vez com um tom de repúdio.

deputado estadual Arthur do Val (Podemos -SP), então pré-candidato ao governo de SP, conhecido pelo canal de Youtube Mamãe Falei, viajou à Ucrânia para, segundo ele, ajudar na resistência contra a invasão Russa, em uma missão humanitária. Mas, no meio do caos da guerra, teve atitudes desumanas com as mulheres ucranianas, ressaltando uma postura machista, sexista e violenta.

Na sexta-feira (4), áudios atribuídos ao político vazaram do seu grupo de amigos e estão circulando e indignando a sociedade. Nas mensagens, Arthur do Val descreve suas impressões sobre as mulheres da Ucrânia e diz que “são fáceis porque são pobres”.

Na fila de refugiados na fronteira com a Eslováquia o parlamentar diz que só tinha "deusas", mulheres mais bonitas que as das baladas de SP, e menciona que há uma prática de turismo europeu feita por um amigo para “pegar” mulheres loiras e que ele iria providenciar as passagens para a Europa em breve.

Não é novidade que a mulher é compreendida pelo sistema patriarcal misógino como objeto de consumo. Como mulheres, lutamos contra isso, porém, e infelizmente, o deputado está certo! Nós não temos as mesmas armas e não sofremos as mesmas violências, pois quando comparamos os índices são as mulheres pobres e de minorias étnicas as que mais sofrem.

Na guerra, não seria diferente. Na verdade o cenário potencializa a violência contra a mulher por essas vulnerabilidades, elevadas a níveis inimagináveis. Sem casa, sem proteção, sem “Estado”, essas mulheres ficam à mercê de violentadores sexuais, financeiros, morais e psicológicos, para proteger suas vidas e as vidas de seus filhos.

A mídia traz a palavra “predador” para descrever o ato de violência moral e psicológica sugerida por Mamãe Falei. Sim! São violências pois, veja, a palavra predador tem como significado “aquele que destrói algo violentamente” e quando alguém utiliza da fragilidade do outro para ganho próprio, destruindo seu corpo, alma e esperança, ele é sim um violentador.

Quando essa atitude vem travestida de um ato de humanidade a situação fica ainda mais inadmissível. E pior, um violentador com máscara de pacificador, com máscara de humanitário, com máscara de benfeitor.

As mulheres se tornam alvos mais fáceis devido ao momento em que se encontram. Buscam apoio e sim, acreditam em promessas de proteção e salvação de si e de seus familiares. Sabendo disso, os distintos humanitários - contém ironia- aproveitam e tentam satisfazer seus desejos carnais utilizando-se da dor! De humanitário isso não tem nada.

Não podemos naturalizar essas atitudes ou simplesmente ignorar esta prática absurda que adoece a sociedade. Em tempo algum mulheres devem ser desrespeitadas, diante de situações como a guerra menos ainda.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.