O sociólogo e pensador italiano Domenico De Masi (1938–2023), conhecido por suas reflexões sobre o “ócio criativo” e o futuro do trabalho, costumava abordar as diferenças entre a educação dos filhos das classes abastadas e a dos filhos de trabalhadores.
Segundo ele, as famílias mais ricas, além da educação formal, preocupavam-se em oferecer aos filhos a oportunidade de aprender idiomas, conhecer outros lugares e ter acesso a bens culturais. Já as famílias menos privilegiadas focavam, sobretudo, a empregabilidade futura.
O Governo do Estado do Espírito Santo promove ano a ano uma iniciativa que rompe essa dicotomia. O Programa de Intercâmbio Estudantil, desenvolvido pela Secretaria da Educação, representa muito mais do que uma oportunidade de aperfeiçoamento em idiomas.
É, sobretudo, uma política pública de transformação humana e social, ao proporcionar que estudantes da Rede Estadual de Ensino vivenciem experiências internacionais de aprendizado. O Estado abre horizontes, reduz desigualdades e reafirma a educação pública como instrumento de emancipação.
Para a maioria desses jovens, oriundos de famílias trabalhadoras, a possibilidade de estudar em outro país parecia algo distante, quase inalcançável. O intercâmbio rompe essa barreira simbólica e faz nascer uma nova percepção de mundo: o aluno da escola pública também pode estar em qualquer lugar, competir em qualquer espaço e sonhar alto. A mensagem é clara e poderosa. Talento, dedicação e mérito são caminhos legítimos de ascensão.
Mas o impacto do programa vai muito além do domínio de um novo idioma. A experiência internacional desenvolve competências que nenhum livro, por si só, pode ensinar: autonomia, adaptabilidade, empatia cultural, capacidade de resolver problemas e de se comunicar com o diferente. Cada estudante retorna mais maduro, confiante e preparado para os desafios de um mundo globalizado.
Ao investir nesse tipo de vivência, o Estado atua na raiz das desigualdades invisíveis que marcam a sociedade brasileira. O domínio de línguas estrangeiras e o acesso a repertórios culturais ampliados sempre foram privilégios das elites. Com o programa, o Espírito Santo democratiza o capital cultural e oferece à juventude da escola pública uma experiência antes reservada a poucos. É um gesto de equidade, que nivela oportunidades e reafirma o valor do esforço e da educação como vias legítimas de transformação social.
Há também um efeito multiplicador. Quando esses jovens retornam, trazem consigo novas ideias, visões e experiências que inspiram colegas e professores. Tornam-se exemplos vivos de que a escola pública pode, sim, formar cidadãos do mundo. Em cada um deles há a semente de uma nova cultura educacional. Mais ousada, mais criativa e mais conectada com o futuro.
O Programa de Intercâmbio SEDU é, portanto, uma expressão concreta de uma gestão pública visionária, que compreende a educação não como gasto, mas como investimento no desenvolvimento humano e social. O Espírito Santo demonstra, mais uma vez, que políticas educacionais inovadoras e inclusivas são o caminho mais seguro para construir uma sociedade mais justa, preparada e confiante em seu próprio potencial.
Os depoimentos dos estudantes participantes reforçam essa visão. Em reportagem deste ano, Luís Felipe, aluno da EEEM Arnulpho Mattos, em Vitória, afirmou: “A viagem é a realização de um sonho, e só está se tornando possível graças ao Programa Intercâmbio SEDU. Ele valoriza a inclusão social e a equidade...”.
Melina Linhares, participante da edição 2023, também destacou: “Eu sempre assisti a filmes sobre outros países e não tinha dinheiro para ir. Agora, terminando o Ensino Médio, ter essa oportunidade é muito gratificante.”
Em 2025, foram selecionados 350 estudantes matriculados nos Centros de Estudo de Idiomas da Secretaria de Educação: 335 para o curso de Inglês e 15 para o de Espanhol, distribuídos entre cinco países — 100 vagas para os Estados Unidos, 90 para a Irlanda, 85 para a Inglaterra, 60 para o Canadá e 15 para a Argentina. É mais do que o dobro do número registrado em 2024.
Somando os que já foram nos últimos anos com os 500 já anunciados para 2026, são ao todo 1.170 estudantes nesse atual período de governo.
Os participantes são acolhidos por famílias anfitriãs cuidadosamente selecionadas. Além do curso intensivo de língua estrangeira o Programa oferece: emissão de passaporte, vistos e taxas consulares; passagens aéreas; transporte para locomoção no período do curso; atendimento psicopedagógico; café da manhã e jantar; seguro saúde; e uma ajuda de custo mensal de US$ 400. O que proporciona uma experiência completa e segura no exterior.
Mais do que uma viagem, cada intercâmbio é uma travessia simbólica. Um salto de fé no poder transformador da educação.
Para os alunos da escola pública é o encontro com um futuro que, agora, está mais próximo do que nunca.
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