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São professores do curso de Ciências Biológicas da Faesa

Impacto humano na Terra equivale a meteoro que extinguiu dinossauros

Consumo e descarte elevados estão levando a um colapso ambiental e a uma redução acelerada da biodiversidade, por esgotar recursos e gerar uma infinidade de agentes poluentes

  • Walter Có e Marcos Thiago G. Gomes São professores do curso de Ciências Biológicas da Faesa
Publicado em 26/05/2021 às 14h00
Descarte de lixo é um dos maiores impactos humanos sobre a biodiversidade
Descarte de lixo gera um dos maiores impactos humanos sobre a biodiversidade. Crédito: PublicDomainPictures/ Pixabay

Em outubro de 2011, a Organização das Nações Unidas anunciava que a população humana chegava a sete bilhões de habitantes. Esse número torna-se ainda mais impactante quando percebemos que, para cada ser humano ter um par de sapatos, é necessário produzir quatorze bilhões de sapatos. E, como sabemos, poucos se contentam em possuir apenas um par de sapatos, não é mesmo? Essa insatisfação em possuir pouco nos leva a outro componente importante do impacto humano sobre o planeta: o consumo.

Queremos possuir uma infinidade de itens que são criados a cada dia, estimulando cada vez mais o ciclo do consumo, da economia e também do descarte. Infelizmente vivemos em uma sociedade em que a maioria das pessoas avalia sua realização pessoal, seu status e sua importância pela quantidade do que consome e acumula.

Esse estilo de vida está levando a um colapso ambiental e a uma redução acelerada da biodiversidade, por esgotar os ambientes naturais para a obtenção de matérias-primas e também por gerar uma infinidade de agentes poluentes, seja nas etapas de produção ou no descarte dos produtos e suas embalagens.

Uma pesquisa divulgada no Fórum Econômico Mundial de Davos, em 2016, alerta que até o ano de 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. Nos ecossistemas terrestres, a realidade não é muito diferente. Nos últimos três anos, o Brasil bateu recordes de áreas desmatadas em diferentes biomas, além de lançar sobre esses ambientes toneladas de agrotóxicos. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, desde o ano 2000, foram 4.051 novos agrotóxicos liberados no país.

Em 2015, um estudo publicado na revista Science revelou que estamos extinguindo espécies a uma velocidade comparável aos últimos eventos de extinção em massa que a Terra sofreu. O último desses eventos foi provocado pelo famoso meteoro que há 65 milhões de anos levou à extinção dos dinossauros e de setenta por cento do restante da biodiversidade terrestre.

Atualmente, o impacto humano na Terra está sendo equivalente ao desse meteoro, mas com um detalhe irônico: a humanidade está na posição do meteoro, por causar a extinção de tantas espécies, mas está também na posição dos dinossauros, por ser uma das espécies que estará ameaçada de extinção, caso o ambiente se torne inóspito e hostil.

O que está em jogo agora é a nossa existência, e também a existência de milhões de outras espécies. Já descobrimos que não sobrevivemos sozinhos, pois o ar que respiramos é produzido por seres vivos, o alimento que comemos, a chuva que abastece nossos reservatórios e tantos outros aspectos vitais para nossa existência, estão associados a uma complexa cadeia de vida, que mantém os ciclos da natureza fluindo. Um meteoro não consegue mudar de direção, ele apenas segue o curso dos acontecimentos. Mas, com a humanidade é diferente.

Podemos mudar de curso e nos tornarmos os maiores aliados e promotores da biodiversidade. Podemos gerar vida em abundância, reconstruir ecossistemas e contribuir para que a Terra seja um planeta agradável e maravilhoso para se viver.

Nossa existência a longo prazo e também a de milhões de outras espécies dependem das decisões tanto pessoais quanto coletivas da humanidade. Cabe ao poder público, mas também a cada um de nós, a mudança de um olhar desenvolvimentista a todo custo para uma visão mais inteligente, na qual a natureza não se resuma apenas aos recursos naturais, mas sim a chave para o desenvolvimento e bem-estar de todos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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