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É presidente executivo da Federação do Terceiro Setor Capixaba (Fundaes)

Estamos menos solidários: é hora de promover a cultura da doação

O cenário é de necessidade urgente de ações. Pesquisa recente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), feita em 2020, concluiu que as doações em meio à pandemia, quando comparadas com o ano de 2015, diminuíram

  • Robson Melo É presidente executivo da Federação do Terceiro Setor Capixaba (Fundaes)
Publicado em 22/07/2022 às 11h58

pandemia da Covid-19 foi muito além das questões de saúde pública. Ela evidenciou também as mazelas que já sabíamos existir no Espírito Santo. O vírus indesejado funcionou como aquele realçador amarelo que usamos nos textos, só que num tom ainda mais forte, escancarando para todos as desigualdades sociais e econômicas que insistem em se manter entre nós.

O coronavírus mostrou o quanto a vulnerabilidade afeta, especialmente, os mais fracos e pobres. Entre os impactos negativos que deixou está a ampliação da linha de pobreza. Temos, hoje, mais famintos, mais miseráveis, mais pessoas morando nas ruas. A pandemia fez surgir “novos miseráveis”.

É dever de todos os capixabas reverter esse cenário de tantas ausências. Além de demandar políticas públicas para a redução da fome, a falta de moradia e para a assistência à saúde ameaçada, entre outros, precisamos agir de forma diferente nesta reconstrução social pós-pandemia.

É hora de promovermos uma cultura de doação mais estruturada, a partir do desenvolvimento de uma consciência coletiva avançada e solidária. Falo de uma mudança na cultura de doação, que atue de forma mais consistente, estratégica e constante, que vá além dos momentos críticos e midiáticos.

O cenário é de necessidade urgente de ações. Pesquisa recente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), feita em 2020, concluiu que as doações em meio à pandemia, quando comparadas com o ano de 2015, diminuíram.

O número de doadores para organizações e iniciativas sociais e ambientais, que era quase a metade da população (46%), também caiu para pouco mais de um terço (37%).

Interessante também ver que a maioria dos brasileiros (84% em 2015 e 69% em 2020) acha que “as pessoas não devem falar que fazem doação”. Outro dado curioso é que aumentou o número de brasileiros que doam para dar exemplo aos seus filhos. Em 2015 estes eram 47%, já em 2020 subiram para 72%.

No Terceiro Setor defendemos que as pessoas que se dedicam a ajudar ao próximo sejam luz na sociedade, influenciando outros no ato de doar. Desejamos que a cultura de doação seja passada de exemplo em exemplo. Até porque, segundo a pesquisa, as pessoas se sentem bem ao doar (este item cresceu de 81% em 2015 para 91% em 2020).

Com base nos dados apresentados e nas experiências das muitas filiadas da Fundaes, no mês passado, demos importante passo para a construção de uma cultura mais consistente da doação no Espírito Santo. Lançamos o Fundo de Investimento Comunitário Capixaba (FIC) para apoiar financeiramente projetos sociais, com o suporte do IDIS e da Mott Foundation, organizações que se comprometeram a dobrar o resultado da mobilização feita aqui no Estado. Os recursos doados podem vir de pessoas físicas e jurídicas, cidadãos, empresas e outras organizações e são desvinculadas de incentivos fiscais.

Com esse projeto, buscamos transformar a forma como o capixaba tradicionalmente doa. Nosso desejo é que a grande maioria mude do modo eventual para o constante e planejado. Buscamos o estilo de doação capaz de engajar a sociedade num trabalho conjunto, capaz de solucionar ou ao menos abrandar os nossos mais diversos problemas sociais.

O FIC está mostrando ser um bom exemplo dessa nova cultura. Em menos de dois meses, ele acumulou R$ 200 mil, aproximadamente, que serão aplicados em projetos sociais de desenvolvimento comunitário, educação profissional, arte, promoção de negócios sociais, empreendedorismo e outras tecnologias sociais, bem como na melhoria da gestão e governança nas entidades do Terceiro Setor.

Ainda neste mês de julho, publicaremos a chamada por projetos elegíveis, com abrangência a todo o Estado capixaba. Os recursos angariados poderão ser investidos em iniciativas com crianças, adolescentes, jovens, adultos, mulheres, idosos, melhoria ambiental local, arte, música, cultura e defesa de direitos.

Tão importante quando acudir na emergência é investir na evolução da forma como doamos para alcançar a sociotransformação, objetivo maior das nossas entidades e de qualquer política pública séria.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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