Uma eleição é uma sala de espelhos que desmonta as certezas que as vitórias eleitorais forjam na retórica das análises políticas. Em 2017, ano que precedeu a eleição presidencial, Jair Bolsonaro era carta fora do baralho; ninguém lhe dava a mínima atenção, palco ou fiava a ele qualquer chance de vitória. O Brasil menosprezava, portanto, seu futuro presidente. No ano passado, o mesmo se dizia sobre o argentino Javier Milei, um mero ex-jogador de futebol, roqueiro de cabelos desgrenhados, sem discurso e sem grupo político. Deu no que deu.
Estamos em 2023. E tornamos a correr em volta do rabo: será prefeito aquele que tiver comprovada experiência em gestão pública, boa articulação política e se apresentar todo engomadinho ao eleitor? Será mesmo? Não quer dizer que o completo oposto também tenha capacidade de vencer a eleição. O que garante a vitória, portanto? A mensagem correta!
Uma campanha eleitoral começa na cabeça do eleitor. É ele quem dita as regras do jogo. Os políticos têm, apenas, uma doce e inglória ilusão de que controlam as massas. Mas são elas que, sutilmente, manejam todo o processo: do discurso às alianças. Sua Excelência, o Eleitor tem o poder de refutar um posicionamento político, por mais distinto que seja, ou reclamar a presença de uma figura num palanque. A pena? O não voto. Com as redes sociais, essa “retaliação” ganha outros contornos e se torna uma onda. O eleitor é um micro influenciador em sua comunidade particular (familiar, de amizade, no trabalho) e, como tal, exerce poder sobre ela.
Falar corretamente para um só público pode até ser, de certa forma, fácil. Difícil é vencer uma eleição, sobretudo majoritária, cantando um cântico numa nota só. A sinfonia perfeita exige muitas notas, muitos instrumentos, cada um ocupando seu espaço e cumprindo com sua função no soneto. E um maestro, para reger toda a trupe. Imagine você que dentro dessa orquestra ainda há musicistas com gostos musicais diversos e que precisam estar plenamente alinhados para que a melodia saia perfeita no final e ainda agrade à plateia. Tarefa hercúlea!
Na sala de espelhos que é o posicionamento político, ao olhar para um lado você se enxerga mais rechonchudo, ou franzino; quem sabe com a imagem completamente distorcida?! Depende do ângulo. Alguém só se enxerga como verdadeiramente é de fronte ao espelho, mas quem está do lado, um pouco mais à direita ou à esquerda, te percebe de forma diferente, talvez enviesada. Tudo é questão de prisma... e perspectiva.
Daí a importância da mensagem correta para cada um desses espelhos, janelas para a eleição. Eleger Milei ou Bolsonaro não foi um erro. Foi um acerto para a parte do eleitorado que os escolheu e que, é claro, pode depois optar por enxergar as imagens a partir de outro ângulo. Isso aconteceu na eleição passada, quando parte dos conservadores mais céticos mudou seu voto e elegeu Lula, mesmo sem ver nele o reflexo daquilo que se queria. Todavia aquela era uma roupa que, para aquela ocasião, lhes caíra melhor.
E na eleição do ano que vem, o que vestirá melhor? Um candidato engomadinho com discurso politicamente correto ou o de motosserra em punho e que sugere o extermínio das castas?
Quer saber? Pergunte ao eleitor.
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