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É jornalista, consultor especializado em imagem, estratégia política e comportamento humano

Eleições 2024: o posicionamento político é uma sala de espelhos

Daí a importância da mensagem correta para cada um desses espelhos, janelas para a eleição. Eleger Milei ou Bolsonaro não foi um erro. Foi um acerto para a parte do eleitorado que os escolheu

  • Fernando Carreiro É jornalista, consultor especializado em imagem, estratégia política e comportamento humano
Publicado em 29/11/2023 às 11h28

Uma eleição é uma sala de espelhos que desmonta as certezas que as vitórias eleitorais forjam na retórica das análises políticas. Em 2017, ano que precedeu a eleição presidencial, Jair Bolsonaro era carta fora do baralho; ninguém lhe dava a mínima atenção, palco ou fiava a ele qualquer chance de vitória. O Brasil menosprezava, portanto, seu futuro presidente. No ano passado, o mesmo se dizia sobre o argentino Javier Milei, um mero ex-jogador de futebol, roqueiro de cabelos desgrenhados, sem discurso e sem grupo político. Deu no que deu.

Estamos em 2023. E tornamos a correr em volta do rabo: será prefeito aquele que tiver comprovada experiência em gestão pública, boa articulação política e se apresentar todo engomadinho ao eleitor? Será mesmo? Não quer dizer que o completo oposto também tenha capacidade de vencer a eleição. O que garante a vitória, portanto? A mensagem correta!

Uma campanha eleitoral começa na cabeça do eleitor. É ele quem dita as regras do jogo. Os políticos têm, apenas, uma doce e inglória ilusão de que controlam as massas. Mas são elas que, sutilmente, manejam todo o processo: do discurso às alianças. Sua Excelência, o Eleitor tem o poder de refutar um posicionamento político, por mais distinto que seja, ou reclamar a presença de uma figura num palanque. A pena? O não voto. Com as redes sociais, essa “retaliação” ganha outros contornos e se torna uma onda. O eleitor é um micro influenciador em sua comunidade particular (familiar, de amizade, no trabalho) e, como tal, exerce poder sobre ela.

Argentina
O ultraliberal Javier Milei durante a votação na Argentina. Crédito: Instagram/Javier Milei

Falar corretamente para um só público pode até ser, de certa forma, fácil. Difícil é vencer uma eleição, sobretudo majoritária, cantando um cântico numa nota só. A sinfonia perfeita exige muitas notas, muitos instrumentos, cada um ocupando seu espaço e cumprindo com sua função no soneto. E um maestro, para reger toda a trupe. Imagine você que dentro dessa orquestra ainda há musicistas com gostos musicais diversos e que precisam estar plenamente alinhados para que a melodia saia perfeita no final e ainda agrade à plateia. Tarefa hercúlea!

Na sala de espelhos que é o posicionamento político, ao olhar para um lado você se enxerga mais rechonchudo, ou franzino; quem sabe com a imagem completamente distorcida?! Depende do ângulo. Alguém só se enxerga como verdadeiramente é de fronte ao espelho, mas quem está do lado, um pouco mais à direita ou à esquerda, te percebe de forma diferente, talvez enviesada. Tudo é questão de prisma... e perspectiva.

Daí a importância da mensagem correta para cada um desses espelhos, janelas para a eleição. Eleger Milei ou Bolsonaro não foi um erro. Foi um acerto para a parte do eleitorado que os escolheu e que, é claro, pode depois optar por enxergar as imagens a partir de outro ângulo. Isso aconteceu na eleição passada, quando parte dos conservadores mais céticos mudou seu voto e elegeu Lula, mesmo sem ver nele o reflexo daquilo que se queria. Todavia aquela era uma roupa que, para aquela ocasião, lhes caíra melhor.

E na eleição do ano que vem, o que vestirá melhor? Um candidato engomadinho com discurso politicamente correto ou o de motosserra em punho e que sugere o extermínio das castas?

Quer saber? Pergunte ao eleitor.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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