Autor(a) Convidado(a)
É jornalista, consultor de crises de imagem, marketing político e inteligência de marcas. Autor de ‘Campanhas, Casos & Cases’

Eleição de 2026 será de renovação segura e de quem sabe fazer e entregar

O brasileiro é um povo que acorda todos os dias com uma força sobrenatural para enfrentar seus obstáculos e suas complicações e sabe reconhecer lideranças que abrem caminhos que ajudam a resolver suas dificuldades

  • Fernando Carreiro É jornalista, consultor de crises de imagem, marketing político e inteligência de marcas. Autor de ‘Campanhas, Casos & Cases’
Publicado em 30/08/2025 às 10h00

Líquida como ela só, a política também é cíclica, como a moda: de tempo em vez, revisita a história, recicla conceitos, pinça aquilo que hoje é vintage, mas que um dia foi tendência. E isso se deve, é bom dizer, ao desejo do eleitor. É do coração dele que emergem os perfis eleitorais, e não dos políticos Os marqueteiros, por sua vez, não inventam nada; apenas formatam mensagens e criam modelos e formas e lustram imagens.

Durante muito tempo, os políticos tradicionais ocuparam todos os espaços, foram soberanos. Não se fazia política sem o debate do problemas sociais e a ironia fina que dominava os debates — se você tem mais de 40 anos ou conhece a História, vai se lembrar das vigorosas disputas retóricas entre Paulo Maluf e Mário Covas e as de Leonel Brizola versus Carlos Lacerda. Dava gosto de ver!

A partir dos movimentos de rua de 2013, reflexos da Primavera Árabe, uma série de protestos populares ocorridos no Oriente Médio em 2010, a política tradicional abriu espaço para os “outsiders” no querer do eleitor. Decepcionado com “tudo que aí está”, nós, brasileiros, decidimos que era a hora de buscar, fora da política, novos nomes, novas ideias e uma nova forma de fazer. Não deu muito certo.

Os indivíduos que não pertenciam a um grupo determinado, o da política, decepcionaram, afinal, fazer política é uma arte, para artistas: não os da tevê ou do mundo das celebridades, mas daqueles que emulam os tempos do Império Romano, onde, apesar de toda a aristocracia, havia uma hierarquia, e seus homens sabiam muito bem o que estavam fazendo.

A partir de 2018, O Brasil, assim como boa parte do mundo, se viu ropiando em uma espiral de debates ideológicos que suprimiram as discussões mais importantes da política. Muitos dirão que são efeitos da polarização, mas ela, caro leitor e cara leitora, nunca deixou de existir. O Brasil ainda não conheceu uma terceira via. Getúlio Vargas duelava contra os udenistas e os militares enfrentavam os comunistas. Na década de 90, o PT precisou jogar o PSDB — criado de uma costela do PMDB, na centro-esquerda — para a direita a fim de ter um inimigo em polo oposto. Depois, vieram Jair Bolsonaro e Lula, e o resto da história você já conhece. Hoje, o duelo se dá entre o campo progressista e a extrema-direita. Mas esse papo de polarização é tema para um outro artigo.

Cansado de “tudo que aí está”, novamente, o brasileiro já dá pistas de seus desejos mais íntimos. As pesquisas qualitativas que tenho acompanhado são muito claras: o cidadão enxerga a polarização e o duelo figadal entre esses dois lados, mas está cansado da discussão sem efeitos práticos no dia a dia das cidades e da vida deles.

Urna eletrônica, Eleições
Urna eletrônica. Crédito: Divulgação

Esse mesmo eleitor se mostra saturado, também, dos outsiders que nada fizeram e dos representantes que aí estão. Querem nomes com experiência, novos ou não tão contemporâneos assim, mas que possam oxigenar a política. Perscrute bem o seu coração e perceba se você não deseja um cenário com novos nomes, novas ideias, novos modelos de governo e representação, com experiência suficiente para transformar a sua vida e da sua família. Esse é um desejo de renovação segura.

Isso me faz lembrar dos versos bem-traçados (e quase proféticos) de Roberto Pompeu de Toledo: “Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos/ Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez/ com outro número e outra vontade de acreditar/que daqui para diante tudo vai ser diferente”.

E aí você me pergunta: então a disputa ideológica não terá vez nesta eleição? Nos últimos sete anos, tem tido, e vai continuar tendo. Vivemos um momento de calcificação, como bem retratrou o livro ‘Biografia do Abismo’, de Felipe Nunes e Thomas Traumann. Mas o pano de fundo desse palco começa a mudar seu balanço e sua cor. O eleitor quer alguém que professe de sua fé nos costumes — mais conservador ou mais liberal —, mas que, acima de tudo, consiga resolver os problemas mais urgentes do país e, principalmente, os de suas comunidades. E eles são muitos.

O brasileiro é um povo que acorda todos os dias com uma força sobrenatural para enfrentar seus obstáculos e suas complicações e sabe reconhecer lideranças que abrem caminhos que ajudam a resolver suas dificuldades. Esse é o momento daqueles candidatos que têm lado, mas que, sobretudo, sabem fazer e entregar.

Ao citar Carlos Lacerda ainda há pouco, eu me lembrei de um de seus homéricos discursos, e com ele gostaria de encerrar este artigo: “O Brasil é um homem que foi bêbado para a cama, dormiu pouco e mal, mas precisa acordar bem cedo pela manhã. Você tem de sacudi-lo, estapeá-lo. Se ficar fazendo festinha, ele não levanta”.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.