A celebração do Dia Mundial dos Pobres coincide com a proximidade do encerramento do Ano Litúrgico, quando a Igreja nos convida a uma revisão sincera da vida. Não se trata de um ritual protocolar, mas de um exame profundo: como vivemos a fé no dia a dia? Que gestos concretos deixamos pelo caminho? O que nossa rotina e não nossos discursos diz sobre nós?
A celebração nos recorda que a fé se traduz no cuidado concreto com as pessoas e na responsabilidade mútua da vida cotidiana. Como afirma a Exortação Apostólica do Papa Leão XIV Dilexi Te, "é inegável que o primado de Deus no ensinamento de Jesus é inseparável do amor ao próximo. Este é a prova concreta da autenticidade do amor a Deus, como lembra o Apóstolo João: 'A Deus nunca ninguém o viu; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós' (1 Jo 4,12). Mesmo quando a relação com Deus não é explícita, qualquer gesto de amor ao próximo reflete a própria caridade divina: 'Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes' (Mt 25,40)". Essa perspectiva nos chama a ir além de uma religiosidade formal e a viver uma fé que transforma vidas e constrói vínculos de solidariedade.
O documento não traz apenas um apelo moral. Traz uma redefinição do centro da fé cristã. Os pobres são sacramento vivo do Evangelho. São critério e medida. Não são problema, mas caminho. Não são peso, mas presença. Eles nos revelam, com a força da vida real, o que significa seguir Jesus no meio das crises sociais, dos desafios econômicos, das desigualdades e das feridas da nossa sociedade.
E é justamente no cotidiano que esse critério se aplica. É na família que vive do salário mínimo. É na mãe que atravessa a cidade em busca de atendimento médico. É no jovem que procura emprego sem encontrar oportunidade. É no idoso que espera por uma cesta básica para completar o mês. É ali que Deus nos pergunta: “Onde você está?”
Encerrar o Ano Litúrgico, nesse contexto, torna-se um gesto de coragem espiritual. É reconhecer que a fé não se mede pela frequência das celebrações, mas pela disposição de abrir portas e partilhar o que temos. Não se mede por títulos, mas por empatia. Não se mede por ritos, mas por gestos.
Na Arquidiocese de Vitória, este Dia Mundial dos Pobres é marcado por uma série de ações voltadas às famílias vulneráveis. Em todas as paróquias, a coleta de hoje será destinada integralmente à Campanha Paz e Pão, que transforma solidariedade em alimento simples e essencial.
Mas o objetivo não é apenas arrecadar. É despertar. É recordar que a Igreja só é fiel ao Evangelho quando os pobres estão no centro, não por piedade, mas por justiça; não por hábito, mas por convicção.
Chegamos ao fim de mais um ciclo. E, diante dos rostos concretos que encontramos diariamente, surge a pergunta que não pode ser silenciada: O que fizemos pelos pobres neste ano? O que Deus espera de nós no próximo?
O Dia Mundial dos Pobres não é apenas uma data; é um espelho. Que possamos, ao olhar para ele, encontrar a firmeza, a entrega e a generosidade que Cristo nos pede e que o mundo, especialmente o mundo dos pobres, tanto necessita.
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