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É vigário episcopal para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória

Dia Mundial dos Pobres: a fé não se mede por ritos, mas por gestos

Na Arquidiocese de Vitória, este Dia Mundial dos Pobres é marcado por uma série de ações voltadas às famílias vulneráveis

  • Kelder José Brandão Figueira É vigário episcopal para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória
Publicado em 16/11/2025 às 10h00

A celebração do Dia Mundial dos Pobres coincide com a proximidade do encerramento do Ano Litúrgico, quando a Igreja nos convida a uma revisão sincera da vida. Não se trata de um ritual protocolar, mas de um exame profundo: como vivemos a fé no dia a dia? Que gestos concretos deixamos pelo caminho? O que nossa rotina e não nossos discursos diz sobre nós?

A celebração nos recorda que a fé se traduz no cuidado concreto com as pessoas e na responsabilidade mútua da vida cotidiana. Como afirma a Exortação Apostólica do Papa Leão XIV Dilexi Te, "é inegável que o primado de Deus no ensinamento de Jesus é inseparável do amor ao próximo. Este é a prova concreta da autenticidade do amor a Deus, como lembra o Apóstolo João: 'A Deus nunca ninguém o viu; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós' (1 Jo 4,12). Mesmo quando a relação com Deus não é explícita, qualquer gesto de amor ao próximo reflete a própria caridade divina: 'Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes' (Mt 25,40)". Essa perspectiva nos chama a ir além de uma religiosidade formal e a viver uma fé que transforma vidas e constrói vínculos de solidariedade.

O documento não traz apenas um apelo moral. Traz uma redefinição do centro da fé cristã. Os pobres são sacramento vivo do Evangelho. São critério e medida. Não são problema, mas caminho. Não são peso, mas presença. Eles nos revelam, com a força da vida real, o que significa seguir Jesus no meio das crises sociais, dos desafios econômicos, das desigualdades e das feridas da nossa sociedade.

E é justamente no cotidiano que esse critério se aplica. É na família que vive do salário mínimo. É na mãe que atravessa a cidade em busca de atendimento médico. É no jovem que procura emprego sem encontrar oportunidade. É no idoso que espera por uma cesta básica para completar o mês. É ali que Deus nos pergunta: “Onde você está?”

Encerrar o Ano Litúrgico, nesse contexto, torna-se um gesto de coragem espiritual. É reconhecer que a fé não se mede pela frequência das celebrações, mas pela disposição de abrir portas e partilhar o que temos. Não se mede por títulos, mas por empatia. Não se mede por ritos, mas por gestos.

Na Arquidiocese de Vitória, este Dia Mundial dos Pobres é marcado por uma série de ações voltadas às famílias vulneráveis. Em todas as paróquias, a coleta de hoje será destinada integralmente à Campanha Paz e Pão, que transforma solidariedade em alimento simples e essencial.

 Em termos absolutos, o número de pessoas pobres caiu de 67,7 milhões em 2022 para 59 milhões em 2023
Pobreza. Crédito: Ricardo Medeiros/A Gazeta

Mas o objetivo não é apenas arrecadar. É despertar. É recordar que a Igreja só é fiel ao Evangelho quando os pobres estão no centro, não por piedade, mas por justiça; não por hábito, mas por convicção.

Chegamos ao fim de mais um ciclo. E, diante dos rostos concretos que encontramos diariamente, surge a pergunta que não pode ser silenciada: O que fizemos pelos pobres neste ano? O que Deus espera de nós no próximo?

O Dia Mundial dos Pobres não é apenas uma data; é um espelho. Que possamos, ao olhar para ele, encontrar a firmeza, a entrega e a generosidade que Cristo nos pede e que o mundo, especialmente o mundo dos pobres, tanto necessita.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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