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É CEO da Findes

Cultura se constrói com clareza: o que sua organização realmente valoriza?

Ao explicitar sua cultura, a organização evita ambiguidade. Ganha coesão entre áreas, acelera a tomada de decisão, diminui ruídos e fortalece o senso de pertencimento

  • Roberto Campos de Lima É CEO da Findes
Publicado em 30/12/2025 às 10h00

O crescimento de uma organização não se mede apenas pelos resultados que persegue, mas pela forma como escolhe agir todos os dias. Por isso, além de definir metas, explicitar a cultura organizacional desejada é essencial. Um propósito inspirador, por si só, não basta: é preciso traduzi-lo em comportamentos observáveis, decisões coerentes e relações consistentes no cotidiano.

Como aponta Geert Hofstede, a cultura se revela menos nos discursos institucionais e mais nas práticas reais diárias — em como as pessoas decidem, lidam com conflitos e constroem relações. Edgar Schein reforça essa ideia ao afirmar que cultura é aquilo que a organização tolera e reforça.

É nesse contexto que o deck de cultura se torna estratégico. Ele é um instrumento de alinhamento entre o que a organização acredita, o que espera das pessoas e como escolhe operar. Torna claro o que é reconhecido, o que é inegociável e quais comportamentos não encontram espaço no ambiente corporativo.

Com novas gerações atuando no mercado, consolidou-se a compreensão de que o trabalho é valorizado não só pelo salário, mas pela experiência que oferece. Pertencer, encontrar sentido no que se faz, ter qualidade de vida e oportunidades reais de desenvolvimento são fatores decisivos. Empresas como Google e Patagonia mostram que cultura forte é diferencial competitivo na atração e retenção de talentos.

Ao explicitar sua cultura, a organização evita ambiguidade. Ganha coesão entre áreas, acelera a tomada de decisão, diminui ruídos e fortalece o senso de pertencimento. Esse alinhamento se torna ainda mais relevante em estruturas complexas, com unidades distribuídas, equipes diversas e altos níveis de autonomia.

Foi com esse olhar que, na Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), escolhemos construir nosso próprio deck de cultura: o Jeito Findes de Ser. Um processo estruturado a partir da escuta ativa dos colaboradores, que evidenciou uma transição importante: saímos de uma cultura mais hierárquica e competitiva para outra orientada à colaboração e impacto. Hoje, o sentimento de pertencimento se reflete na pesquisa GPTW: 89% do time tem orgulho de fazer parte da Findes.

Em uma organização sexagenária, com mais de 2.500 colaboradores e o propósito de transformar vidas e impulsionar negócios, optamos por um modelo que valoriza ética, inovação e entrega com propósito, deixando claro que não há espaço para desrespeito, burocracia e que jogar sozinho não é uma escolha.

O deck funciona como bússola e como ponte. Bússola, porque orienta escolhas e reforça comportamentos esperados. Ponte, porque conecta realidades distintas em torno de um pacto comum de convivência. Ao atrair novos talentos, facilita a integração, ajudando cada pessoa a compreender rapidamente “como as coisas funcionam aqui”. Seu efeito se torna mais potente à medida em que é desdobrado nas diversas unidades operacionais, respeitando especificidades locais, sem renunciar à base que sustenta nossa identidade.

A conscientização e a educação corporativa são fundamentais para transformar a cultura organizacional (Imagem: G-Stock Studio | Shutterstock)
Cultura corporativa. Crédito: Imagem: G-Stock Studio | Shutterstock

É preciso ter clareza de que um deck, por si, não assegura a cultura organizacional. Cultura precisa ser vivida, todos os dias. E isso só acontece com lideranças que dão o exemplo, promovem conversas honestas e estimulam a prática diária dos valores acordados. Como disse Peter Drucker, a liderança define o tom e sempre será, a guardiã da cultura. Por outro lado, essa é uma via de mão dupla e as equipes precisam ser reconhecer como parte ativa desse pacto e sustentá-lo no dia a dia.

Na minha trajetória como executivo, o respeito às pessoas sempre foi um valor inegociável e o alicerce de uma cultura empresarial saudável. Conversas difíceis precisam ser conduzidas com dignidade; o propósito passa, necessariamente, por cuidar de quem faz os objetivos acontecerem todos os dias; e, finalmente, resultados são importantes, mas devem ser construídos de forma coletiva. É essa cultura, vivida de forma consistente na Findes, que tem sustentado nosso crescimento e nos mantido entre as melhores empresas para se trabalhar.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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