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É diretora da Azo Cuidados

Cuidados paliativos no Brasil: falta de formação, desinformação e preconceito

Se há tanta demanda e excelentes perspectivas no mercado de trabalho, por que o cuidado com idosos, especialmente o paliativo, ainda se revela um estigma social?

  • Lívian Tononi Dalarmelina É diretora da Azo Cuidados
Publicado em 23/02/2024 às 14h53

O envelhecimento populacional traz tanto oportunidades quanto desafios para a sociedade. Se por um lado o número de cuidadores de idosos no Brasil sextuplicou nos últimos dez anos, consolidando a profissão como a que mais cresceu no país no período, por outro essa é a parcela da população que mais sofre com doenças crônicas e quadros de demências. Esse fator revela um grande desafio para o poder público no que diz respeito a cuidados paliativos para esses cidadãos.

Segundo o estudo Cuidados Paliativos no Brasil: presente e futuro, publicado em 2019, a estimativa mínima de pacientes com necessidades de cuidados paliativos em 2040 será de aproximadamente 1,2 milhão no país – em 2000 era 662 mil. O problema é que, no ano da publicação, existiam apenas 191 equipes especializadas, de acordo com a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), sendo que 55% delas estão na região Sudeste do país.

É verdade que nos últimos três anos houve um aumento de 25% no número de equipes especializadas, totalizando 240, mas isso ainda está bem longe do que é necessário. No Brasil, apenas 7% de pessoas que precisam de cuidados paliativos têm acesso a esses cuidados, colocando o país como o terceiro pior para morrer, de um total de 81 nações.

Mas se há tanta demanda e excelentes perspectivas no mercado de trabalho, por que o cuidado com idosos, especialmente o paliativo, ainda se revela um estigma social? A primeira explicação é que ainda há muitos estereótipos negativos quando falamos em cuidados paliativos. É comum associar a função a pessoas que estão nos últimos momentos de vida, ou recebendo cuidados médicos enquanto esperam a morte.

Entretanto, esse é o “cuidado de final de vida”, cuidado paliativo é outra coisa. Para começar, a palavra “paliativo” vem do latim pallium, que significa manto, proteção. Esse conceito está mais relacionado ao conjunto de intervenções terapêuticas, diagnósticas e assistenciais voltadas tanto para o paciente quanto para sua família.

Seu objetivo principal é aliviar o sofrimento através do tratamento da dor e outros problemas, sejam físicos e psíquicos, sejam sociais e espirituais. O objetivo não é atrasar nem antecipar a morte, mas garantir uma melhor qualidade de vida enquanto houver vida.

Paciente recebendo Cuidados Paliativos
Paciente recebendo Cuidados Paliativos. Crédito: Shutterstock

Os cuidados paliativos são tão necessários que o Ministério da Saúde aprovou no dia 14 de dezembro do ano passado a Política Nacional de Cuidados Paliativos, que prevê a garantia de suporte aos pacientes adultos e pediátricos do Sistema Único de Saúde que estejam com doenças graves e incuráveis, desde o diagnóstico até a fase final. A pasta pretende investir R$ 851 milhões por ano para o estabelecimento de equipes multidisciplinares.

Uma parte desses recursos será destinada para a formação profissional, uma vez que essa também é uma lacuna no serviço prestado, sendo fundamental preparar o cuidador para oferecer o acompanhamento certo para pacientes e familiares.

Além disso, a implementação do programa sinaliza um avanço também na regulamentação da função. Vale ressaltar que tendo em conta o envelhecimento populacional, essa área se revela uma excelente oportunidade de trabalho.

Tal investimento se justifica quando temos em consideração os benefícios dos cuidados paliativos, como alívio da dor e do sofrimento, conforto e bem-estar diante da doença, acesso aos recursos necessários, especialmente quando o tratamento é feito em casa, e suporte emocional e psicológico, tão necessários quanto o físico.

O poder público parece ter acordado para uma realidade: é preciso morrer com dignidade e poucas profissões garantem tanto isso quanto o cuidador paliativo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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