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É paliativista e sócia-fundadora da Paliares

Cuidados paliativos e doença terminal: o que realmente sabemos sobre isso?

Dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) mostram que muitos pacientes, especialmente os idosos, enfrentam procedimentos invasivos desnecessários devido à falta de compreensão desses conceitos

  • Gianne Sudré É paliativista e sócia-fundadora da Paliares
Publicado em 05/09/2024 às 15h54

A propagação de dados incorretos na área da saúde é um problema alarmante. Durante a pandemia de Covid-19, uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que cerca de 75% das pessoas foram expostas a informações errôneas sobre saúde, o que afetou diretamente a confiança em tratamentos e vacinas.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que 69% das informações sobre saúde compartilhadas online são imprecisas ou enganosas. Isso destaca a importância de buscar conhecimento em fontes confiáveis e de ser cauteloso ao divulgar qualquer assunto relacionado à saúde nas redes sociais.

A confusão é ainda maior quando se trata de conceitos complexos, como cuidados paliativos e doença terminal, especialmente quando esses temas ganham destaque na mídia e envolvem pessoas que estão em evidência. Luciana Dadalto, advogada e referência em bioética, reforça, inclusive, uma questão essencial sobre a questão. No parecer da especialista, “paciente terminal” é uma terminologia ultrapassada, ao estigmatizar pessoas gravemente doentes, e defende que o uso desse termo não deva ser incentivado  nem tolerado.

Cuidados paliativos e doença terminal são frequentemente confundidos. Os cuidados paliativos visam melhorar a qualidade de vida desde o diagnóstico, oferecendo suporte físico, psicológico, social e espiritual. Para se ter ideia, apenas 16% dos brasileiros compreendem corretamente esse conceito, segundo a Associação Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). Essa abordagem deve ser iniciada o mais cedo possível e pode (e deve) coexistir com tratamentos curativos.

A doença terminal, por sua vez, refere-se ao estágio final da doença, quando os maiores objetivos são o alívio dos sintomas e o conforto do paciente. Nesse estágio, os cuidados paliativos se tornam ainda mais cruciais, ajustando-se às necessidades específicas para reduzir o sofrimento e apoiar a família.

Dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) mostram que muitos pacientes, especialmente os idosos, enfrentam procedimentos invasivos desnecessários devido à falta de compreensão desses conceitos, que poderiam ser evitados com uma abordagem paliativa acertada.

O cuidado paliativo é a assistência humanizada prestada ao paciente e sua família, diante de uma doença que ameace a vida
O cuidado paliativo é a assistência humanizada prestada ao paciente e sua família, diante de uma doença que ameace a vida. Crédito: Divulgação

A disseminação de equívocos pode ter sérias consequências, como o aumento do sofrimento e decisões de tratamento inadequadas. Um estudo publicado no Journal of Palliative Medicine revelou que uma compreensão inapropriada dos cuidados paliativos pode levar a mais de 30% dos pacientes recebendo cuidados que não correspondem aos seus desejos e necessidades.

Além disso, notícias falsas frequentemente exploram emoções e medos, levando indivíduos a acreditar em informações enganosas que afetam diretamente suas vidas e escolhas de tratamento.

Portanto, é essencial que todos busquemos informações em fontes confiáveis e sejamos responsáveis ao compartilhar conteúdos sobre saúde. Além disso, é importante lembrar que a educação e a conscientização são fundamentais para garantir um entendimento mais preciso sobre conceitos como cuidados paliativos e outros temas de saúde, assegurando que todos recebam o cuidado apropriado e vivam com dignidade e conforto.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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