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É economista, mestre pela Universidade de Oxford. Professor na Fucape Business School e Consultor do Tesouro Estadual na Sefaz

Como uma guerra mundial pode afetar seus investimentos?

A guerra ainda não é global, mas o mundo claramente está mais instável. Não é momento de pânico, mas de consciência. Investidores desprevenidos fogem dos riscos óbvios, enquanto os atentos reconhecem o risco sutil de confiar excessivamente na normalidade

  • Eduardo Araújo É economista, mestre pela Universidade de Oxford. Professor na Fucape Business School e Consultor do Tesouro Estadual na Sefaz
Publicado em 24/06/2025 às 15h31

A maioria das grandes viradas da história chega sem aviso. Foi assim com guerras, crises financeiras e pandemias. O economista Nassim Taleb chamou esses acontecimentos de “cisnes negros”: eventos raros, imprevisíveis e que mudam radicalmente o rumo das coisas. Você talvez nunca veja um — mas basta um para transformar o mundo. O problema não é o improvável acontecer, mas estarmos despreparados quando ele chega.

Estaríamos agora diante de um novo “cisne negro” em formação? O Oriente Médio voltou a ferver. No sábado (21), os Estados Unidos atacaram o Irã, em resposta a bombardeios contra Israel. Embora ainda restrito ao plano regional, o envolvimento direto da maior potência militar do planeta muda tudo. China e Rússia, por enquanto, assistem em silêncio. Mas a história adverte: neutralidade dificilmente sobrevive quando o equilíbrio global é rompido.

Guerras não costumam avisar antes de começar — mas os mercados sabem disso. Reagem muito antes dos primeiros foguetes serem disparados. Em 2022, bastou o anúncio da invasão russa à Ucrânia para que o ouro disparasse, o dólar se fortalecesse e bolsas do mundo inteiro despencassem.

Estudos do NBER mostram que, em conflitos anteriores, os mercados de ações chegaram a cair até 15% apenas com a antecipação das hostilidades. O nervosismo não é irracional: guerras mudam fluxos comerciais, destroem previsões e congelam investimentos.

Nem mesmo a renda fixa está imune. Muitos investidores ainda veem os CDBs como sinônimo de segurança. Mas, diante de crises sistêmicas, a corrida por liquidez não faz distinção. O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) protege depósitos até R$ 250 mil por CPF e instituição, com teto de R$ 1 milhão por pessoa. Parece suficiente em tempos normais — mas será que protege de fato quando todo o sistema entra em colapso? Em crises extremas, CDBs de bancos médios perdem valor rapidamente e se tornam virtualmente ilíquidos.

E quanto aos ativos “refúgio” tradicionais? O ouro já atingiu valores elevados — e pode virar armadilha se o conflito perder força. Imóveis são bons para conter a inflação, mas têm liquidez muito baixa. O dólar, embora preserve poder relativo, também está sujeito a fortes oscilações em cenários extremos. Em resumo, nenhum ativo oferece proteção absoluta. Todo investimento traz riscos — inclusive o risco de subestimar perigos escondidos sob a aparência de segurança.

Bolsa de Valores, investimentos
Investimentos . Crédito: Reprodução

Diante disso, como proceder? Talvez a pergunta mais correta não seja como evitar perdas, mas como evitar catástrofes financeiras. Não existe o ativo perfeito, assim como não existe cenário perfeito. O essencial é entender que vivemos num mundo imperfeito. Diversificação geográfica é mais importante que escolha específica de ativos. Liquidez vale mais do que retornos elevados: é melhor perder 10% com liberdade do que ganhar 20% sem poder se mover. Mais vale uma corda segura num bote do que um tesouro preso num navio que afunda.

A guerra ainda não é global, mas o mundo claramente está mais instável. Não é momento de pânico, mas de consciência. Investidores desprevenidos fogem dos riscos óbvios, enquanto os atentos reconhecem o risco sutil de confiar excessivamente na normalidade. E como alerta Nassim Taleb, a normalidade é apenas uma ficção estatística — destinada a ruir no instante mais inesperado.

E se o improvável já tiver começado?

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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