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Como melhorar o acesso à água nas cidades com gestão e solidariedade

Muita água e segurança hídrica não são sinônimos. É preciso construir uma gestão com investimentos corretos, que contemplem ações preventivas para conservação da disponibilidade e qualidade da água

  • Monica Amorim
Publicado em 03/11/2019 às 04h00
Atualizado em 03/11/2019 às 04h00
Rio Cricaré, no Norte do Estado. Crédito: Prefeitura de São Mateus / Divulgação
Rio Cricaré, no Norte do Estado. Crédito: Prefeitura de São Mateus / Divulgação

Nós aprendemos na escola que o Brasil é um país rico em água. De fato, o recurso hídrico é abundante, temos a maior quantidade de água doce do mundo: 12%. Mas a distribuição espacial dessa água é desigual. Regiões populosas costumam ter menos água enquanto as maiores disponibilidades estão em áreas menos habitadas. E aí está o desafio. De acordo com a ONU, o acesso à água é um direito de todas as pessoas, pois garante saúde e qualidade de vida.

>Estudo prevê crescimento de 24% no consumo de água até 2030

Na década de 1970 metade da população brasileira vivia nas cidades. Hoje passa de 80%. Paralelo à segurança hídrica para abastecimento de tantas pessoas, é preciso garantir água para os ecossistemas, a produção de alimentos, as atividades industriais, a diluição de efluentes, o lazer e a recreação e até mesmo para a paisagem.

Será que ter água em abundância garante a segurança hídrica? Uma boa qualidade de vida? O desenvolvimento?

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), que este ano assumiu a gestão da água no país, 46% das cidades brasileiras têm vulnerabilidades no acesso à água, a inundações e secas, eventos extremos que atingem mais intensamente áreas degradadas e populações carentes. Pelo mundo, países africanos dispõem de reservas hídricas razoáveis, mas vivem um enorme caos social e econômico. Além dos problemas já constatados, a ONU prevê um aumento de 50% na demanda de água no planeta em até 30 anos.

Muita água e segurança hídrica não são sinônimos. É preciso construir uma gestão com investimentos corretos, que contemplem ações preventivas para conservação da disponibilidade e qualidade da água, bem como medidas estruturais para reserva hídrica e revitalização das bacias hidrográficas, priorizando recuperação florestal, tratamento de efluentes, condições adequadas de saneamento, uso racional na irrigação, além de educação ambiental.

O Espírito Santo avançou muito nesta temática em 2019, entregando Planos de Recursos Hídricos a cinco Bacias Hidrográficas (Itaúnas, São Mateus, Novo, Itapemirim e Itabapoana). Desde março, governos, empresas, investidores, pesquisadores, estudantes, entre outros, têm disponíveis materiais completos e atualizados sobre a disponibilidade de água nas regiões, as demandas de uso e as previsões para os próximos 20 anos.

Capitaneados pela Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), os Planos de Bacia desenvolvidos pelo governo do Estado são a base de planejamento para intervenções, empreendimentos e até melhorias nas bacias hidrográficas. Os estudos sugerem ações e metas a serem cumpridas para a preservação do recurso hídrico. Elas foram elaboradas com a participação da sociedade e precisam dela para se tornarem realidade.

Necessitamos de mais capital humano, comitês de Bacias Hidrográficas, entes do Sistema de Gestão de Recursos Hídricos, pessoas qualificadas, conscientes e sensibilizadas, em todos os âmbitos da população, para construirmos uma gestão de recursos hídricos com resultados para a população, visando desenvolvimento social e econômico sustentável e a preservação do meio ambiente.

Difundir a solidariedade na distribuição da água é crucial para garantir segurança hídrica, revisando padrões de uso com infraestrutura, responsabilidade política e decisões tomadas por pessoas preparadas e capacitadas para lidar com essa questão fundamental para a sobrevivência humana.

Segurança hídrica é ter um pouco de água pra todo mundo o tempo todo. Esse é o grande objetivo de se fazer gestão. É responsabilidade de toda sociedade e de cada cidadão.

A autora é doutora em Recursos Hídricos e Gerente de Planejamento e Pesquisa da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh)

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