As bicicletas elétricas, ou e-bikes, já são uma realidade marcante na região metropolitana capixaba. É comum vê-las nas calçadas, nas ruas, na ciclovia, na contramão, em vagas de estacionamento… estão por toda parte e, por isso, vêm provocando discussões e atritos na convivência urbana.
Em debates nas redes sociais, muitos as apontam como vilãs. Mas o incômodo não está apenas nelas: o problema maior é como nossas cidades foram planejadas, sempre priorizando automóveis e relegando pedestres, ciclistas e transportes alternativos a espaços menores.
As e-bikes surgem como alternativa prática e sustentável. Com motor auxiliar e pedal assistido, ampliam distâncias, reduzem esforço físico e evitam desconfortos em climas quentes, e, ao mesmo tempo, ajudam a diminuir a emissão de poluentes. Tornam-se, assim, um modal acessível e moderno.
O desafio é que, em cidades dominadas por carros, qualquer novo veículo sofre para encontrar espaço. Automóveis transportam uma ou duas pessoas e ocupam cerca de 12m², enquanto uma bicicleta, pouco mais de 1m². Se parte desses deslocamentos fosse substituída por meios compactos, muitas avenidas perderiam sentido e poderiam ser devolvidas às pessoas.
Urbanistas como Jane Jacobs já apontavam que cidades feitas para carros se tornam hostis à vida urbana. Mais faixas não resolvem congestionamentos, apenas estimulam ainda mais o uso do automóvel. O resultado é de calçadas estreitas, ciclovias desconexas e pedestres em risco.
Não se trata de demonizar as e-bikes, mas de reconhecer a carência de infraestrutura. Ciclovias seguras e conectadas, calçadas acessíveis e sinalização adequada transformariam a presença das bicicletas elétricas em solução — e não em problema.
A baixa adesão ao ciclismo no Brasil decorre da falta de estrutura e da insegurança. Muitos trajetos hoje feitos de carro poderiam ser realizados de bicicleta ou a pé se houvesse condições adequadas de circulação.
Apesar de motorizada, a e-bike não deve reproduzir a lógica violenta do carro. O bom senso é essencial: respeitar pedestres, não andar na contramão, sinalizar movimentos e reduzir a velocidade em áreas de grande fluxo. Mobilidade urbana é coletiva, não individual.
Repensar o espaço urbano significa reconhecer que cada metro quadrado é valioso. Mais bicicletas nas ruas representam menos poluição, menos ruído, mais segurança e vitalidade econômica para o comércio de rua. Trata-se de transformar nossas cidades em lugares mais humanos e sustentáveis.
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O apelo é simples: e-bikes não são inimigas, mas parte de uma transição necessária. Cabe ao poder público investir em infraestrutura e à população adotar uma postura de respeito. O futuro das cidades depende dessa mudança de mentalidade.
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