Autor(a) Convidado(a)
É economista, consultor do Tesouro Estadual. Mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford

Banco Master: como blindar seu dinheiro do risco de quebra de um banco?

Nas últimas semanas o banco teve o rating rebaixado, atrasou algumas liquidações e passou a recomprar papéis com deságio — sinais que levaram muita gente a perguntar: “E se o banco quebrar?”

  • Eduardo Araújo É economista, consultor do Tesouro Estadual. Mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford
Publicado em 23/04/2025 às 15h57

A maré de juros altos no Brasil empurrou milhares de investidores para CDBs que pagavam rendimentos bem acima do CDI. O caso mais ruidoso é o do Banco Master: segundo relatório da Austin Rating, mais de 100 mil pessoas aplicaram perto de R$ 9 bilhões, seduzidas por cupons que beiravam o dobro da Selic.

Nas últimas semanas o banco teve o rating rebaixado, atrasou algumas liquidações e passou a recomprar papéis com deságio — sinais que levaram muita gente a perguntar: “E se o banco quebrar?”

Quando o Banco Central decreta intervenção ou liquidação, entra em cena o Fundo Garantidor de Créditos (FGC). O fundo reembolsa até R$ 250 mil por CPF e por conglomerado, somando principal e juros até a data-evento, e respeita um teto global de R$ 1 milhão a cada quatro anos. O que excede esses limites vira crédito na massa falida e pode levar anos a voltar. Quem está protegido tende a aguardar o ressarcimento sem grandes sobressaltos, mas quem está acima do limite pode amargar prejuízo.

E o que fazer quando esse saldo passa do limite? Três caminhos surgem na prática. A saída mais direta é vender o título no ato: a corretora encontra comprador, mas o desconto pode chegar a 15%. Outra opção é a venda trabalhada: a mesa de renda fixa garimpa lances de investidores institucionais; o corte costuma ficar entre 5% e 10% e o dinheiro pode cair no mesmo dia.

Por fim existe a transferência não onerosa, geralmente por doação, para alguém de confiança — filho, cônjuge ou sócio. O CDB muda de CPF, cada titular ganha nova cobertura e, se a doação ocorrer entre cônjuges em comunhão de bens, não há imposto; nas demais combinações paga-se ITCMD e o processo pode levar até 17 dias úteis.

Para quem aceita um pouco de malabarismo financeiro, há a proteção caseira. Primeiro vende-se o excedente, assume-se o deságio e, com o dinheiro fresco, recompra-se o mesmo CDB no CPF de um familiar ainda sem exposição. Se o banco quebrar, a perda real fica restrita ao desconto inicial, pois o novo saldo está coberto pelo FGC. Se o banco atravessar a turbulência e pagar no vencimento, a taxa mais alta contratada no segundo CPF devolve quase toda a diferença, preservando o retorno planejado.

Negociação de dívidas com Bancos
 Bancos e clientes. Crédito: Reprodução

Para quem ainda tem espaço no teto de R$ 250 mil, o estresse também pode virar oportunidade. Os papéis do Master agora pagam perto de 20% ao ano — quase seis pontos acima do CDI. Se o banco for vendido ou simplesmente atravessar a crise, o investidor carrega um rendimento raro; se a liquidação vier, o FGC devolve o principal. Vale lembrar, porém, que o FGC se financia com contribuições dos próprios bancos e, numa crise sistêmica, o reembolso pode atrasar.

Investir em títulos de bancos continua sendo uma opção atrativa em tempos de juros altos. Mas o ganho só vale a pena quando se respeita o limite de proteção do FGC. Antes de aplicar, some tudo o que já tem, avalie a saúde do emissor e guarde uma reserva em outro lugar. Decida de antemão qual porta de saída usará se o vento virar. Diversificar primeiro e perseguir boas taxas depois custa pouco — e compra a melhor proteção: dormir tranquilo mesmo se o banco balançar.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Investimentos Falência Bancos

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.