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É economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do ES (Corecon-ES)

Auxílio emergencial: a classe média ou os pobres?

A classe média, com a sua peculiar arrogância, prefere defender o teto de gasto a abrir mão para os menos favorecidos

  • Vaner Corrêa É economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do ES (Corecon-ES)
Publicado em 04/11/2021 às 02h00

A debandada que aconteceu dias atrás no Ministério da Economia evidencia um conflito que permeia, há muito, o nosso tecido social: a classe média, com a sua peculiar arrogância, prefere muito mais defender o teto de gasto a abrir mão para os menos favorecidos originados pelo nosso modo de produção capitalista.

A saída dos dois técnicos do Tesouro também evidencia que a nossa academia que, outrora formava grandes economistas-políticos, agora tem formado tecnocratas com visões totalmente descoladas da terrível realidade brasileira. Não é à toa que a economista Maria da Conceição Tavares disse que temos produzidos inúmeros tecnocratas aluados, pois, para um jovem abrir mão de um cargo, num momento tão importante de sua vida, por conta da ideia do teto de gasto em contraponto ao nascente programa Auxílio Brasil, demonstra insensibilidade social elevada à enésima potência.

Durante todo o processo pandêmico, ou em sua maior parte, o governo federal socorreu a população com o auxílio emergencial, que vai acabar neste mês de outubro. O novo programa Auxílio Brasil vai substituir o antigo Bolsa Família e se ampliar em face das consequências advindas da pandemia.

É óbvio que o programa tinha seus dias contados, pois se tratava de um financiamento social com recursos públicos em face de um perverso problema sanitário, e o Estado não falhou com a população, pois, só neste mês de outubro, foram socorridas 34,4 milhões de famílias brasileiras.

Se por um lado o fim do auxílio emergencial deixará de socorrer menos famílias, por outro o novo programa que substituirá o Bolsa Família melhorará e ampliará o número de famílias atendidas por este último. Com o novo programa, há um incremento considerado de famílias socorridas. O Programa Emergencial que atendia em torno de 9,32 milhões de famílias do Bolsa Família, com o advento do Auxílio Brasil atenderá 14,6 milhões do Bolsa, com um incremento relativo de 16,44% (2,4 milhões).

É bem verdade que haverá um deslocamento considerável de parcela que era atendida pelo auxílio emergencial para o mercado de trabalho. Este deslocamento deverá ser atendido pela energia e tração que a economia, pari passu, vai ganhando. A economia pós-pandemia já responde bem aos estímulos, por menores que sejam, mas ainda padece de suas consequências, sobretudo de um movimento altista dos preços, que aparenta ser inercial, somente aparenta.

A ganância da classe média se choca com as necessidades mais básicas dos menos favorecidos. Se tivéssemos feito, há dois anos, um profundo pacto nacional para levarmos a frente as várias reformas que destravariam a economia, não precisaríamos continuar a financiar uma parcela gigantesca de famílias socialmente vulneráveis de nossa economia, pois uma das bases do modo de produção capitalista é que só come quem trabalha.

Por fim, o destravamento da economia brasileira,o arejamento das estruturas estatais, a modernização dos setores da economia, sobretudo, o secundário (a indústria, são condições essenciais para a geração de emprego e oportunidades, e com isto o tecido social, com o fruto do labor, vai ganhar dignidade econômica.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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