Áreas de atividade física devem estar livres dos ruídos urbanos

Poluição sonora foi constatada em duas áreas analisadas: o canteiro central da BR 262 em Cariacica e o calçadão da Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, no Centro de Vitória

  • Ricardo Nacari Maioli e Fabiana Trindade da Silva
Publicado em 29/10/2020 às 10h00
O entardecer na avenida Beira-Mar, em Vitória
O entardecer na avenida Beira-Mar, em Vitória: calçadão é usado para prática de atividade física. Crédito: Fernando Madeira

A prática de atividades físicas gera diversos benefícios físicos e mentais. Na região da Grande Vitória, espaços ao ar livre são muito utilizados para essas práticas. No entanto, o crescimento urbano associado à falta de planejamento e à priorização do transporte motorizado gerou, em muitas localidades, a escassez de áreas livres destinadas a esse fim.

Além disso, os espaços públicos de lazer não são distribuídos de forma igualitária nas cidades. Bairros considerados nobres são, em sua maioria, dotados de espaços adequados como, calçadões, praças e parques, ao passo que as demais regiões constantemente experimentam a escassez ou ausência desses espaços.

Neste contexto, é comum observar pessoas praticando atividades físicas em calçadas e canteiros centrais de grandes avenidas. Todavia, muitos deles não foram planejados para esse fim e não apresentam infraestrutura adequada. Além disso, outra questão importante deve ser considerada: a qualidade acústica dos espaços. Por estarem localizados em vias muito movimentadas, o ruído gerado pelo tráfego intenso de veículos passa a ser o pano de fundo dessas atividades.

De fato, quem mora nos centros urbanos está sujeito a conviver com a poluição sonora, pois, diariamente, nos deparamos com diversas fontes de ruído em casa, no trabalho ou no lazer. Enfrentamos tantas adversidades na vida cotidiana que, muitas vezes, suas consequências são subestimadas. O problema é que o ruído tem efeitos negativos sobre as pessoas e pode provocar perda da audição, estresse, dores de cabeça, fadiga, dentre outros malefícios.

Por isso, o estudo da acústica urbana é importante para a saúde e o bem-estar de uma sociedade. Nesse sentido, foi desenvolvida uma investigação científica em 2019, com um grupo de alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faesa, sobre o ruído urbano em espaços utilizados para o lazer e a prática de atividades físicas na Grande Vitória, ou seja, justamente em locais onde a população busca o bem-estar físico e mental.

Nessa pesquisa, concluiu-se que as áreas investigadas eram muito ruidosas. O limite de 60 dB, definido pela NBR 10.151:2019 para esses locais, foi extrapolado em todas as medições, em horário de uso do espaço pela população. Esse problema foi constatado nas duas áreas analisadas: o canteiro central da BR 262 em Cariacica e o calçadão da Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, no Centro de Vitória. O ruído aferido alcançou valores expressivos, com média superior a 76 dB na maioria dos pontos de medição, caracterizando-se como um agente de desconforto e com potencial prejuízo à saúde.

Portanto, os usuários que pretendem voltar a praticar as atividades físicas ao ar livre, após o período de distanciamento social, poderão se expor aos riscos associados ao ruído nesses e em outros locais das cidades onde a poluição sonora é encontrada.

De fato, deixar de fazer o exercício físico não é a solução e se expor ao ruído excessivo também não deveria ser a única opção. Por isso, é importante pensar a cidade com uma distribuição mais democrática de locais adequados e aprazíveis para a prática dessas atividades, presentes na vida dos capixabas.

Os autores são professor do curso de Arquitetura e Urbanismo e coordenador de Projeto de Iniciação Científica da Faesa, e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo e pesquisadora colaboradora de Projeto de Iniciação Científica da Faesa, respectivamente

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