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É sócio da Maker Sustentabilidade

A pressão pela geração de valor sustentável de longo prazo

Busca por empresas que mostrem capacidade de adaptação motiva os investidores, que veem a premissa de uma visão sistêmica dos aspectos ambientais, sociais e de governança como condição indispensável para isso

  • Carlos Alberto Roxo É sócio da Maker Sustentabilidade
Publicado em 27/10/2021 às 10h24
Sustentabilidade; responsabilidade ambiental
Estou falando de sustentabilidade ou de economia? Tendo a sustentabilidade se tornado uma nova dimensão da economia, estou na verdade falando do mundo. Crédito: Freepik

A questão da pressão dos investidores sobre fundos ou empresas com ESG robustos tem sido muito debatida, com argumentos que vão do modismo a valores de cidadania dos investidores.

Minha visão é essencialmente pragmática, focada nos investidores de longo prazo, o que exclui naturalmente os de perfil especulativo. Há de fato alguma pressão por benemerência, e também por modismo, mas a grande pressão é pela geração de valor sustentável de longo prazo.

O princípio do capitalismo continua o mesmo do da época de Adam Smith: investidor não é benemérito, quer maximizar o retorno dos seus investimentos, e não é por ter “bom coração” (ainda que possa ter) ou para melhorar sua reputação que quer compartilhar este retorno com os stakeholders. Ninguém investe para perder dinheiro.

O que os motiva é o entendimento de que a maximização do retorno de longo prazo tem atualmente premissas diferentes da época de Adam Smith. Destaco duas delas:

1- Longevidade: antigamente a vida média era muito mais curta, e após aposentarem-se, as pessoas morriam em média de 5 a 10 anos depois. Por isso, bastava que seus investimentos as permitissem manter-se por estes anos. Hoje as pessoas vivem em média entre 10 a 30 anos após a aposentadoria, e o retorno dos investimentos tem que permitir-lhes viver por um prazo muito mais longo.

2 – Disrupção tecnológica e ambiental: desde a década de 90 vivemos tempos tecnologicamente disruptivos, como o advento da internet, que deixaram muitas empresas pelo caminho, como Kodak, Olivetti, Polaroid, Blockbuster e tantas outras. Em compensação surgiram empresas antes impensáveis, como Apple, Microsoft, Uber e BnB. A disrupção vai continuar nos próximos 30 anos, e vai aliar aos avanços da tecnologia, como Inteligência Artificial, um fator adicional: as inevitáveis e severas restrições impostas pelas mudanças climáticas, que já permitem antever que a tonelada de CO2 emitida deverá ser precificada na casa dos 50 dólares ou mais. Isso está fazendo com que as montadoras de automóveis estejam investindo em motores elétricos, que ao longo da década de 2030 deverão estar mais baratos do que os com motor à explosão, dominando a partir daí o mercado. A matriz energética dos países deverá mudar substancialmente, e quem aposta suas fichas nas reservas de petróleo corre o risco de ver parte delas "micarem", pois alguns dos seus maiores usuários, como os meios de transporte e boa parte das indústrias, estarão usando outras fontes de energia.

É por isso que repito que, embora os princípios de Adam Smith continuem sólidos e válidos, a necessidade e forma de ter retorno não são mais as mesmas de sua época, e continuarão a mudar.

Como na frase atribuída a Darwin, as espécies que sobrevivem não são necessariamente as maiores nem mais fortes, mas as que melhor se adaptam. E é a busca por empresas que mostrem capacidade de adaptação que motiva os investidores, que veem a premissa de uma visão sistêmica dos aspectos ambientais, sociais e de governança como condição indispensável para isso.

Estou falando de sustentabilidade ou de economia? Tendo a sustentabilidade se tornado uma nova dimensão da economia, estou na verdade falando do mundo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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