Autor(a) Convidado(a)
É médica cirurgiã plástica

A banalização dos procedimentos estéticos: quando o 'mínimo' oferece riscos

A popularização dos procedimentos “minimamente invasivos” criou a falsa sensação de segurança. Mas até o “mínimo” pode trazer riscos quando a busca pela beleza ignora limites e responsabilidade

  • Patricia Lyra É médica cirurgiã plástica
Publicado em 01/11/2025 às 09h00

Nos últimos anos, houve um crescimento explosivo na procura por procedimentos estéticos impulsionado por redes sociais, celebridades e a promessa de transformações rápidas com pouco ou quase nenhum tempo de recuperação.

Nesse contexto, os chamados procedimentos “minimamente invasivos”, como preenchimentos, toxina botulínica, fios de sustentação e bioestimuladores, ganharam protagonismo. Mas junto com a popularidade, veio a banalização. E com ela, riscos reais.

É preciso estar consciente de algo muito importante: não existe procedimento 100% isento de riscos. A ideia de que o “mínimo invasivo” é sinônimo de “inofensivo” é um tanto quanto perigoso, tendo em vista que tudo pode trazer complicações, ainda que mínimas. Hematomas, infecções, necroses, assimetrias, obstruções vasculares e até cegueira são reações adversas possíveis (algumas mais raras), principalmente quando esses procedimentos são mal indicados, mal executados ou realizados por profissionais não habilitados.

Procedimento estético
Procedimento estético. Crédito: Divulgação

Recentemente, a morte de um influenciador digital reacendeu um alerta sobre o assunto. O jovem de 31 anos veio a óbito após sofrer complicações possivelmente causadas por um procedimento estético conhecido como "fox eyes" ou "olhos de raposa", uma intervenção estética que promete deixar o olhar mais alongado e que virou tendência nos últimos anos.

Essa fatalidade, que foi mais uma entre diversas que temos visto, reforça uma realidade muitas vezes ignorada: por trás da promessa de resultados expressivos em pouco tempo, pode haver riscos graves e até fatais.

Vale lembrar que muitos desses tratamentos acontecem fora de ambientes adequados, com profissionais sem habilitação específica ou sem um seguimento clínico rigoroso. E essa realidade, na maioria dos casos, só vem à tona após o caso virar tragédia.

Portanto, não é qualquer clínica, qualquer fio, qualquer resultado rápido. Paciente informado, profissional habilitado, ambiente seguro e acompanhamento pós procedimento não são detalhes, mas a linha tênue entre sucesso estético e risco irreversível.

Como profissionais da saúde, temos o dever de informar, orientar e dizer “não” sempre que necessário para garantir a segurança do paciente. O marketing agressivo, as promoções em massa e a medicalização da aparência devem ser substituídos por escuta, responsabilidade e critério técnico.

Em vez de normalizar a transformação constante, precisamos resgatar o valor do equilíbrio, da naturalidade e do cuidado verdadeiro com o corpo e a mente. Porque, no fim das contas, o que deveria ser escolha consciente não pode se tornar vício mascarado de vaidade.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Saúde opinião Estética Cirurgia plástica

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.