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Tecnologia dá início à nova era das grandes navegações no ES

Tecnologia dá início à nova era das grandes navegações no ES

Setor portuário capixaba investe na criação de novos equipamentos para tornar o transporte de cargas mais eficiente e seguro

Publicado em 9 de janeiro de 2024 às 13:37

Ícone - Tempo de Leitura 8min de leitura
Porto de Vitória recebe cargas inovadoras
Porto de Vitória recebe cargas inovadoras. (Vitor Jubini)

Inovações estão redesenhando o cenário portuário no Espírito Santo. Terminais já adotam tecnologias de ponta para tornar o transporte de cargas mais eficiente e seguro, com a utilização de veículos autônomos e inteligência artificial (IA). Esse é só o começo de uma série de investimentos que serão feitos nos próximos anos no setor para promover a nova era das grandes navegações.

Os investimentos futuros em infraestrutura e novas autorizações regulatórias já estão atraindo cargas para o território capixaba, que pretende se transformar no principal hub logístico brasileiro.

Maior importador de carros do país, o Estado também já é porta de entrada para veículos movidos a hidrogênio e porta de saída para insumos inovadores, como o lítio verde, exportado pela primeira vez na Vports (Porto de Vitória), para ser usado na produção de baterias.

O cenário é ainda mais promissor com o avanço da mentalidade digital nos terminais privados. “Estamos vivenciando uma transformação significativa impulsionada por tecnologias emergentes. No Portocel, estamos comprometidos em integrar soluções inovadoras para otimizar as operações portuárias”, afirma a gerente de Estratégia, Gestão e Novos Negócios, Valéria Becalli Provete.

Ela destaca que a implementação de sistemas avançados de rastreamento e gerenciamento de cargas tem sido uma prioridade. “A tecnologia de rastreamento em tempo real permite uma visibilidade completa das operações, desde a chegada da carga até a sua entrega final. Isso não apenas melhora a eficiência, mas também fortalece a segurança e a transparência”, complementa.

Portocel em Aracruz aposta na IA para transporte de celulose
Portocel em Aracruz aposta na IA para transporte de celulose. (Portocel/Divulgação)

Uma tecnologia que tem dado mais eficiência à movimentação de celulose no terminal é o spreader automático, responsável por levar a celulose até o porão dos navios. O equipamento nasceu da inquietação das equipes do terminal portuário. Eles, então, se debruçaram no projeto. Após concebida, a tecnologia contou com parcerias de outras empresas, como Pöyry, da Forte Mar e da Saur, para o desenvolvimento e execução.

De acordo com Valéria, o spreader traz mais produtividade e segurança, além de reduzir o tempo da movimentação para celulose nos navios. A Portocel, que fica em Barra do Riacho, Aracruz, conseguiu ampliar o espaço para expandir serviços e explorar novas oportunidades de negócio, consolidando-se como opção logística diferenciada, ressalta.

Se manobrar um carro já é um desafio para alguns, imagine fazer isso com um navio. Ainda em 2022, começaram os primeiros testes de manobra de navio utilizando o sistema de calado dinâmico, sendo Portocel um dos primeiros portos da América Latina autorizados a operar nessa modalidade.

O calado dinâmico utiliza recursos como o ReDRAFT, que calculam em tempo real e com precisão a folga dinâmica abaixo da quilha (espécie de espinha dorsal da embarcação), com base nas características de cada navio e do canal de acesso, considerando ainda as condições ambientais do momento da manobra (ondas e ventos).

O cálculo informa com exatidão qual é o calado máximo e/ou qual a próxima janela segura para navegação, conforme as condições analisadas, permitindo operar com maior calado e ampliando a capacidade de carga. Além da equipe do Portocel, acompanharam os primeiros testes representantes da Capitania dos Portos, Vports, Praticagem do Espírito Santo e Argonáutica, empresa que opera o ReDRAFT.

O sistema oferece mais segurança e eficiência a partir do cálculo racional da folga dinâmica abaixo da quilha. Funciona assim: quando há risco de toque da embarcação no fundo, mesmo com a regra do calado estático, a tecnologia informa os calados máximos seguros. Isso pode levar à decisão de redução do calado, para não postergar a manobra, ou à escolha de outra janela considerada segura para a saída do navio.

O projeto demonstrou que manobras em condições desfavoráveis seriam evitadas. Além disso, o estudo levantou que seria possível obter uma redução de até 3,7 horas no tempo de espera ou aumento de até 66 centímetros de calado, dependendo das condições. A implantação do projeto foi premiada com o prêmio Cubo Itaú, em julho de 2023.

Também estão em testes em Portocel, desde outubro de 2023, veículos autônomos. Voltados para a movimentação de carga dentro do terminal, eles são totalmente conduzidos por sistemas computadorizados com inteligência artificial, além de câmeras e sensores.

O sistema é baseado na técnica de controlador Proporcional Integral Derivativo (PID), que une ações para minimizar possíveis erros. As tecnologias empregadas no veículo também contribuem para maior eficiência no consumo de combustível, redução de custos operacionais e, consequentemente, menor impacto ambiental.

Sendo guiado por um sistema inteligente, o veículo consegue ter mais atenção a muitos eventos simultâneos, analisá-los e chegar a uma reação muito rapidamente, principalmente em emergências. Tudo isso minimiza perdas que existem em operações convencionais e seus impactos na produtividade.

Nos testes, foram adaptados dois cavalos mecânicos de carretas que fazem o transporte interno de celulose. A tecnologia embarcada nos veículos foi desenvolvida pela Lume Robotics e oferece diversos parâmetros, como visão computacional, mapeamento, localização, planejamento de rotas, tomada de decisão, planejamento de movimento, controle e central de operações.

Porto da Imetame está apostando na tecnologia para movimentar cargas com segurança
Porto da Imetame está apostando na tecnologia para movimentar cargas com segurança. (Imetame/Divulgação)

AUTOMATIZAÇÃO

Primeiro terminal privado autorizado a ter uma Zona de Processamento de Exportações (ZPE), o Imetame Logística Porto, em Barra do Riacho, Aracruz, também conta com recursos tecnológicos. Segundo o diretor de Operações, Anderson Carvalho, a empresa investe em software de planejamento, controle operacional e em automatização.

Os sistemas escolhidos oferecem planejamento automático de alocação de pátio (expert decking), de roteirização dos caminhões internos (prime route), de planejamento de embarque e descarga de navios (auto stow). A empresa pretende formar um banco de dados para ser analisado por um software inteligente.

“Também teremos um sistema web de agendamento de entrega e retirada das cargas, integrado com todos os sistemas operacionais, de maneira que os clientes, usuários e autoridades tenham acesso às informações necessárias”, adianta Anderson.

O diretor de Operações do Imetame também fez projeções sobre o uso de sistemas de inteligência artificial no porto. “Acreditamos que a IA vai se tornar uma das principais tecnologias que iremos aplicar no médio prazo.”

Entre as possíveis iniciativas, o executivo destacou: uso da IA generativa para criar soluções de autoatendimento (chatbot com clientes) e automação dos processos repetitivos por meio da robotização, especialmente os administrativos.

“Basicamente iremos empregar a IA em todos os processos operacionais com o foco na eficiência operacional e competitividade do porto, otimização no uso do espaço físico das áreas de armazenagem, aumentando a capacidade operacional e volume, e redução da utilização dos equipamentos, contribuindo para uma operação mais sustentável”, projeta Anderson.

Além das aplicações futuras, algumas tecnologias inteligentes já estão em funcionamento, como o sistema de identificação de avarias, baseado em IA, que verifica por meio de imagens se o contêiner tem problemas antes da sua admissão no gate de entrada.

Já o sistema de imagens de segurança, no futuro, será todo baseado em IA para identificação de situações anormais no controle de perímetro. Há planos para instalação de cercas virtuais e reconhecimento facial. Também há previsão de automação dos processos de envio e recebimento de troca de informações com a Receita Federal, com o emprego de IA e drones.

MENOS BUROCRACIA

Para o coordenador-geral de Planejamento e Gestão Fundiária da Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários (SNPTA), Fabio Lavor Teixeira, um avanço por parte do governo no setor portuário é o Porto Sem Papel. O projeto, que vem se modernizando cada vez mais ao longo dos anos, visa a digitalizar toda a burocracia associada às operações portuárias.

“É uma das grandes mudanças paradigmáticas que promovemos no setor. Em constante evolução desde sua criação, esse sistema agora busca integrar-se ao Portal Único do Comércio Exterior, representando um salto significativo em termos de eficiência e transparência”, afirma Teixeira.

Ele ressalta a importância da conexão desse sistema com a Receita Federal, representada pelo Portal Único do Comércio Exterior. “Apesar dos desafios, buscamos a integração para alcançar uma janela única de operações, não apenas facilitando as transações comerciais, mas também fortalecendo o papel do Brasil no cenário internacional”, destaca.

O governo também investe em iniciativas, como os Sistemas de Informação de Tráfego Marítimo (VTS) e de Comunidade Corporativa Portuária (PCS). O VTS, composto por boias, radares e câmeras, proporciona uma gestão mais eficiente do canal de acesso, considerando variáveis como maré e altura de ondas. Esses sistemas funcionam como base para que inovações sejam aplicadas tanto em terminais públicos quanto privados.

“O VTS não apenas contribui para a segurança, mas também facilita a gestão do sequenciamento de navios, permitindo uma movimentação mais fluida nos portos. Estamos expandindo sua implementação em diversos pontos do país, promovendo uma gestão portuária mais inteligente e eficaz”, explica Teixeira.

Bavio da
Navio da Vale tem velas fixas que produzem energia a partir dos ventos. (Vale/Divulgação)

Já o PCS, em fase de implementação em diversos portos brasileiros, busca integrar não somente atores públicos, mas também os privados. “A colaboração entre setores público e privado é essencial. O PCS cria uma plataforma unificada onde informações podem ser compartilhadas, impulsionando a eficiência operacional e a competitividade”, destaca Teixeira.

Além das inovações tecnológicas, parcerias estratégicas desempenham um papel crucial na transformação do setor logístico e portuário. Teixeira menciona o trabalho com a Fundação Vale como exemplo de colaboração para capacitação e desenvolvimento tecnológico. No Espírito Santo, a mineradora comanda o Porto de Tubarão, em Vitória, que recebeu em novembro de 2023 o navio equipado com velas rígidas que usam energia eólica para reduzir o consumo de combustíveis fósseis.

“A Fundação Vale desempenha um papel vital na capacitação de profissionais e na promoção de pesquisas. Essa colaboração fortalece nosso compromisso com a inovação e contribui para a formação de uma mão de obra qualificada, preparada para enfrentar os desafios do setor”, ressalta Teixeira.

Ele destaca o papel do Brasil neste novo cenário. “À medida que a inovação, a tecnologia e a inteligência artificial continuam a moldar o setor logístico e portuário brasileiro, o futuro se desenha com operações mais eficientes, seguras e sustentáveis. A busca pela integração de sistemas, a adoção de práticas inovadoras e a formação de parcerias estratégicas são essenciais para impulsionar o setor para novos patamares de excelência. O Brasil se posiciona como um protagonista na revolução logística, preparado para enfrentar os desafios globais com soluções inovadoras e sustentáveis.”

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