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Ônibus do Transcol sem cobrador é a melhor opção?

Ônibus do Transcol sem cobrador é a melhor opção?

O governo do Estado anunciou que, até 2022, 600 veículos que atuam no Sistema Transcol vão circular sem trocador. Trabalhadores do setor temem que, com a medida, sejam dispensados

Publicado em 22 de agosto de 2019 às 04:10

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Ônibus com ar condicionado aceitarão apenas Bilhete Único. (Amarildo)

 

MODERNIZAÇÃO COM RESPONSABILIDADE SOCIAL

Fábio Damasceno é secretário de Estado de Mobilidade e Infraestrutura

Depois de quatro anos sem praticamente nenhum investimento, e perdendo passageiros, o Sistema Transcol, com a gestão efetiva do contrato pelo governo do Estado, retoma seu processo de modernização, com aquisição de novos veículos e novas tecnologias, como o Bilhete Único, sistemas mais modernos de gerenciamento de frota e serviço de informação ao usuário, como o Ônibus GV, entre outras melhorias. Essas mudanças vão permitir a implantação do embarque exclusivo via bilhetagem eletrônica, a exemplo do que acontece em países e cidades que são referência em transporte coletivo.

A eliminação da cobrança em dinheiro dentro dos coletivos traz vantagens tanto para os operadores quanto para os passageiros. Uma delas é a redução do tempo das paradas nos pontos, sobretudo nas linhas mais carregadas, como acontece nas linhas troncais do Sistema Transcol. Uma vez eliminada a necessidade do troco, o embarque acontece de maneira mais ágil. Outra vantagem é a possibilidade de tarifa diferenciada, permitindo a integração entre os sistemas urbanos e o metropolitano. A retirada do dinheiro a bordo também torna o coletivo menos atrativo à ocorrência de assaltos.

Já para os operadores, o sistema de cobrança via bilhetagem eletrônica permite maior controle e equilíbrio entre oferta edemanda dos serviços prestados, por meio de uma gestão integrada entre planejamento, operação e fiscalização. Também ajuda no combate a fraudes e perda de receitas em decorrência do mau uso de benefícios, por meio da biometria facial.

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As empresas já estão ofertando cursos destinados à requalificação dos profissionais. O objetivo é que eles assumam novos postos

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Contudo, fazer essa transição requer cuidado, planejamento e responsabilidade social, pois estamos falando de uma mudança de grande impacto para os trabalhadores que hoje exercem a função de cobradores. A função pode ser suprimida pela tecnologia, mas o trabalhador que hoje atua neste posto não é descartável. Por isso, a determinação do governo do Estado para as empresas é que não sejam realizadas demissões em função desse processo, principalmente considerando o momento econômico delicado que o país ainda vive.

Para isso, as empresas que operam o sistema já estão ofertando cursos destinados à requalificação dos profissionais. O objetivo é que eles venham a assumir novos postos de trabalho dentro do próprio sistema, como motoristas, por exemplo. Além disso, o profissional que já atuou como cobrador conhece o sistema, o que facilita seu treinamento e sua transição para outros postos que oferecem até remuneração mais atraente.

A implantação do Bilhete Único também abrirá novas funções para a venda de cartões e recarga, uma vez que a rede de postos de atendimento será ampliada. Vale lembrar, ainda, que os sistemas municipais serão integrados ao metropolitano, o que torna imprescindível preservar igualmente os empregos dos operadores desses sistemas.

Por isso, consideramos que a modernização do Sistema Transcol é necessária não só para elevar a qualidade do serviço, mas também para preservar postos de trabalho, uma vez que serviço de má qualidade afasta o usuário e diminui a receita das empresas. Esse círculo vicioso é que provoca demissões. Já um sistema moderno e eficiente atrai o usuário, aumenta a arrecadação, permite realizar investimentos e cria novos postos de trabalho. Este é o nosso foco.

A VIDA TEM QUE VALER MAIS DO QUE O LUCRO

José Carlos Sales Cardoso é presidente do Sindirodoviários-ES

A chegada de ônibus coletivos com ar condicionado e Wi-Fi grátis para integrarem a frota de serviço ao usuário na Grande Vitória trouxe uma grande surpresa. Os veículos vieram sem as cadeiras para os cobradores, o que sugere a extinção de mais de quatro mil postos de trabalho. Essa iniciativa em nenhum momento foi debatida com o sindicato ou com a sociedade, ou mesmo com a parte mais interessada, que são os cobradores e cobradoras de ônibus.

Entendemos que a extinção da função do cobrador nos coletivos tem a exclusiva finalidade de aumentar os lucros das empresas de transporte de passageiros, sem se importar com a segurança nos coletivos e com serviços de qualidade para o usuário.

O cobrador não cobra tarifa apenas. Ele auxilia o motorista em manobras feitas nos terminais e nas mudanças de faixas, onde há pontos cegos. É ele que auxilia deficientes físicos para entrada nos coletivos (passar essa tarefa para o motorista significa deixar o ônibus vulnerável e mais sujeito à insegurança). É o cobrador quem dá informações sobre itinerários e destinos a passageiros e turistas, já que o motorista deve focar a atenção apenas na direção.

Além disso, é inadmissível que em uma realidade de desemprego no Estado e no país, o governo do Espírito Santo se associe a empresários para promover mais desemprego. E, ainda, a vaga promessa de aproveitamento dos atuais cobradores em outras funções não se sustenta devido à própria realidade do sistema já conhecida pelos empregados nas empresas de transporte de passageiros na Grande Vitória.

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O Sindirodoviários vai lutar com todas as suas forças para salvaguardar os postos de trabalho desses milhares de trabalhadores

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O que temos de fator principal aqui é o privilégio do lucro em detrimento da vida. Avanços tecnológicos devem ser aplicados na melhoria da qualidade de vida da população. Acontece que, historicamente, os avanços tecnológicos têm sido utilizados para substituição da mão de obra humana em vários setores do universo do trabalho.

A oferta de serviços como ar condicionado e rede disponível de acesso à internet nos ônibus é bem-vinda, contanto que não seja usada como pretexto para extinguir postos de trabalho. E é justamente isso que temos visto aqui nesse episódio.

Entendemos ainda que o governo do Estado deve se preocupar em adotar políticas que visem à geração de emprego e renda no Estado, a partir das muitas potencialidades que temos nos mais variados setores da economia. E não ao contrário, se associar a empresários que utilizam concessões públicas para auferir lucros cada vez maiores, ainda que em detrimento de toda a sociedade, seja no aumento abusivo de preços de passagens, seja na tentativa de demitir milhares de trabalhadores e trabalhadoras.

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A vida tem que valer mais que o lucro. Falamos aqui de mais de quatro mil pais e mães de família que verão seus empregos serem extintos, caso essa medida se efetive, o que não vai acontecer sem muita luta. O Sindirodoviários vai lutar com todas as suas forças para salvaguardar os postos de trabalho desses milhares de trabalhadores que se levantam no meio da madrugada e permanecem servindo a população até as últimas horas do dia.

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