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Vitória é a capital com maior diferença salarial entre homens e mulheres

Vitória é a capital com maior diferença salarial entre homens e mulheres

Profissional feminina recebe 40% a menos do que um homem na Capital do Espírito Santo; confira as diferenças salariais em cada Estado

Publicado em 10 de janeiro de 2023 às 08:31

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Desigualdade de gênero: em média, uma trabalhadora recebe 67,08% a menos do que um homem em Vitória
Desigualdade de gênero: em média, uma trabalhadora recebe 40% a menos do que um homem em Vitória. (Montagem: Caroline Freitas)

As mulheres recebem 40,14% a menos do que os homens em Vitória. Esses dados, da Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que a cidade é a capital com maior discriminação salarial entre os gêneros no país. O desnível entre os salários na capital capixaba está muito acima do patamar brasileiro, cuja média de diferença entre os rendimentos é de 20,1%.

O estudo, que considera sempre os dados médios, aponta que os rendimentos mensais de uma mulher em Vitória equivalem a R$ 3.160 — bem abaixo do valor masculino, que é R$ 5.280. No ranking das capitais, a cidade capixaba está quase cinco pontos percentuais à frente da segunda colocada, Campo Grande (MS), onde as mulheres ganham 35,5% a menos do que os homens.

Quando se trata de todo o Espírito Santo, as mulheres recebem 26,4% a menos em relação ao rendimento masculino. A média salarial feminina, no Estado, é de R$ 1.785, enquanto os homens ganham R$ 2.426.

No ranking nacional, o Espírito Santo aparece em quarto lugar, entre os 26 estados e o Distrito Federal, em relação à diferença salarial entre os gêneros. Está atrás apenas de Mato Grosso do Sul (32,3%), Mato Grosso (28,6%) e Rio Grande do Sul (27,2%).

Para a pesquisadora e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Juliana Cristina Teixeira, que é líder do tema “Estudos Organizacionais Interseccionais: Articulando Raça-Etnia, Gênero, Sexualidade e Classe no Mundo do Trabalho na Divisão de Estudos Organizacionais” na Associação de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração (ANPAD), em um Estado em que os índices de violência contra a mulher são elevados, a diferença salarial enfatiza ainda mais a posição desigual que os gêneros ocupam na sociedade.

A pesquisadora frisa, entretanto, que esta não é uma realidade vivenciada apenas em território capixaba. “Vivemos em uma sociedade que é historicamente patriarcal, em que a divisão foi, inclusive, institucionalizada. Há algumas décadas, as mulheres brancas, por exemplo, precisavam pedir autorização para trabalhar, e isso foi lhes atrasando.”

Ela pontua que, uma vez que tiveram essa autorização, as opções de trabalho disponíveis para mulheres estavam ligadas ao que era considerado feminino, como funções ligadas ao cuidado, ao espaço infantil.

“Isso explica, por exemplo, porque, ainda hoje, em cursos de pedagogia, a gente tem uma quase totalidade de mulheres se preparando para a profissão. Na enfermagem, isso também é muito nítido. Se olhamos para o estudo técnico de enfermagem, teremos não apenas uma predominância de mulheres, como de mulheres negras, porque também existe uma divisão de classes. E esses são apenas alguns exemplos.”

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O nível de ocupação de mulheres com filhos de até 3 anos também é bem menor do que a taxa de ocupação de homens com filhos da mesma idade. O mercado de trabalho ainda privilegia o pai que tem filhos. Entende-se ainda que ele é mais confiável para o mercado. Ainda se tem aquela ideia de pai provedor. Quando se olha para a mulher, a visão é diferente: será que tem condições de trabalhar? Com quem vai deixar o filho?

Juliana Cristina Teixeira
Professora da Ufes e pesquisadora
Aspas de citação

A diferença salarial entre os gêneros não é a única percebida na Capital capixaba. Em média, em Vitória, um trabalhador preto ou pardo recebe mensalmente 43,8% a menos que uma pessoa branca – acima da média nacional, de 41,7%.

Em 2021, enquanto um trabalhador pardo ou preto tinha rendimentos mensais médios de R$ 3.120, uma pessoa branca acumulava ganhos de R$ 5.559 — a maior soma entre as capitais brasileiras, segundo os dados do IBGE.

Ações afirmativas podem ajudar a mudar cenário desigual

Apesar de as desigualdades serem históricas, e percebidas não apenas localmente, mas no país e no mundo, de modo geral, especialistas pontuam que a mudança dessa realidade também passa pela implementação de ações afirmativas pelas empresas, no sentido de dar oportunidade a pessoas em recortes sociais desfavorecidos.

“Gênero e raça são dois marcadores estruturais. Compõem a estrutura da nossa sociedade. Para reverter isso, precisamos de políticas públicas, mas também de ações por parte das empresas. Até porque, se a gente pega em termos legais, é inconstitucional você discriminar, mas, na prática, só as leis não dão conta”, reforça a pesquisadora e professora da Ufes, Juliana Cristina Teixeira.

De acordo com o estudo ‘Diversity Matters: América Latina’, realizado pela empresa de consultoria McKinsey, políticas de diversidade e inclusão no ambiente corporativo trazem diversas vantagens, não apenas para os trabalhadores, como para as organizações.

A pesquisa aponta que empresas que possuem equipes executivas com diversidade de gênero, por exemplo, têm 14% mais chances de superar o desempenho das concorrentes.

“Contar com times diversos leva a atuação das empresas a outro patamar, pois assim o acesso a diferentes pontos de vista, culturas, pensamento e opiniões torna o ambiente de trabalho muito mais criativo e disruptivo”, explica Rafaela Frankenthal, cofundadora da SafeSpace, uma plataforma que ajuda empresas a identificarem padrões de comportamento que podem trazer riscos e causar danos à sua reputação e cultura.

Ela pontua ainda que atuar por meio de ações afirmativas demonstra que a empresa, além de buscar melhores resultados, faz o que é correto em termos de responsabilidade social e “tem como finalidade uma atuação que visa a transformação das instituições no mercado de trabalho.”

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