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Publicado em 21 de junho de 2025 às 19:05
O talento de transformar uma planta aquática em arte atravessa gerações em uma família da Serra, no Espírito Santo. Conhecida como taboa, a fibra da planta se converte em esteira, conjunto americano, pufes e outras peças de artesanato pelas mãos de Kênis Neves, de 28 anos. >
O ofício ele aprendeu com o pai, Sibaldo Manoel de Oliveira, de 57 anos, que por sua vez, também aprendeu a fazer as peças com o avô do jovem. Mais tarde, já casado, Sibaldo ensinou a confecção dos produtos para a esposa Marilda Neves de Oliveira, de 57 anos. >
“Fui criado dentro da Associação Serra Boa Artesanatos - artesanato em fibra de taboa, fundada pelo meu pai. A parte da esteira aprendi com meus pais e fui aprimorando a técnica. Com o tempo, desenvolvi outras coisas feitas com restos de madeira, como mesas rústicas e petisqueiras”, relata. >
A taboa é uma folha que cresce em ambientes úmidos, como margens de rios, lagos e pântanos. A espécie é nativa do Brasil e conhecida pelas qualidades ornamentais. A matéria-prima é retirada de um brejo, nas proximidades da Rodovia Audifax Barcelos, na região de Jacaraípe. >
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Pai, mãe e filho trabalham juntos desde a retirada da planta de seu lugar de origem até a confecção dos produtos. Kênis e o pai vão até o local cortar a taboa, que é quase um pendão, e pode atingir 3 metros de altura. Para isso, é necessário usar bota e blusa de manga comprida, até para evitar ser picado por cobra ou outro bicho que podem estar por lá. >
“A gente vai na segunda ou na terça, corta, faz uma boa viagem da matéria-prima e fica os próximos dez a 15 dias sem ir. A planta vem verde e a colocamos para secar. Durante o verão, a secagem pode durar de 8 a 9 dias, mas em outras épocas, até 20 dias. Só depois disso podemos fazer o processo de trançagem”, descreve.>
O carro-chefe da associação é a esteira, que pode ser de casal, solteiro ou de praia, feita com fibra mais grossa ou não, a depender das encomendas. “Para ter inspiração, fui observando meus pais, pesquisei algumas coisas na internet e criava muita coisa da minha cabeça”, comenta Kênis.>
Todo o processo de fabricação das esteiras é feito manualmente, sem a utilização de máquinas ou qualquer outro equipamento sofisticado. A amarração do barbante é feita com a ajuda de pedaços de madeira redonda, conhecidos como cambito. >
“A gente pega a palha, joga um cambito para frente, outro para trás, coloca a palha novamente e assim por diante. Quando chega a um determinado tamanho, a gente corta, amarra e o item é finalizado”, explica o jovem artesão. >
Kênis destaca que, para trabalhar com artesanato, é preciso gostar muito. Além disso, ele prefere trabalhar por conta própria do que ter um emprego formal com carteira assinada. >
“Não gosto de trabalhar para os outros. Não estou no empreendedorismo por conta do dinheiro, mas por gostar do que eu faço”, pontua.>
O pai, Sibaldo, lembra que são pelo menos 35 anos trabalhando com artesanato em palha, isto é, mais da metade da vida ele está atuando na área. No início, saía de Serra-Sede de bicicleta para vender os itens em Goiabeiras e na Vila Rubim, em Vitória. Após o nascimento de Kênis, a família o levava junto para a colheita.>
“Não é pelo dinheiro. Quem trabalha com artesanato e só pensa nisso não consegue seguir em frente. É gratificante quando as pessoas dão valor ao que a gente faz. Passei para o meu filho e assim o negócio prossegue", ressalta. >
A família de Kênis já participou de vários eventos como a Arte Santo, na Praça do Papa, em Vitória, que conta com o apoio do Sebrae e da Aderes. Futuramente, eles planejam abrir uma lojinha na sede da Associação, que fica na Serra-Sede. >
Os pedidos podem ser feitos pelos telefones (27) 99515-6109 e (27) 99931-7658. >
Artesanato com Taboa
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