Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 14:04
As festas de fim de ano representam momentos de alegria e união familiar, mas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), essas celebrações podem se transformar em experiências extremamente desafiadoras — especialmente no caso das crianças autistas. >
Segundo o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo, correspondendo a 1,2% da população brasileira. Desse total, 1,4 milhões são homens e 1 milhão são mulheres. >
Situações aparentemente simples, como música alta, ambientes cheios, interrupções na rotina e contato físico inesperado, podem gerar sobrecarga sensorial e emocional. Para muitas famílias, isso significa lidar com crises, irritabilidade, isolamento ou a necessidade de sair mais cedo dos eventos. >
“É fundamental que as festas sejam planejadas levando em conta as necessidades sensoriais e emocionais da criança autista. Pequenas adaptações podem transformar completamente a experiência e permitir que ela participe com mais tranquilidade e prazer”, analisa Thalita Possmoser, psicóloga, especialista em ABA (Análise do Comportamento Aplicada) e vice-presidente Clínica da Genial Care, rede de cuidado de saúde atípica especializada em crianças autistas e suas famílias. >
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O barulho dos fogos de artifício é um dos principais gatilhos sensoriais nas celebrações de Natal e Ano-Novo. Para crianças com hipersensibilidade auditiva, sons muito altos, explosivos e imprevisíveis podem desencadear dor, medo, ansiedade e crises sensoriais. >
“O barulho intenso dos fogos pode estimular uma crise sensorial a partir da sobrecarga de estímulos. É como se a criança não conseguisse modular os estímulos e se desorganizasse completamente”, explica Thalita Possmoser. >
Em São Paulo, inclusive, a Lei Estadual nº 17.389/2021 proíbe a queima, soltura, comercialização, armazenamento e transporte de fogos com estampido em todo o estado, algo que ajuda a reduzir o impacto sobre pessoas com TEA, idosos e animais. >
Além dos estímulos sensoriais, as festas de fim de ano trazem outro desafio significativo às crianças autistas: as mudanças de rotina e a necessidade de frequentar casas de familiares ou ambientes desconhecidos. Pessoas com TEA têm grande necessidade da manutenção de uma rotina para se sentirem seguras e conseguirem se organizar. >
“As famílias de crianças com autismo costumam organizar sua rotina em função deste membro, tanto no que diz respeito à rotina domiciliar quanto à social. Mudanças bruscas na rotina devem ser evitadas e, quando necessárias, devem ser comunicadas à criança com a maior antecedência e naturalidade possível”, orienta Thalita Possmoser. >
Com organização e empatia, é possível criar um ambiente mais tranquilo e acolhedor. Pensando nisso, Thalita Possmoser compartilha algumas orientações essenciais para tornar as festas de fim de ano mais confortáveis para crianças autistas. Confira! >
Prepare a criança com antecedência, explicando quando, onde e o motivo das festas. Use calendários visuais, fotos e vídeos para mostrar que as festividades estão se aproximando e o que vai acontecer. Crianças com autismo têm dificuldades em lidar com tudo que foge à rotina, por isso a previsibilidade é uma estratégia essencial. >
Reserve um ambiente tranquilo, com objetos familiares e longe do barulho, onde a criança possa se retirar quando precisar de um momento de calma. Converse previamente com os anfitriões sobre esse espaço seguro. >
Utilize protetores auriculares de espuma (disponíveis em farmácias e capazes de reduzir até 30 decibéis) ou fones de ouvido com cancelamento de ruído. Se a criança já demonstrou desconforto com fogos anteriormente, considere permanecer em ambientes internos durante a queima. >
Prefira decorações com luzes neutras e estáticas ao invés de piscantes, que podem gerar desconforto sensorial. Ajuste a intensidade da iluminação sempre que possível. >
Permita que a criança escolha roupas confortáveis, mesmo que não sejam tradicionais para a ocasião. Não force interações sociais e respeite o tempo de permanência na festa. Tenha sempre um plano de saída caso seja necessário deixar o evento mais cedo. >
Leve brinquedos favoritos, objetos de conforto e, se possível, mantenha alguns alimentos da rotina da criança disponíveis, evitando mudanças drásticas na alimentação. >
Converse previamente com os convidados, explicando os desafios do TEA. A compreensão e a empatia dos presentes são fundamentais para criar um ambiente mais respeitoso e acolhedor. >
Abraços apertados e afetuosos (caso a criança aceite contato físico) podem causar sensação de confiança, proteção e conforto durante momentos de estresse. O afeto é essencial para proporcionar segurança. >
“Com essas adaptações, as festas podem se tornar momentos de alegria genuína para toda a família. O importante é lembrar que cada criança é única e pode precisar de estratégias personalizadas. Por isso, o acompanhamento com profissionais especializados, como terapeutas ocupacionais e psicólogos, é fundamental para desenvolver as melhores abordagens para cada caso”, finaliza Thalita Possmoser. >
Por Letícia Carvalho >
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