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Caso Hungria: saiba o que acontece no corpo na intoxicação por metanol

Caso Hungria: saiba o que acontece no corpo na intoxicação por metanol

Hungria deu entrada no hospital com dor de cabeça, náuseas, vômitos e visão turva e acidose metabólica. Esses sintomas são similares aos de alguém intoxicado por metanol

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Guilherme Sillva

Editor do Se Cuida / [email protected]

Publicado em 3 de outubro de 2025 às 14:38

Cantor-Hungria
Hungria  foi internado com suspeita de ter ingerido bebida adulterada. Crédito: Reprodução @Hungria_oficial

O rapper Gustavo da Hungria Neves, conhecido como Hungria, foi internado ontem num hospital em Brasília. Ele foi internado com suspeita de ter ingerido bebida adulterada. 

Segundo o primeiro boletim médico, o cantor deu entrada no hospital com dor de cabeça, náuseas, vômitos, visão turva e acidose metabólica, quando o corpo produz muito ácido e não consegue eliminar pelos rins. Esses sintomas são similares aos de alguém intoxicado por metanol. O músico está consciente, orientado, estável, com respiração espontânea e sem alterações visuais.

"O cantor Hungria encontra-se sob cuidados médicos após a suspeita de ter ingerido bebida adulterada, em situação que remete aos casos recentemente noticiados em São Paulo. Ele está sendo acompanhado pelo Dr. Leandro Machado, no Hospital DF Star, em Brasília. Por orientação médica e com o objetivo de preservar sua saúde, os shows previstos para este final de semana serão remarcados. O artista permanece em acompanhamento e já está fora de risco iminente. Agradecemos a compreensão dos fãs, da imprensa e de todos os parceiros neste momento", diz a nota. 

O que acontece no corpo

O infectologista Igor Marinho, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica que nessas situações é muito comum o paciente achar que está apenas de ressaca ou indisposto, já que os sinais iniciais se parecem. "Dor de cabeça, enjoo, cansaço e visão turva são alguns dos sinais. Isso pode atrasar a procura por atendimento médico ou até confundir equipes que não estejam bem treinadas e informadas, o que é perigoso".

Quando o metanol é ingerido, ele é metabolizado pelo fígado e, a partir disso, se transforma em compostos altamente prejudiciais, como o formaldeído e o ácido fórmico. 

Essas substâncias atacam principalmente o sistema nervoso central e os olhos, e podem causar acidose metabólica grave - um desequilíbrio químico perigoso no sangue que pode levar ao óbito

Igor Marinho

Infectologista

O médico diz que os sintomas podem evoluir para alterações visuais importantes  - como visão embaçada, perda parcial ou até cegueira -, além de falta de ar, confusão mental, convulsões e coma. Também pode ocorrer insuficiência renal e colapso cardiovascular com paradas cardiorrespiratórias em casos graves.

"Normalmente, os sintomas se manifestam entre seis e 24 horas após a ingestão. Esse intervalo pode variar dependendo da quantidade ingerida e se a pessoa também consumiu etanol (álcool comum), que pode retardar o aparecimento dos sintomas porque ambos competem pelo mesmo metabolismo no corpo", diz o infectologista. 

É preciso atenção

De acordo com a gastroenterologista e hepatologista Mayara Fiorot, nas 12 horas após a ingestão, os sinais da intoxicação podem ser pouco específicos. “Entre eles estão dor de cabeça, tontura, náusea, fadiga e visão turva. É justamente por isso que muitas vítimas não procuram ajuda imediata. O quadro inicial pode enganar, dando a falsa impressão de uma ressaca comum. A diferença, no entanto, é que o mal-estar tende a piorar progressivamente, em vez de melhorar com hidratação e repouso”, alerta.

A médica explica que quando o metanol entra no organismo, ele é metabolizado no fígado por enzimas que normalmente atuam sobre o etanol (o álcool comum das bebidas). “Nesse processo, o metanol é convertido em dois compostos extremamente tóxicos: formaldeído e ácido fórmico. Essas substâncias atacam principalmente o sistema nervoso central, a retina e o metabolismo celular, causando uma acidose metabólica grave, ou seja, um desequilíbrio químico no sangue que compromete órgãos vitais”, afirma a professora do Unesc.

Segundo ela, os sintomas podem surgir de 8h até 24h após a ingestão, mas em alguns casos só se tornam evidentes depois de 30 horas, especialmente se a pessoa também tiver ingerido etanol, que retarda o metabolismo do metanol. Essa variação de tempo aumenta o risco de confusão e atraso no diagnóstico. “Se a intoxicação não for identificada e tratada rapidamente, as consequências podem ser cegueira definitiva, insuficiência renal, coma e morte. O prognóstico depende diretamente da rapidez com que a pessoa chega ao hospital e recebe o tratamento adequado”, pontuou. A recomendação, de acordo com a médica, é que as pessoas evitem ingerir bebidas destiladas.

Sinais de alerta

O médico Vitor Brasileiro Fernandes, da Unimed Sul Capixaba, diz que o início dos sintomas pode variar de algumas horas até dois dias após a exposição, dependendo da quantidade ingerida, da presença de etanol (que retarda o metabolismo do metanol) e de fatores individuais.

Sem atendimento rápido, a intoxicação por metanol pode evoluir para cegueira irreversível, lesão cerebral permanente e óbito. O ácido fórmico é especialmente tóxico para o nervo óptico, levando à perda visual permanente

Vitor Brasileiro Fernandes

Médico

O tratamento consiste em medidas de suporte, correção da acidose metabólica, administração de antídotos que bloqueiam a formação dos metabólitos tóxicos (fomepizol, aprovado pela FDA nos EUA, ou etanol), e, em casos graves, hemodiálise para remover o metanol e o ácido fórmico do organismo. "O uso de ácido folínico pode ser considerado para acelerar a eliminação do ácido fórmico. O tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível para evitar complicações graves e irreversíveis", reforça o médico.

O infectologista Igor Marinho diz que os sinais são alterações visuais (visão turva, dificuldade para enxergar luzes), dor abdominal intensa, respiração acelerada, confusão mental, sonolência excessiva ou convulsões são sinais de alerta importantes. "Se houver suspeita de ingestão de bebida adulterada ou de algum produto com metanol, a pessoa deve procurar atendimento médico imediatamente, mesmo antes de os sintomas aparecerem".

O tratamento deve ser feito em hospital e de forma urgente. As principais medidas são a administração de antídotos (etanol ou fomepizol, dependendo da disponibilidade), a correção da acidose metabólica com bicarbonato e, em casos graves, a diálise para remover o metanol e seus metabólitos do organismo, além de suporte clínico intensivo para proteger os órgãos vitais.

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