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OMS deve reconhecer vício em videogames como distúrbio mental

OMS deve reconhecer vício em videogames como distúrbio mental

Rascunho da nova Classificação Internacional de Doenças lista o problema como desordem relacionada a comportamentos viciantes

Publicado em 5 de janeiro de 2018 às 18:59

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A dependência em videogames afeta principalmente jovens do sexo masculino . (Pixabay)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) deve incluir o vício em videogames como um distúrbio mental na próxima edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), que será apresentado em maio, na Assembleia Geral do órgão. O rascunho do documento lista a condição como uma “desordem relacionada a comportamentos viciantes”, junto à adicção em jogos de azar.

“A desordem relacionada aos jogos é caracterizada por um padrão de comportamento persistente ou recorrente (com jogos digitais ou videogames), que pode ser on-line ou offline, manifestada por: controle prejudicado sobre o jogo; aumento da prioridade dada ao jogo na medida em que ele assuma precedência sobre outros interesses da vida e atividades diárias; e continuação ou escalada dos jogos apesar da ocorrência de consequências negativas”, diz o rascunho do documento.

O comportamento pode ser classificado como uma desordem quando for suficiente para prejudicar a vida “pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou outras áreas importantes”. O padrão do excesso nos jogos eletrônicos deve ser “contínuo ou episódico e recorrente”, tendo duração por “ao menos 12 meses para que o diagnóstico” seja feito. Mas a duração requerida pode ser encurtada caso os sintomas sejam severos.

"Ter o distúrbio incluído na CID é um reconhecimento dos estudos realizados na busca por sintomas para a determinação dos critérios de diagnóstico e, o mais importante, propostas de tratamento", opina a psicóloga Luciana Nunes, fundadora do Instituto Psicoinfo. "E a inclusão no CID é pré-requisito para o atendimento em hospitais públicos e para a cobertura dos planos de saúde".

RECONHECIMENTO DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA

Esta será a 11ª atualização da CID, sendo que a última revisão foi publicada em 1992, quando a internet ainda era restrita a centros militares e institutos de pesquisas. O reconhecimento do vício em videogames segue decisão da Associação Americana de Psiquiatria, que incluiu a questão na 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, publicado em 2013, mas apenas como uma condição, não como uma desordem.

Segundo Luciana, os estudos sobre a dependência em jogos eletrônicos e internet começaram no início do século, mas houve uma demora na formalização do reconhecimento como desordem porque parte da comunidade médica questionava a necessidade de se criar uma nova classificação, pois os sintomas de diagnóstico são semelhantes com os do vício em apostas.

"Os diagnósticos podem ser semelhantes, mas a intensidade no vício em games é maior. Nós vemos quadros extremos de suicídio, abstinências extremamente graves, pacientes com crises parecidas com epiléticas e de violência. Como existe um quadro diferente, a classificação precisa ser diferente", explicou a psicóloga. "A inclusão do distúrbio na CID é um reconhecimento das influências da sociedade digital na vida das pessoas. Com novos dispositivos, novas tecnologias, surgem novos comportamentos".

PERFIL DO DEPENDENTE

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Bergen, na Noruega, traçou um perfil do viciado em videogames. Aparentemente, a desordem está associada com o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, transtorno obsessivo compulsivo e depressão. A prevalência é maior entre jovens do sexo masculino que não estejam num relacionamento.

"O envolvimento excessivo nos jogos pode funcionar como um mecanismo de escape para lidar com outras desordens psiquiátricas, numa tentativa de aliviar sentimentos inquietos", comentou a psicóloga Cecilie Schou Andreassen, do Departamento de Psicologia Social de Bergen.

A pesquisa foi realizada com mais de 20 mil entrevistados e considerou sete critérios para identificar o vício em videogame: pensar em jogar videogame durante o dia inteiro; o aumento no tempo gasto em games; jogar videogames para esquecer da vida real; outras pessoas já tentaram sem sucesso reduzir o uso do jogo; sensação negativa quando não se pode jogar; brigas com familiares e amigos sobre o tempo gasto em jogos; e o negligenciamento de outras atividades importantes, como os estudos e o trabalho, por causa dos games.

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O problema do vício em videogames é particularmente grave em países asiáticos, como China, Japão e Coreia do Sul, onde existem centros de reabilitação para jovens que não conseguem desapegar dos jogos digitais. A questão é tão séria que na Coreia do Sul o governo criou uma lei proibindo o acesso de menores de 16 anos a jogos on-line durante a madrugada. No Japão, os jogadores são alertados quando superam uma certa quantidade de horas mensais nos games. Na China, a gigante Tencent limitou o número de horas que as crianças podem jogar.

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