Publicado em 11 de abril de 2025 às 15:39
O presidente americano Donald Trump e seu entorno se esforçaram heroicamente nas últimas horas para fazer crer que os últimos sete dias não representaram o caos absoluto.>
A leitura indica que o jogo de xadrez 4D de Trump deixou a China em xeque. A economia chinesa certamente enfrenta um imenso golpe devido às tarifas punitivas impostas pelo seu maior mercado importador.>
Mesmo considerando o passo atrás dado pelo presidente, as tarifas de importação dos Estados Unidos ainda constituem um enorme muro protecionista – algo que não era visto desde os anos 1930.>
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O mundo tem, agora, uma tarifa universal de 10% sobre suas exportações para os Estados Unidos.>
Não importa se o país exporta menos para os Estados Unidos do que importa (como o Reino Unido e a Austrália). Não há diferença, por exemplo, entre a União Europeia – que claramente mantém um enorme déficit comercial e se preparava para a retaliação – e o Reino Unido.>
Fica também a ansiedade da espera pelo que virá a seguir.>
Uma das questões é se o presidente Trump irá levar adiante as tarifas sobre os remédios, o segundo maior produto de exportação do Reino Unido.>
Existe ainda em jogo um possível caos logístico, devido ao imposto portuário multimilionário para cada navio de carga "made in China" que atracar nos Estados Unidos.>
Esta medida passou quase despercebida e atinge mais da metade da frota mercante global. A cobrança deve entrar em vigor na sexta-feira (11/4).>
Mesmo com a pausa de 90 dias anunciada por Trump, para implementação das tarifas mais altas, as empresas continuam enfrentando muitas incertezas para definir o complicado redirecionamento do comércio global.>
Mas a questão central de hoje é que as duas principais superpotências econômicas do mundo estão se enfrentando como gato e rato.>
Tarifas de importação estratosféricas atingem massivamente os negócios entre as duas nações. Juntas, elas representam cerca de 3% de todo o comércio mundial.>
Com isso, o principal motor da economia global está, de fato, paralisado.>
As consequências visíveis de tudo isso se tornarão reais muito rapidamente. Fábricas chinesas irão fechar e trabalhadores irão bater às portas de cada uma delas, em busca de trabalho.>
Pequim precisará organizar um pacote de estímulos para compensar a perda de pontos percentuais do seu PIB. Será o tipo de medida normalmente tomada quando um desastre natural arrasa uma cidade importante: dolorosa, mas administrável a custos razoáveis, desde que seja temporária.>
Paralelamente, haverá uma escalada dos preços para o consumidor nos Estados Unidos. Trump poderá tentar exigir que as empresas americanas não aumentem seus preços, mas os efeitos não terão vida longa.>
Teoricamente, este será um forte contraste em relação ao que deve acontecer em outras partes do mundo. Na Europa e no Canadá, os produtos chineses não sofrerão aumento de preços. Na verdade, poderá até haver reduções.>
As guerras comerciais nesta escala não ficam confinadas ao fluxo de mercadorias. Elas costumam se transformar em guerras de moedas.>
O que vimos na noite de quarta-feira (9/4) foi a turbulência comercial que se espalhou para os mercados de crédito – especialmente o mercado de títulos da dívida americana, depois de atingir os preços das ações.>
É verdade que surgiu uma revelação valiosa para este conflito, se considerarmos a teoria dos jogos. O governo Trump revelou um ponto de pressão fundamental, com a sua preocupação com o mercado de títulos da dívida.>
O presidente classificou este mercado como yippy – um termo de golfe que designa um jogador que está nervoso, a ponto de poder errar uma jogada.>
À medida que as negociações sobre a dívida do governo americano continuaram ao longo da noite na Ásia, entre quarta e quinta-feira, a taxa de juros efetiva sobre estes títulos aumentou para 5%.>
Este tipo de empréstimo não deveria caminhar de forma tão errática.>
A última vez em que isso aconteceu foi no momento de fragilidade financeira ocorrido logo no início da pandemia. Foi a chamada "Caça ao Dinheiro" nos Estados Unidos.>
Naquele momento (março de 2020), o mundo estava preocupado com questões de vida ou morte. Mas a crise financeira advinda da pandemia só foi reduzida com medidas de emergência.>
Na verdade, o recuo do presidente foi uma forma de mudança emergencial da sua política.>
Estaria o governo chinês por trás desta corrida aos títulos do governo americano na Ásia? Provavelmente, não.>
Mas o que aconteceu na quarta-feira (9/4) destacou uma vulnerabilidade de Donald Trump.>
A China é o segundo maior portador de títulos da dívida do governo americano do mundo. Se ela decidisse se desfazer de toda esta dívida, os resultados seriam catastróficos para os Estados Unidos.>
Mas esta decisão seria uma espécie de destruição econômica mútua, já que a China também sofreria imensas perdas.>
O mais importante é que o mercado de títulos da dívida manifestou a Trump seu profundo ceticismo pela política de tarifas do governo americano.>
É claro que os Estados Unidos têm o Federal Reserve (o Banco Central americano), que detém algum poder de tranquilizar este mercado. Mas, no momento, não parece que seu presidente Jerome Powell sairá ao resgate.>
O mercado de títulos da dívida demonstra o mesmo ceticismo do secretário americano do Tesouro, Scott Bessent. Agora em ascensão, ele está incentivando Trump a fazer acordos comerciais com seus aliados. Afinal, os Estados Unidos precisam deles para enfrentar a China.>
Como os Estados Unidos vinham chamando estes mesmos aliados próximos de trapaceiros, saqueadores e assaltantes, é impossível imaginar que esta tenha sido a estratégia do governo americano desde o princípio.>
Isso é muito importante. Os Estados Unidos precisam ter ao seu lado a União Europeia, o Reino Unido e o restante do G7 frente à China. E Pequim provavelmente precisa que estes países simplesmente fiquem neutros e passem a absorver suas exportações.>
O resto do mundo observou a equipe de Trump em dificuldades para explicar as tarifas impostas a economias pobres da África ou às duas ilhas habitadas por pinguins. E o próprio presidente voltou a mencionar a ideia de que ele estaria quebrando de propósito os mercados de ações.>
O mundo também testemunhou a mudança das tarifas de importação depois de entrarem em vigor, sem falar na natureza absurda da equação empregada para o seu cálculo.>
É neste contexto que o tratamento da situação por Donald Trump fez o resto do mundo se retrair. Afinal, nem amigos, nem inimigos irão negociar com os Estados Unidos enquanto a situação estiver desta forma.>
Existe uma calmaria, que é bem recebida por todos. Mas ela pode durar pouco.>
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