Publicado em 23 de junho de 2025 às 20:02
SÃO PAULO - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda (23) um cessar-fogo na guerra entre Israel e Irã, após 12 dias de troca de fogo aéreo. Ele fez a postagem em rede social horas depois de aceitar um ataque retaliatório simbólico de Teerã contra a principal base americana no Oriente Médio.>
"Parabéns a todos! Israel e o Irã concordaram que haverá um cessar-fogo completo e total", escreveu Trump na sua rede social, a Truth Social. Ele disse que o acordo começa a valer daqui a seis horas e que terá duas fases: primeiro, Teerã suspenderá seus ataques por doze horas e, após esse período, Israel fará o mesmo. Ao final de 24 horas, segundo Trump, a guerra terá terminado.>
"Eu gostaria de parabenizar os dois países por seu fôlego, coragem e inteligência para encerrar o que deveria ser chamado de 'guerra dos doze dias'. Ela poderia ter durado anos e destruído o Oriente Médio, mas isso não aconteceu nem acontecerá!", prosseguiu Trump.>
A postagem não trata de temas fundamentais, como a negociação acerca do programa nuclear iraniano, o "casus belli" usado por Israel para iniciar os maiores ataques em 46 anos de rivalidade com a teocracia instalada pela Revolução Islâmica de 1979.>
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O premiê Binyamin Netanyahu alegou que o impasse nas conversas EUA-Irã, mais o relatório da ONU indicando que o país persa está em violação de suas obrigações de transparência, significava que Teerã estava a um passo de ter até 15 bombas. Israel tem 90 ogivas nucleares.>
Trump entrou na guerra no sábado (21), quando uma espetaculosa operação militar bombardeou três instalações nucleares do Irã, uma delas a fortaleza subterrânea de Fordow. Ele alegou ter obliterado todo o programa dos aiatolás, algo discutível segundo seus próprios generais.>
Seja como for, a senha para uma solução da crise estava dada, já que Trump disse querer a paz. O Irã rejeitou o ultimato e prometeu retaliar, o que fez nesta segunda, deixando o mundo com a respiração presa devido ao temor de uma escalada.>
Na hora da ação, contudo, fez algo simbólico: lançou 14 mísseis contra a maior base americana no Oriente Médio, Al-Udeid, que fica em Doha. Só que avisou tanto os EUA quanto o Catar, país com quem tem boas relações, que iria fazer o ataque.>
A base em si já tinha tido quase todos seus aviões retirados pelos EUA. Ao fim, 13 mísseis foram abatidos e 1, perdido sem consequências. O Qatar falou grosso, os países da região entraram em alerta, mas rapidamente o próprio Trump desfez o teatro.>
Foi à Truth Social agradecer o aviso prévio do Irã, reafirmar que seu ataque foi devastador no sábado e que estava na hora de Irã e Israel pararem a guerra. Aparentemente, tudo estava previamente combinado.>
Passadas mais duas horas, veio o anúncio do cessar-fogo. Ele ocorreu após tanto Teerã quanto Tel Aviv emitirem alertas de que iriam lançar ataques uma contra a outra nesta madrugada de terça (24, noite de segunda no Brasil).>
Agora é ver se o combinado será cumprido. Da forma que foi feita, algo farsesca, a acomodação serve aos três atores da crise, embora haja muitas dúvidas subsequentes.>
Trump fez o anúncio tendo em mãos nova pesquisa Ipsos/Reuters na qual sua popularidade está no menor nível do novo mandato, iniciado em janeiro, e que apontava o temor do americano de mais uma guerra no Oriente Médio com participação de Washington.>
Na última semana, o americano recebeu diversas críticas de integrantes de sua base ideológica, que o acusavam de trair a promessa de não mais ser o policial do mundo.>
Apesar do agradecimento pelo aviso do Irã, Trump está fixando seu eixo narrativo na ideia ainda imprecisa de que os aiatolás não poderão mais fazer a bomba. E com esse discurso tenta acabar o conflito, retomando a imagem de pacificador que tentou vender sem sucesso antes em Gaza e na Ucrânia.>
Para Teerã, há um alívio militar importante. A campanha israelense anulou a defesa aérea do país, onde caças de Tel Aviv operam quase impunemente. Sua retaliação contra o Estado judeu, na forma de quase 500 mísseis balísticos e centenas de drones, causou muita destruição, mas vinha minguando — seja por falta de recursos imediatos ou de estoques futuros.>
Assim, o ataque ao Catar serviu para o aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do regime, tomar o manto de vencedor para seu público interno. "Nós não agredimos ninguém, mas não vamos aceitar agressão de ninguém", postou ele no X, antes do anúncio do cessar-fogo.>
O fim do conflito interessa aos dois rivais. O Irã está tendo suas capacidades de defesa dizimadas. Trump busca driblar as críticas de sua base, que não aceitam intervenções estrangeiras dos EUA, e as pesquisas mostram que sua aprovação está em baixa.>
Com isso, o cenário repete janeiro de 2020, quando Teerã atacou uma base americana no Iraque após Trump, em seu primeiro mandato, ter mandado matar o mais importante general iraniano, Qassim Suleimani, em Bagdá. Ambos os lados se proclamaram vencedores, e a tensão baixou.>
Por fim, mas não menos importante, Netanyahu consegue uma vitória política em um momento em que estava em baixa devido à tragédia humanitária que provoca em Gaza, onde luta uma guerra desde que o Hamas, grupo terrorista palestino apoiado pelo Irã, lançou o mega-ataque de 7 de outubro de 2023.>
A guerra existencial contra o Irã tinha apoio popular em Israel, e melhorou as condições eleitorais do premiê que, se perder o cargo, terá de responder rapidamente à Justiça por acusações de corrupção pelas quais é julgado.>
Ainda é algo incerto o impacto de longo prazo da destruição causada pelo Irã em grandes cidades de Israel, como Tel Aviv e Haifa. Morreram no Irã mais de 400 pessoas na campanha, segundo o governo, e 24 em Israel. Os feridos são milhares.>
O ataque iraniano, segundo Trump algo salutar porque tirou ódio "do sistema" dos aiatolás, foi recebido com temor de uma escalada, em especial por envolver mais um país na confusão.>
Mais cedo, Israel havia feito ataques pesados a centros ligados ao regime de Teerã, sinalizando buscar sua queda. Essa motivação subjacente foi admitida por Netanyahu e insinuada por Trump, mas dada as circunstâncias atuais, ficou para outro momento.>
O mesmo não se sabe sobre a questão atômica. O vice de Trump, JD Vance, foi às redes para dizer que Teerã irá se ver com as forças americanas caso insista na busca pela bomba. Como isso será pactuado, ainda é uma incógnita.>
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