Publicado em 17 de dezembro de 2025 às 06:44
Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 16 anos de prisão por crimes ligados à tentativa de golpe de Estado, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) já custou ao menos R$ 532 mil aos cofres públicos desde que deixou o Brasil, em setembro, e foi para os Estados Unidos.>
O valor é a soma dos salários brutos, verba de gabinete para funcionários e cota parlamentar dos meses de setembro, outubro e novembro.>
Por determinação do STF, a Câmara dos Deputados suspendeu em dezembro o salário e a cota parlamentar do deputado. A estrutura do gabinete, ao menos até novembro, teve custo superior a R$ 100 mil por mês, segundo consta no site da instituição.>
De janeiro a novembro deste ano Ramagem gastou R$ 1,4 milhão em verba de gabinete, o equivalente a 98,6% do total disponível ao parlamentar no ano, segundo dados da Câmara. Desses, R$ 399,3 mil são de setembro em diante.>
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A verba de gabinete financia até 25 secretários parlamentares, com salários que podem chegar a R$ 18,7 mil. Atualmente, Ramagem mantém 17 assessores, segundo o site da Câmara.>
Além disso, houve R$ 328,7 mil em despesas com a cota parlamentar, principalmente com aluguel de veículos (33,2%) e divulgação da atividade parlamentar (28,69%). Desse total, R$ 36 mil foram pagos de setembro em diante.>
Ramagem também recebeu integralmente os salários de setembro e outubro, no valor bruto de R$ 46.366,19 por mês. Em novembro houve pagamento parcial, de R$ 4,1 mil.>
Segundo o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, Ramagem saiu do país de forma clandestina, pela fronteira com a Guiana, e usou passaporte diplomático para entrar nos Estados Unidos, para onde fugiu.>
Ele teria viajado de avião para Boa Vista, em Roraima, de onde partiu de carro, em uma viagem clandestina em direção à fronteira.>
"A rota parece muito clara, via Guiana, saindo clandestinamente do Brasil, não passando por nenhum ponto de fiscalização", disse o diretor-geral da PF.>
Em novembro, o ministro Alexandre de Moraes decretou a prisão preventiva do parlamentar e que a Câmara casse seu mandato. Na segunda-feira, 15/12, pediu aos EUA a sua extradição.>
O deputado apresentou à Câmara, em setembro, um atestado de 30 dias para tratamento de saúde, renovado em 13 de outubro. A licença médica é válida até 12 de dezembro. Apesar disso, ele participou de votações de forma remota.>
A Câmara informou que não foi comunicada sobre a saída do parlamentar do território nacional nem autorizou qualquer missão oficial no exterior.>
Em nota à BBC, a Câmara afirmou que o pagamento do salário e o uso da cota parlamentar pelo deputado estão sendo tratados em decisão judicial sob segredo de justiça.>
Ramagem não respondeu ao pedido de esclarecimento enviado pela reportagem ao seu gabinete. O espaço segue à disposição.>
Ramagem foi um dos oito réus condenados em setembro pela Primeira Turma do STF pelos crimes de: organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.>
De acordo com a PGR, ele teria usado a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), da qual era diretor, em favor dos planos golpistas — comandando uma "Abin paralela" que monitoraria adversários e críticos do governo Bolsonaro, além de produzir informações falsas e ataques virtuais.>
Além disso, Ramagem teria fornecido a Jair Bolsonaro material para apoiar o ataque às urnas eletrônicas e a intervenção das Forças Armadas.>
O parlamentar foi o único réu no julgamento que foi acusado e condenado por três crimes, e não cinco.>
Por ser deputado federal (PL-RJ), ele não respondeu às acusações de dano contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado, ambas ligadas aos ataques de 8 de janeiro.>
Isso porque a Primeira Turma do STF decidiu suspendê-las por conta de sua imunidade parlamentar durante o mandato — já que, segundo a acusação, esses crimes teriam acontecido após Ramagem assumir o cargo.>
Em suas alegações finais no julgamento, a defesa do deputado pediu sua absolvição.>
"Alexandre Ramagem não pode ser responsabilizado por cada ato praticado no âmbito da Abin durante sua gestão, com base no simples fato de que era o diretor-geral do órgão, salvo se se admitisse eventual responsabilização por culpa", afirmou a defesa.>
Alexandre Ramagem foi diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entre 2019 e 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro. >
Antes de entrar na política, era delegado da Polícia Federal. Na PF, foi responsável pelas divisões de Administração de Recursos Humanos (2013 e 2014) e de Estudos, Legislações e Pareceres (2016 e 2017).>
Também fez parte da equipe de investigação da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro em 2017.>
Ramagem ficou mais próximo de Bolsonaro quando foi designado para chefiar a equipe de segurança do ex-presidente, na época candidato à presidência, após ele ser vítima de uma facada durante a campanha eleitoral de 2018.>
Com a posse de Bolsonaro, Ramagem foi chamado para o governo, tendo primeiro atuado como assessor especial da Secretaria de Governo, quando a pasta era comandada pelo general Carlos Alberto Santos Cruz.>
Em junho de 2019, deixou essa função para assumir a Abin.>
Em abril de 2020, Bolsonaro tentou nomear Ramagem como diretor da Polícia Federal, mas a medida foi barrada pelo STF, em decisão de Moraes.>
O ministro do STF acatou pedido do PDT, que argumentou que a amizade entre Bolsonaro e Ramagem comprometiam "os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e do interesse público", necessários para nomear o diretor da PF.>
Na época, circulou uma foto de Ramagem ao lado dos filhos do presidente em uma festa de Ano Novo, na virada de 2018 para 2019.>
Em 2022, o diretor da Abin deixou o cargo para se candidatar a deputado federal pelo Rio de Janeiro, sendo eleito com 59 170 votos. >
Em 2024, ele concorreu à Prefeitura do Rio de Janeiro, mas não teve sucesso nas urnas. >
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