Publicado em 29 de julho de 2025 às 04:25
A proposta do governo que eleva a tributação dos contribuintes ricos, com renda anual a partir de R$ 600 mil, deve ser analisada na Câmara dos Deputados em agosto.>
A ideia da administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é criar um imposto para os super-ricos, afetando cerca de 140 mil contribuintes brasileiros, para abrir espaço para isentar de imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil por mês.>
Pela proposta do governo, a alíquota do imposto mínimo dos super-ricos cresceria de acordo com a renda. >
Quem ganha em torno de R$ 50 mil pagaria uma alíquota próxima de zero. Essa alíquota subiria gradativamente até 10% — valor cobrado de quem tem rendimentos superiores a R$ 100 mil mensais (R$ 1,2 milhão ao ano).>
>
A proposta de reforma foi aprovada com facilidade na comissão especial da Câmara dos Deputados em 16 de julho e a expectativa é de que seja apreciada no plenário da Casa nas próximas semanas. >
Mas para o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a proposta de alíquota mínima para os super-ricos deve ser analisada com mais cuidado. >
Em entrevista à BBC News Brasil, o executivo da área financeira afirmou que "aumentos generalizados" para pessoas de alta renda e empresas podem prejudicar a competitividade do país. >
"Isso é uma coisa que tem que ser olhada com um pouco de cuidado. A isenção àqueles de menor renda, [está] tudo bem. O problema são esses aumentos generalizados para pessoas de renda mais alta ou para empresas", diz.>
"Isso aí pode, digamos, prejudicar um pouco da competitividade, com o país sendo visto pelos investidores e etc como de taxação ainda mais elevada.">
O ex-ministro diz que o Brasil é dos países que mais tributam no mundo, "principalmente entre os emergentes". "A nossa carga tributária é muito elevada. Então, aumentar ainda mais, tem algumas desvantagens importantes nesse aspecto de competitividade", afirma.>
Meirelles argumenta ainda que países com alta carga tributária, como alguns no norte da Europa, taxam muito, mas "oferecem muitas vantagens para os seus habitantes". >
Por outro lado, afirma, eles "não são grandes competidores no comércio internacional". >
"Os maiores competidores no comércio internacional hoje, além dos Estados Unidos, são a China, o Vietnã, etc", disse à BBC News Brasil. >
>
Meirelles serviu como presidente do Banco Central de 2003 a 2011 (primeiro e segundo governos Lula) e como ministro da Fazenda do governo de Michel Temer entre 2016 e 2018. >
Ele também concorreu à Presidência pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) nas eleições de 2018, quando declarou um patrimônio líquido de R$ 377,497 milhões em bens. >
Questionado pela BBC News Brasil sobre a possibilidade da proposta de taxação dos mais ricos afetá-lo pessoalmente, o ex-ministro disse não ter examinado o caso sob "esse ponto de vista" e afirmou não estar preocupado. >
"Não sei, acho que pode ser. Eu não cheguei a examinar sob esse ponto de vista no momento. Mas não é algo que está me preocupando", diz.>
Meirelles também negou que sua opinião sobre o projeto tenha qualquer relação com sua condição financeira. >
A pauta de reforma do IR é uma promessa antiga do governo Lula e também tem sido levada pelo presidente a foros internacionais. O Brasil defende no G20 e nos Brics esforços globais de taxação dos super-ricos.>
O mesmo debate também existe em diversos países. Mas — como no Brasil — há dificuldades de se calcular exatamente quanto de impostos os ricos pagam, dado o sigilo em torno desses dados.>
Um estudo brasileiro de 2024 sugere que os mais ricos no Brasil — com rendimento mensal superior a R$ 37 mil — pagam cerca de 14% de impostos. Segundo o estudo, esse valor é semelhante ao que uma pessoa com rendimento mensal de R$ 6 mil paga — o que mostraria que os muito ricos estão pagando a mesma alíquota que uma pessoa de classe média.>
Mas pessoas ainda mais ricas que isso estariam pagando alíquotas totais menores, abaixo de 13%.>
A implicação é que a tributação no Brasil seria regressiva, ou seja, que a estrutura de cobrança de impostos do país estaria agravando as desigualdades, deixando os ricos ainda mais ricos em relação aos demais.>
Nos EUA, uma investigação afirma que alguns dos americanos mais ricos pagam uma alíquota próxima a 15% — mas alguns bilionários, como Jeff Bezos e Elon Musk, teriam pago zero impostos em alguns anos, se aproveitando de brechas legais.>
Já no Reino Unido, um estudo de 2020 sugere que os britânicos ricos pagam alíquotas maiores do que nos EUA e Brasil. E os ricos respondem por grande parte da receita tributária do governo.>
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta