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Suspensão de tarifas por Trump 'é passo na direção certa', diz Celso Amorim

Suspensão de tarifas por Trump 'é passo na direção certa', diz Celso Amorim

Governo espera que negociações continuem para reduzir tarifas sobre manufaturados. Menção de Trump a conversa de Lula foi interpretada como recado a apoiadores do ex-presidente na Casa Branca.

Publicado em 20 de novembro de 2025 às 21:24

Imagem BBC Brasil
null Crédito: SERGIO LIMA/AFP via Getty Images

O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, avaliou que a suspensão das tarifas de 40% sobre alguns produtos agrícolas brasileiros feita pelo governo dos Estados Unidos e anunciada nesta quinta-feira (20/11) é "um passo na direção certa".

"É uma medida positiva. É resultado de um trabalho cuidadoso no nível político, diplomático e no das negociações. É um passo na direção certa", disse o embaixador pouco antes de embarcar para a África do Sul, onde será realizada a Cúpula de Líderes do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo.

No entanto, um integrante do governo brasileiro que falou à BBC News Brasil em caráter reservado apontou que apesar da sinalização positiva do governo americano, a redução das tarifas desta quinta-feira ainda não resolve totalmente o imbróglio.

Segundo esta fonte, a medida corrige o que ele classificou como um "erro" cometido pelos americanos em julho ao anunciar a tarifa de 40% com a principal justificativa de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria sofrendo uma perseguição política classificada por Trump como uma "caça às bruxas" que precisava parar.

Desde a aplicação do tarifaço, o governo brasileiro reagiu afirmando que não cederia à pressão americana e que o julgamento de Bolsonaro seguiria de acordo com os trâmites determinados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O integrante do governo ouvido pela reportagem acrescentou que é preciso haver uma negociação para a redução das tarifas sobre produtos manufaturados brasileiros que ainda enfrentam sobretaxas.

Um outro funcionário do governo brasileiro ouvido pela BBC News Brasil em caráter reservado chamou atenção para o fato de que o decreto assinado por Trump fazer uma menção direta às conversas mantidas com Lula.

No decreto, Trump mencionou expressamente a ligação telefônica de 6 de outubro entre os dois, "durante a qual concordamos em iniciar negociações".

Segundo esta fonte, essa menção serviria tanto como um recado aos negociadores brasileiros, indicando que o processo deverá continuar, quanto aos integrantes do governo americano que, eventualmente, ainda apoiem Bolsonaro

Anúncio de Trump vem após negociação com governo Lula

Quando essas tarifas começaram a valer, em 30 de julho, o governo americano anunciou uma lista de exceções, com quase 700 produtos.

Agora, Trump ampliou essa lista, adicionando dezenas de outros itens, entre eles café, diversos cortes de carne bovina, açaí, tomate, manga, banana e cacau.

Além de mencionar a conversa com Lula, o presidente americano afirmou também que recebeu recomendações de diversos funcionários americanos sobre a suspensão de "certas importações agrícolas do Brasil".

A medida, segundo o decreto, vale para as mercadorias que chegaram aos Estados Unidos a partir do dia 13 de novembro.

Essa data, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, se reuniram em Washington, para mais uma rodada de negociação das tarifas.

Trump afirmou, no entanto, que o Secretário de Estado, Marco Rubio, "continuará monitorando as circunstâncias relativas" às razões pelas quais os Estados Unidos impuseram tarifas ao Brasil.

"O Secretário de Estado me informará sobre qualquer circunstância que, em sua opinião, possa indicar a necessidade de novas medidas por parte do Presidente", escreveu Trump.

A crise diplomática aberta entre Brasil e Estados Unidos por conta do tarifaço começou a dar sinais de que poderia diminuir em setembro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump se encontraram em Nova York, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas.

O encontrou, segundo relatos, durou menos de um minuto e abriu caminho para uma aproximação entre os dois.

No dia 26 de outubro, os dois voltaram a se encontrar, na Malásia, na sua primeira reunião bilateral. Na ocasião, a dupla acertou que as diplomacias dos dois países deveriam se encontrar nas semanas seguintes para dar sequência às negociações sobre o tarifaço.

Em 14 de novembro, Trump já havia anunciado a suspensão de parte das "tarifas recíprocas" de 10% aplicadas em abril passado a todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos sobre uma série de produtos agrícolas.

Entre eles, estavam itens produzidos pelo Brasil como o café, cortes de carne bovina, açaí, castanha-do-Pará, tapioca, mandioca e frutas como banana, laranja e coco, dentre outros.

No entanto, a tarifa adicional de 40%, imposta por Trump sobre vários produtos brasileiros em julho, havia sido mantida naquele momento, embora já houvesse então expectativa do governo brasileiro de que fossem revertidas em um futuro próximo, como disse Vieira após a última reunião com Rubio.

O anúncio ocorre em um momento em que o governo americano enfrenta crescente pressão devido ao aumento da inflação no país.

Uma análise do centro de pesquisas Tax Foundation destaca o Brasil como quarto maior fornecedor de alimentos para os EUA, com US$ 7,4 bilhões em importações, atrás de União Europeia (US$ 31 bilhões), México (US$ 17,6 bilhões) e Canadá (US$ 15,6 bilhões).

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