Publicado em 22 de junho de 2025 às 17:38
O Irã respondeu com fúria aos ataques aéreos dos Estados Unidos durante a noite contra três de seus sites nucleares, prometendo o que chamou de "consequências eternas".>
Mas, além das palavras, há discussões febris ocorrendo nos níveis mais altos do aparato de segurança e inteligência do Irã.>
Deve o país escalar o conflito retaliando contra interesses dos EUA ou, como pediu o presidente norte-americano Donald Trump, negociar — o que, na prática, significa desistir de todo o enriquecimento de urânio dentro do Irã?>
Esse debate interno acontece em um momento em que muitos comandantes iranianos de alto escalão estão olhando por cima do ombro, se perguntando se serão o próximo alvo de um ataque aéreo de precisão de Israel — ou se alguém na sala já os traiu para o Mossad, a agência de inteligência exterior de Israel.>
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De forma geral, há três caminhos estratégicos possíveis agora para o Irã. Nenhum deles é isento de riscos, e o principal fator considerado por quem toma as decisões é a sobrevivência do regime da República Islâmica.>
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Muitos estarão clamando por vingança. O Irã foi humilhado — primeiro por Israel, agora pelos Estados Unidos, a quem frequentemente se refere como "o Grande Satã".>
A troca de mísseis entre Irã e Israel já dura dez dias, mas retaliar contra os EUA representa um novo nível de risco — não só para o Irã, mas para toda a região.>
Estima-se que o Irã ainda detenha cerca da metade de seu estoque original de aproximadamente 3.000 mísseis, tendo usado e perdido o restante nos embates com Israel.>
O Irã tem uma lista de cerca de 20 bases dos EUA como alvos potenciais em todo o Oriente Médio.>
Um dos mais próximos — e mais óbvios — é o vasto quartel-general da poderosa 5ª Frota da Marinha dos EUA, localizado em Mina Salman, no Bahrein. Mas o Irã pode hesitar em atacar um Estado árabe vizinho do Golfo. Mais provável seria recorrer a seus aliados no Iraque e na Síria para atacar bases americanas relativamente isoladas, como At-Tanf, Ain al-Asad ou Erbil — algo que já fez antes.>
Quando Trump ordenou o assassinato do líder da Força Quds, Qassim Suleimani, em 2020, o Irã respondeu atacando militares dos EUA no Iraque, mas evitou causar mortes ao dar aviso prévio. Desta vez, pode não fazer o mesmo.>
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O Irã também poderia lançar "ataques em enxame" contra navios de guerra da Marinha dos EUA, usando drones e lanchas rápidas com torpedos — algo que a Marinha da Guarda Revolucionária pratica há anos.>
Se optar por essa via, o objetivo seria sobrecarregar as defesas navais dos EUA pelo volume de ataques. O Irã também poderia acionar seus aliados no Iêmen, os houthis, para retomar os ataques a navios ocidentais que cruzam o trecho entre o oceano Índico e o mar Vermelho.>
Há ainda alvos econômicos que o Irã poderia atingir — mas isso colocaria em risco a frágil convivência que o país alcançou com seus vizinhos do Golfo.>
O alvo mais grande e mais sensível nesse campo seria o Estreito de Ormuz, por onde passam diariamente mais de 20% dos suprimentos globais de petróleo. O Irã poderia minar o estreito com explosivos marítimos, criando um perigo mortal para embarcações civis e militares.>
Outro caminho possível é o ciberespaço. Irã, ao lado de Coreia do Norte, Rússia e China, possui uma capacidade sofisticada de ataques cibernéticos. Inserir malware destrutivo em redes ou empresas americanas certamente está entre as opções em avaliação.>
Essa opção envolveria esperar até que a tensão atual diminuísse e lançar um ataque surpresa no momento escolhido pelo Irã — quando as bases dos EUA não estivessem mais em alerta máximo.>
Esse ataque poderia atingir missões diplomáticas, consulares ou comerciais dos EUA, ou ainda envolver o assassinato de indivíduos.>
O risco aqui, claro, é que tal ação provocaria novos ataques dos EUA justamente quando a população iraniana começasse a retomar a normalidade.>
Essa seria uma atitude de grande contenção por parte do Irã, mas evitaria novos ataques dos EUA. O país poderia inclusive optar pela via diplomática e retomar as negociações com os americanos — embora o chanceler iraniano tenha afirmado que o Irã nunca abandonou essas negociações, e que foram Israel e os EUA que as destruíram.>
Mas retomar o diálogo com os EUA em Muscat, Roma ou outro local só faria sentido se o Irã estivesse disposto a aceitar a exigência básica imposta por EUA e Israel: para manter um programa nuclear civil, o Irã deve enviar todo o urânio ao exterior para enriquecimento.>
Não fazer nada após sofrer um ataque de tal magnitude também faria o regime iraniano parecer fraco — especialmente depois de ter ameaçado com severas consequências caso os EUA atacassem.>
No fim, o regime pode decidir que o risco de enfraquecer seu controle sobre a população supera o custo de sofrer novos ataques americanos.>
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