Publicado em 10 de agosto de 2025 às 10:25
Entre as grandes economias da América Latina, o Peru, México e o Brasil (nesta ordem) foram os países que verificaram o maior aumento dos investimentos estrangeiros diretos em 2024, em comparação com o ano anterior.>
"Os investidores têm maior confiança nestes países", declarou à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) a professora Mine Doyran, da Escola de Negócios da Universidade da Cidade de Nova York (CUNY, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.>
"Eles observam condições favoráveis para fazer negócios, potencial de crescimento e um ambiente mais estável", explica ela.>
Por outro lado, a redução do fluxo de capital vindo do exterior costuma ser um sinal de preocupação sobre a estabilidade econômica, o ambiente político ou as perspectivas de crescimento de um país.>
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É claro que sempre existem nuances. Não se trata apenas de analisar o quanto aumentou ou diminuiu o volume de investimento estrangeiro.>
Existe uma questão ainda mais importante que os valores, que é o tipo de investimento.>
Na América Latina, os investimentos estrangeiros diretos (IED) cresceram em 2024 em 7,1%, em relação ao ano anterior. Ao todo, foram investidos US$ 189 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão), equivalentes a 2,8% do Produto Interno Bruto da região).>
Mas, ao mesmo tempo em que os IED aumentaram, a entrada de novos investidores na região permaneceu estagnada.>
Isso se explica, basicamente, porque os IED incluem vários itens em uma mesma cesta.>
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De um lado, os números refletem a chegada de capital novo do exterior, o que é conhecido tecnicamente como aporte de capital. Mas eles também incluem os reinvestimentos de lucros de empresas estrangeiras no mesmo país.>
E, por fim, os IED também consideram os empréstimos feitos entre as companhias.>
O que aconteceu na América Latina em 2024, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), é que o aumento dos investimentos estrangeiros se deveu ao reinvestimento de fundos por empresas internacionais que já operavam na região, não ao ingresso de novas companhias multinacionais.>
E a estagnação da entrada de novos investidores "reflete o baixo interesse de novas empresas em ingressar na região", segundo Doyran.>
Por isso, analisando o panorama como um todo, a professora afirma que os dados de IED "são boas e más notícias ao mesmo tempo": as empresas instaladas na região reinvestiram seus lucros em vez de levá-los embora, mas não houve entrada de capital novo.>
Entre as maiores economias da região, três países registraram o maior aumento dos investimentos estrangeiros diretos: Peru (57%), México (48%) e Brasil (14%).>
O que estes dados dizem sobre a economia dos três países?>
Doyran explica que, basicamente, os dados sugerem que os investidores "possuem mais confiança" nestas nações.>
Ela destaca que este é um ponto importante, pois os investimentos nestes países representam compromissos comerciais de longo prazo. Ou seja, os investidores observam condições favoráveis para fazer negócios, potencial de crescimento e estabilidade política e econômica no horizonte.>
O Brasil foi o terceiro país latino-americano com maior aumento de investimentos estrangeiros em 2024.>
A entrada de capital estrangeiro aumentou em 14%, atingindo US$ 71 bilhões (cerca de R$ 391 bilhões), principalmente devido ao reinvestimento de lucros das empresas já presentes no país.>
O setor industrial foi o que mais atraiu investimentos estrangeiros em 2024, principalmente em relação aos derivados de petróleo, biocombustíveis e coque, utilizado principalmente na indústria siderúrgica.>
Para Doyran, "é bom que os investimentos no setor industrial aumentem no Brasil e no México".>
A professora explica que este é um sinal positivo, pois as indústrias normalmente criam mais empregos, que podem gerar maior valor agregado aos produtos.>
O México ocupa o segundo lugar da lista. O aumento dos IED foi de 48%, atingindo US$ 45,3 milhões (cerca de R$ 249,4 milhões), o valor mais alto desde 2013.>
Parte do aumento dos investimentos estrangeiros no México, segundo os especialistas, está relacionado com o nearshoring — a prática de relocação de empresas para perto do mercado americano, em meio às tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China.>
Além disso, os investidores estrangeiros mantiveram sua confiança no ambiente comercial mexicano.>
Dados da Cepal indicam que a maior parte do aumento dos IED no México se deveu ao reinvestimento de lucros das empresas que já operam no país, seguido pelos empréstimos entre as companhias.>
O setor industrial foi o que mais impulsionou os investimentos estrangeiros no México no ano passado. E os Estados Unidos continuaram sendo a principal fonte de entradas de IED no país, com um aumento de 23% em relação ao ano anterior, seguidos pelo Japão e pela Alemanha.>
Atualmente, existe um certo nível de incerteza sobre os planos de investimentos americanos no México, frente à política do presidente Donald Trump de impor tarifas de importação sobre os automóveis, aço, alumínio, peças metálicas e tomates produzidos no país.>
Mas, apesar das incertezas, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou o crescimento econômico mexicano para este ano em 0,2% — uma estimativa mais positiva do que a contração da economia prevista anteriormente.>
O país latino-americano que registrou o maior aumento dos investimentos estrangeiros diretos em 2024 foi o Peru. E o seu caso é bastante singular.>
Diferentemente da tendência regional, o maior impulsionador do aumento dos investimentos estrangeiros no país foram os aportes de capital, ou seja, a chegada de novos fundos do exterior. Já o reinvestimento de lucros e os empréstimos entre os bancos diminuíram.>
O Peru é conhecido como um dos grandes destinatários de investimentos estrangeiros, segundo Doyran, por ser uma das economias mais abertas da região — especialmente em áreas como a mineração, a infraestrutura e a energia, que contam com menos regulamentações do que outros países.>
Outro fator que contribuiu para o aumento de 57% dos IED (que chegaram em 2024 a US$ 6,8 bilhões, ou cerca de R$ 37,4 bilhões) foi a recuperação da mineração e dos preços globais das matérias-primas.>
Em 2024, o Peru anunciou três megaprojetos: a construção e operação de uma nova rodovia no contorno de Lima, o desenvolvimento de uma fábrica de produção de amoníaco verde alimentada por energia solar, na região de Arequipa, no sul do país, e a expansão da mina de cobre e zinco de Antamina, nos Andes peruanos — o anúncio mais importante do setor de metais desde 2019.>
No outro lado do ranking, os países onde os IED mais baixaram em 2024 foram a Argentina (-53%), o Chile (-32%) e a Colômbia (-15%).>
Na América Central, os investimentos estrangeiros aumentaram em todos os países. Um destaque foi o Panamá, que registrou crescimento de 36%.>
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