Publicado em 9 de fevereiro de 2021 às 09:32
- Atualizado Data inválida
As primeiras ações do governo Joe Biden em relação à proteção da Amazônia serão tratadas com diálogo e não devem envolver sanções contra o Brasil. >
Apesar da pressão da ala progressista do Partido Democrata e de ativistas que pedem medidas punitivas contra a gestão de Jair Bolsonaro, a ordem na Casa Branca é apostar em um plano colaborativo para a preservação da floresta, antes de aplicar qualquer punição ao país.>
A orientação de Biden é que o Tesouro americano, junto com o Departamento de Estado e as agências para desenvolvimento e cooperação internacional - nas siglas em inglês, USAID e DFC - desenvolvam um programa para a proteção da Amazônia, em parceria com o governo brasileiro e demais países interessados.>
Os auxiliares de Biden reconhecem que Bolsonaro diverge do democrata em muitos assuntos, principalmente sobre meio ambiente e direitos humanos, mas acreditam que o histórico da relação bilateral em outras áreas, como defesa e comércio, pode pavimentar o caminho para um possível entendimento.>
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"Na relação bilateral entre Brasil e EUA a diplomacia estará à frente para qualquer tema, incluindo a questão climática", afirma Kristina Rosales, porta-voz do Departamento de Estado americano.>
"Vai haver possibilidade de interagir com o presidente Bolsonaro e sua equipe para tratar desse desafio global e, dessa forma, incluir o conceito de diálogo para tratar problemas. Esse problema não é só do Brasil ou dos EUA, é algo que o governo Biden vai tratar como cooperação global. Vai ser um trabalho em equipe.">
Nas negociações, o time de Biden pretende sinalizar as preocupações do governo americano em relação aos gargalos do Brasil e não descarta medidas mais assertivas no futuro. Nada disso, porém, vai acontecer antes de haver conversas em vários níveis diplomáticos, na tentativa de formatar um plano sem grandes desgastes.>
"O objetivo é tratar desse tema diplomaticamente. Como o presidente Biden disse na semana passada, a política externa desse governo é baseada em ter conversas. Isso significa que nenhuma atitude será tomada sem conversa, porque isso não é diplomacia, isso é ser agressivo, e esse governo não tratará esse ou qualquer outro tema dessa forma", completa Rosales.>
A postura não agrada completamente aos ativistas ou à ala progressista dos democratas, que têm exigido atitudes mais contundentes contra o governo brasileiro desde a gestão de Donald Trump.>
O deputado democrata Don Beyer (Virgínia), por exemplo, é um dos que dizem que Biden precisa fazer "tudo ao seu alcance" para garantir que os parceiros comerciais enfrentem a crise climática.>
À reportagem Beyer afirmou que Bolsonaro precisa "superar sua decepção óbvia com o resultado da nossa eleição de novembro e adotar uma postura em relação aos EUA que reflita as novas realidades de Washington".>
Integrante da Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários da Câmara dos EUA e uma das principais vozes sobre o clima na Casa, Beyer assinou no ano passado uma carta com outros deputados democratas que diziam-se contrários ao fechamento de um acordo comercial mais amplo entre Brasil e EUA.>
"Devemos promover um relacionamento com o Brasil que avance os direitos civis, humanos, ambientais e trabalhistas. Qualquer parceria econômica deve demonstrar nossas prioridades nessas áreas - nas quais o governo Bolsonaro tem estado menos do que comprometido até agora. Como resultado, temos consistentemente nos oposto a novos acordos com o Brasil", completou o deputado.>
Na semana passada, diversas ONGs internacionais e acadêmicos de universidades americanas enviaram à Casa Branca um documento pedindo que Biden interrompa as negociações comerciais com o Brasil e retire o apoio dos EUA à entrada brasileira na OCDE caso Bolsonaro não respeite os compromissos ambientais e de direitos humanos.>
Nesta segunda-feira (8), a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o governo americano está olhando para o que acontece no Brasil, mas chamou a relação bilateral de vibrante, com 200 anos "de valores compartilhados", e destacou que os EUA vão fortalecer os laços econômicos com o país.>
Biden e Bolsonaro ainda não conversaram por telefone, e não há data para que isso aconteça. Já o secretário de Estado americano, Antony Blinken, deve falar com o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, nas próximas semanas para debater as prioridades da relação entre os países.>
Biden nomeou John Kerry, ex-secretário de Estado do governo Obama, como seu representante especial para questões climáticas, colocando o tema no centro de sua política interna e externa.>
Chamado de Czar do Clima, Kerry tem perfil diplomático e seus aliados dizem que ele já não tinha a intenção de entrar em choque com o governo brasileiro de saída.>
Mas isso não significa que não haverá cobranças. Uma das ideias é que haja um fundo de financiamento em troca do comprometimento com metas de preservação da Amazônia.>
Durante um debate eleitoral no ano passado, Biden já havia falado em criar um fundo de US$ 20 bilhões para combater o desmatamento da floresta, e citado consequências ao Brasil caso o governo brasileiro não tomasse atitudes contra a destruição da região. À época, Bolsonaro reagiu e disse que não aceitava suborno.>
Depois da posse do democrata, diplomatas e a ala militar do Planalto entraram em campo para tentar baixar a temperatura e abrir canais de diálogo com o governo Biden.>
O embaixador do Brasil nos EUA, Nestor Forster, diz que não há diplomacia nova diante das prioridades do novo governo americano e que é preciso "continuar o trabalho que já estava sendo feito, com interlocução na Casa Branca e no Congresso, além do setor privado e sociedade".>
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