Publicado em 9 de outubro de 2023 às 14:40
A classificação do grupo palestino Hamas como terrorista é um tema que divide a comunidade internacional.>
Países como Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália e as nações da União Europeia classificam o Hamas como uma organização terrorista. Em suas manifestações no final de semana - após os ataques do Hamas no sul de Israel -, praticamente todos esses países voltaram a chamar o Hamas de grupo terrorista.>
Já o Brasil e nações como China, Rússia, Turquia, Irã e Noruega não adotam essa classificação.>
Historicamente o governo brasileiro só aceita classificar uma organização como sendo terrorista se ela for considerada assim pela ONU.>
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É o caso dos grupos islamistas Boko Haram, Al-Qaeda e Estado Islâmico — consideradas organizações terroristas pela ONU e portanto também pelo governo brasileiro.>
Esse critério faz com que o Brasil não mude a sua classificação de entidades consideradas terroristas mesmo quando há alternância de poder em Brasília. Ao longo do governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), o presidente chegou a se manifestar em favor de classificar grupos como o palestino Hamas e o islâmico xiita libanês Hezbollah como terroristas — mas oficialmente o Brasil nunca mudou sua postura.>
No fim de semana, o Itamaraty emitiu duas notas sobre a violência no Oriente Médio — e em nenhuma delas o governo brasileiro menciona o Hamas.>
"O governo brasileiro condena a série de bombardeios e ataques terrestres realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza", diz a nota de sábado (7/10).>
O Brasil, que assumiu, por um mês, a presidência rotativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, convocou os membros do órgão para uma reunião de emergência no domingo. Após o encontro, o Brasil emitiu nova nota, também sem mencionar o Hamas.>
"O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas", disse o Itamaraty em nota.>
Mesmo sem classificar o Hamas como grupo terrorista, o Brasil já se manifestou contra o grupo na ONU.>
Em dezembro de 2018, o Brasil votou a favor de uma proposta dos Estados Unidos na Assembleia Geral da ONU que condenava o Hamas pelo uso de foguetes contra Israel, exigindo que o grupo renunciasse à violência.>
Em discurso na Assembleia na ocasião da votação, a embaixadora americana disse que o Hamas representava um dos "casos mais feios de terrorismo no mundo".>
O texto recebeu 87 votos a favor, 57 contra e 33 abstenções — e foi rejeitado por não ter alcançado dois terços de aprovação.>
As motivações de cada país para classificar uma entidade como terrorista ou não variam de acordo com os interesses e diretrizes da política externa de cada um.>
Há países que, além de não considerarem o Hamas um grupo terrorista, ainda oferecem apoio à organização.>
Segundo o Council on Foreign Relations (CFR), think tank americano sobre política exterior, países como Irã e Turquia oferecem apoio direto ao Hamas.>
"O Irã fornece apoio material e financeiro e a Turquia supostamente acolhe alguns dos seus principais líderes", afirma o CFR.>
A Noruega não classifica o Hamas como entidade terrorista. Em 2007, Oslo se recusou a boicotar o grupo palestino depois da vitória eleitoral do Hamas em Gaza. A Noruega tinha a intenção de mediar um processo de paz entre o Hamas e Israel, mas as tentativas nunca avançaram.>
Após os ataques do Hamas a Israel neste fim de semana, o governo norueguês criticou a ação do grupo palestino e disse que Israel tem o direito de se defender — mas não usou o termo terrorismo. Já países vizinhos, como Suécia e Dinamarca, foram explícitos em suas declarações contra o Hamas, chamando o grupo de terrorista.>
Rússia e China também não classificam o Hamas como grupo terrorista — e no fim de semana sequer mencionaram o grupo palestino em seus comunicados sobre a escalada de violência.>
O governo da China disse que "a principal solução para o conflito reside na implementação da solução de dois Estados e no estabelecimento de um Estado independente da Palestina".>
Já a Rússia disse considerar o episódio atual de violência "como outra manifestação extremamente perigosa de um círculo vicioso de violência resultante da crônica falta de cumprimento das resoluções correspondentes da ONU".>
Já para países como Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Canadá, Austrália e nações da União Europeia, o Hamas é considerado uma organização terrorista.>
Os americanos incluem o Hamas na sua lista desde 1997 — o que possibilita sanções a diversos indivíduos que participam ou realizam negócios com o grupo palestino.>
O governo do Reino Unido detalha os motivos pelo qual classifica o Hamas como organização terrorista.>
"O Hamas comete e participa no terrorismo. O Hamas utilizou ataques indiscriminados com foguetes ou morteiros e ataques contra alvos israelenses. Durante o conflito de maio de 2021, mais de 4 mil foguetes foram disparados indiscriminadamente contra Israel", diz o site do governo britânico que lista organizações consideradas terroristas.>
O Hamas é um grupo militante palestino que governa a Faixa de Gaza. O grupo fez um juramento para destruir Israel e substituí-lo por um Estado islâmico. O Hamas assumiu o poder em Gaza em 2006 e desde então entrou em diversos conflitos com Israel.>
Entre essas guerras, disparou ou permitiu que outros grupos disparassem milhares de foguetes contra Israel e realizou outros ataques que resultaram em mortes.>
Israel também realizou diversos ataques aéreos contra o Hamas e, juntamente com o Egito, bloqueou a Faixa de Gaza desde 2007.>
O Hamas — sigla para Harakat al-Muqawama al-Islamiya, que significa Movimento pela Resistência Islâmica — surgiu no final dos anos 1980 como braço político da Irmandade Muçulmana, organização islâmica fundada no Egito.>
O Hamas é rival político do grupo palestino Fatah, que controla a Cisjordânia. Em 2006, o Hamas derrotou o Fatah em eleições na Faixa de Gaza. Desde então, o grupo controla a região.>
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