Publicado em 26 de abril de 2025 às 19:39
Em 2020, Amy estava no auge da carreira como executiva de marketing em uma das maiores empresas de saúde do mundo, trabalhando sob constante pressão.
Ela estava organizando um evento quando, de repente, sentiu uma tontura. "Achei que estivesse desidratada ou talvez não tivesse me alimentado direito, mas aquela sensação continuou. Daquele momento em diante, tudo ficou meio confuso", conta.
Amy se lembra de ouvir constantemente um zumbido e disse ao marido que se sentia como se estivesse "enjoada e bêbada em um barco".
"De repente, me senti incapaz", lembra ela.
Amy precisou tirar uma licença médica e se afastou do trabalho por meses. "Minha saúde mental se deteriorou. Eu desmaiava no chuveiro, não conseguia cuidar dos meus filhos. Meu corpo estava dizendo: Pare!"
Cansaço mental, fadiga, falta de entusiasmo para trabalhar: os sinais do burnout são fáceis de serem ignorados, mas isso pode trazer sérias consequências para a saúde.
Foi só recentemente que Amy percebeu que estava vivendo um burnout. Havia sinais de alerta, como o fato dela trabalhar como se estivesse no "piloto automático".
Christina Maslach, professora emérita de Psicologia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, foi a primeira a usar o termo 'burnout' décadas atrás. Ela define como "uma resposta ao estresse crônico no trabalho que não foi bem administrado".
"Não é uma condição médica, portanto, não pode ser tratada dessa forma", ela explica.
A Organização Mundial de Saúde reconheceu o trabalho de Maslach na síndrome de burnout in 2019, descrevendo um conjunto de sintomas.
"Nós estamos trabalhando muito, de forma excessiva", alerta a professora Heejung Chung, diretora do Instituto Global de Liderança Feminina do King's College London.
"A cultura de estar 'sempre ligado' que se desenvolveu com a digitalização está aumentando os níveis de burnout – os trabalhadores não conseguem se manter longe, físico e psicologicamente, do trabalho."
Chung alerta que o burnout é um problema global, com alguns países relatando que mais de 70% dos seus trabalhadores são afetados. Também é caro, custando para a economia do Reino Unido mais de 102 bilhões de libras (R$ 772 bilhões) ao ano, de acordo com uma pesquisa feita em 2024 pela empresa de seguros Axa.
Em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout no Brasil — maior número dos últimos dez anos, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social.
O aumento ocorreu principalmente durante a pandemia. De 178 afastamentos por burnout, em 2019, o Brasil passou para 421, em 2023, um crescimento de 136%.
Uma das principais causas do burnout é o estresse crônico no trabalho, onde, com frequência, as situações estão fora do nosso controle. Uma pesquisa realizada em 2020 com 20 mil trabalhadores alemães revelou que 60% deles tinham demandas multitarefas, 48% sentiam pressão de tempo e desempenho, 46% lidavam com interrupções no trabalho, enquanto 34% relataram trabalhar em ritmo acelerado.
Apesar de o burnout ser geralmente associado ao trabalho remunerado, pesquisadores tem encontrado, com frequência, casos de burnout em estudantes, pais e cuidadores. A psicoterapeuta Claire Plumby destaca que isso afeta, principalmente, as mulheres.
"A maior parte da carga dessa dupla jornada de trabalho recai sobre as mulheres", afirma.
Além do cansaço, os especialistas apontam outros dois sintomas que podem indicar um burnout e não apenas exaustão: o desprezo cada vez maior ao trabalho que você está fazendo, e uma visão negativa de si mesmo.
Plumbly explica que você pode nem perceber esses sintomas aparecendo no trabalho. Por exemplo, em termos de produtividade, ela destaca situações como "o professor escrevendo um plano de aula de 'uma linha' ou você deixar de se preparar para reuniões e apresentações".
Muitas pessoas sonham acordadas com uma forma de escapar daquela situação.
"Você pode ter pensamentos de escapismo, fantasias de alguém assumindo todas as suas responsabilidades. Já ouvi pacientes dizendo: 'Eu gostaria de pegar covid'", conta.
A professora Sabine Sonnentag pesquisou a capacidade dos trabalhadores de se desconectarem de trabalhos com altos níveis de estresse ao final do dia.
Ela descobriu que os trabalhadores que "se desligam mentalmente do trabalho depois de enfrentar muitas demandas" têm menos chance de passar por situações de exaustão emocional e burnout.
Plumby recomenda procurar uma pessoa com quem você possa conversar para que ela "possa te mostrar uma luz no fim do túnel". Não precisa ser um psicólogo, pode ser um amigo ou colega.
"Contrariando a crença popular, você não precisa fazer mudanças drásticas na sua vida, como deixar seu emprego, para se recuperar de um burnout", afirma Claire Ashley, autora do livro The Burnout Doctor (Doutor Burnout, em tradução livre). Em vez disso, ela sugere focar em três áreas: controle sobre seu trabalho, seu bem-estar e a construção de uma rede de apoio ao seu redor.
Para entender o que está sob o seu controle, Ashley recomenda fazer o exercício online da Esfera de Controle de Stephen Covey, que ajuda as pessoas a identificar aquilo que elas realmente podem mudar.
O exercício, proposto pelo escritor norte-americano Stephen Covey, traz perguntas como: "Se eu não posso controlar ou mudar isso, posso aceitar?"
Ela também cita o trabalho de Russ Harris, médico e psicoterapeuta, que propõe analisar situações desafiadoras a partir de três opções: sair, ficar e viver de acordo com os seus valores, ou ficar e desistir de agir de forma eficaz.
Embora essas opções tenham sido desenvolvidas para melhorar a saúde mental das pessoas em momentos difíceis (Harris trabalhou extensivamente com a Organização Mundial da Saúde em campos de refugiados), Ashley diz que esses princípios também podem ser usados durante a recuperação de um burnout.
"Identificar seus valores é a quarta etapa no processo de recuperação de um burnout, e é fundamental fazer isso, pois cada decisão que você tomar a partir daí precisa estar alinhada a esses valores", explica.
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